𝓬𝓪𝓹𝓲𝓽𝓾𝓵𝓸 54

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Fiquei apenas ali, encolhida, esperando que alguma coisa acontecesse e me tirasse daquele sofrimento.

Nesses dias em que passei aqui foram uma tortura principalmente a noite. Não dormia direito por escutar qualquer ruído e achar que fosse Bjorn querendo me usar como propriedade dele novamente. Antes para dormir deixava as lamparinas e velas acesas, porém agora, era impossível dormir.

Mas em uma das vezes que o gás foi liberado, passei a sentir uma dormência por todo o corpo, na qual não sentia antes. Eu não duraria muito tempo se continuasse assim, em breve eu morreria e todo plano dela iria cair ladeira abaixo.

Entretanto parece que ela havia percebido o que estava acontecendo pois resolveu dar as caras com aquele sorriso cínico.

- E então, como se sente? - não respondi apenas continuei a encarar o chão. - Deixa eu adivinhar, dormência nas pernas, sem vontade alguma de comer, sonolência, dor de cabeça... O que mais?

- Vai continuar me diagnosticando como se fosse curandeira? - debochei.

- Olha, pensei que a perda da fala também fosse um sintoma, mas me enganei. - bufei para ela. - Lua, se você me desse seu poder assim como eu pedi, não estaria passando por isso. Não estaria aqui sendo perturbada por Tarsila ou Bjorn. - ela usava um tom falso de acolhimento. - É claro que estaria morta, mas veja bem, não estaria sentindo dor. Não estaria vendo seus amigos de orelhas pontudas sendo enganados por você.

- Está perdendo seu tempo se acha que vai me fazer dar os meus poderes para você.

- Está bem, eu entendi isso. Mas vim aqui perguntar, o que mais será preciso para que você me entregue eles, hã?

- Talvez se você se matasse, eu pensaria no caso. - sorri para a mesma.

- Que princesa mais divertida! Onde aprendeu a me responder? - ela sorria e gargalhava como se tivesse contado uma piada. - Já que não irá me contar, vou descobrir uma forma de te fazer me entregá-los. Nem que eu traga todos esses feéricos até aqui e os mate um a um na sua frente. Você, minha querida, irá me dar seus poderes.

- Já te disseram que eu odeio perder? - encarei aqueles seus olhos vermelhos cheios de raiva.

- Já. - ela passou a se afastar virando as costas. - Mas lembre-se que está jogando comigo. E eu também odeio perder.

E assim seus saltos voltaram a fazer barulho pelo piso.

Eu estava perdida. Queria chorar mas nem lágrimas a mais eu tinha depois de passar boa parte desses cinco dias chorando.

Talvez eu realmente devesse entregar meus poderes, mas se eu os entregasse, ela mesmo assim teria capacidade de destruir esse mundo. Precisava arrumar uma forma de tirar essa sua capacidade, de matá-la. Porém quando se está com as mãos acorrentadas e presa em um cubo é difícil conseguir alguma coisa.

Já estava começando a anoitecer quando Tarsila saiu do seu local de guarda como todas as vezes. Me virei com dificuldade por conta das correntes e passei a encarar aquele trono.

Parecia confortável pelo estofado velho vermelho mas ao mesmo tempo era sombrio como se a alma de alguém ainda estivesse alojado naquele trono. O tipo de lugar que apenas alguém como Amarantha conseguiria se acomodar e ver pessoas sofrerem por puro prazer. Talvez sua alma ainda esteja aqui, ainda assistindo o que ela ainda estava fazendo mesmo morta, o que a filha patética é capaz de fazer por um trono.

Não conheci Amarantha, mas não tenho certeza se ela chegou a dar afeto para Tarsila. Imagino que Tarsila sinta falta de carinho materno e acabou colocando qualquer um, que demonstrasse o mínimo, em um pedestal.

Isso vai a prejudicar e eu sei disso. Porém não sinto pena.

Enquanto meus olhos se fechavam, um brilho claro surgiu na minha frente me assustando. Era uma carta. Meu coração inchou e sentia meu estômago revirar. Arrastei a carta a um canto um pouco mais escuro porém ainda possuía uma certa iluminação.

Estava com as mãos amarradas mas aquilo não me impossibilitou de abrir a carta - com os dentes aliás. Percebendo que a letra era de Estela me peguei sorrindo para o papel.

"Não sei se vai poder me responder, mas saberemos onde está assim que ler a carta, e não se preocupe, vamos encontrar você independente de onde esteja. Estamos com problemas, monstros estão atacando a aldeia dos humanos e a Corte Invernal. Ainda estamos tentando manter tudo sob controle, mas acaba sendo difícil quando aquela que disse ser você nos fez perder tempo treinando. Espero que esteja bem e caso não, aguente firme que estamos indo."

Eu estava em prantos quando a carta desapareceu no ar. Eles haviam entendido a farsa. Agora eu poderia sair daqui e ajudar em vez de apenas assistir a ruína se espalhar.

Algo dentro de mim sorria em alegria e euforia, mas logo desapareceu assim que o gás foi liberado me fazendo dormir.

(...)

Algo estava acontecendo, mesmo não sentindo mais o cheiro do gás sufocante, não conseguia me mexer. Minhas pálpebras estavam pesadas e meus dedos, mesmo me esforçando,  não se moviam, mas os sentia livres das algemas.

Eu estava paralisada.

De repente sinto mãos me carregando. Era braços finos no entanto fortes o suficiente para que eu percebesse que a pessoa estava correndo. Tentei me mexer ou gritar mas era impossível.

Até que a pessoa resolveu parar depois de um certo tempo e meu corpo ser pousado em algo extremamente gelado. Tentei entender o que era me concentrando em cada centímetro do meu corpo. Era neve. Não estava mais Sob a Montanha, mas aparentemente estava deitada na neve.

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

𝓒𝓸𝓻𝓽𝓮  𝓛𝓾𝓷𝓪𝓻  • acotarOnde histórias criam vida. Descubra agora