Dizendo que Te Amo [✓]

6.A cabeça do Scorcese e o colar de pérolas

"Não posso levar o mundo nos ombros se mal suporto o peso do meu casaco de inverno." – Franz Kafka

Cecília

- Você não vai fazer com que eu me vista de alguma comida gigante, certo?

- Se você gosta de Tá Chovendo Hambúrguer ou de desenhos do Cartoon Netwoork no geral, por que não? – Ananda rebate, concentrada na estrada.

Reviro os olhos.

- Não. – Ela continua. – Você só precisa encontrar uma fantasia que remeta minimamente a algo da sétima arte. E acredite: as opções são infinitas. Mesmo em Siena. Estamos indo na melhor loja de fantasia da região.

- Em Siena?

- Eu acabei de dizer. – Ela resmunga. – Ugh. Desculpe. Ainda não tomei minha dose de café diária.

- Sem problemas. – Digo a ela. Em seguida, tomando isso como deixa, agarro seu copo térmico e de forma cômica a ajudo a tomar café enquanto dirige.

- Essa é a terceira festa anual do clube e aposto que vai ser muito bacana. Gabriel e eu não vamos...

Quando já estou pronta para perguntar o porquê, Ananda me interrompe:

- ...Não estou no clima para ser a tia de ninguém esse fim de semana.

- Mas você nem é professora.

- Quando se está numa casa com cinquenta ou mais adolescentes descontrolados você automaticamente se torna uma tia.

Nossas risadas ecoam pelo carro fechado. O dia estava beirando a chuvoso e tudo parecia pacificamente quieto lá fora.

Sinto seu olhar sobre mim por meio segundo. Sei que ela está tomando coragem para me perguntar algo. Aguardo até que ela questiona:

- Acha que ele te chamou como num encontro?

- Quem?

- Quem mais? Eduardo.

Recuo no meu assento do carro. Pondero sobre sua pergunta.

- Eu não...sei. Mas no fim das contas não vai ser. Não se ele precisa cuidar dos "pupilos" como você diz.

Ananda solta uma risada debochada.

- Ele é tipo um dos professores favoritos da galera. Por Deus, por pouca coisa ele não é um aluno em si.

Tento pensar no Eduardo que conheço, o meu Eduardo dos jingles irritantes no violão e que consegue comer cinco hamburgueres de uma vez, sendo o professor favorito de adolescentes.

- Por incrível que pareça isso não significa puxação de saco. – Ananda continua. – Ele apenas...se mistura. Pelo menos é o que o Gabriel me diz.

- Se mistura.

- Eles realmente levam isso a sério, sabe? Os alunos que organizam a festa.

- Claro. Porque não levar a sério um clube chamado Cineasta Sem Cabeça...- Digo num tom de sarcasmo. – Afinal, qual é a do nome?

Ananda sorri presunçosamente como se guardasse um segredo muito bom.

- Infelizmente tem muito mais graça para quem estava lá.

Mesmo assim me ajeito no banco do passageiro para ouvir sua narrativa.

- Eles têm essa estátua. – Ela diz, mantendo os olhos a frente. - De algum diretor famoso. Sinceramente agora poderia ser qualquer um. Enfim...Logo nos primeiros dias estavam fazendo testes para uma releitura daquele filme com uma lua horrível e um foguete.