Capítulo 2

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" Holofotes fortes, purpurina e o sorriso dessas minas só me lembra a cocaína".

—Pitty e Emicidas ( Hoje Cedo)

Sofia

Senti o metal gelado tocar meu pescoço e suas mãos fortes puxarem meus cabelos, conseguia sentir sua mão soada deslizando sobre minha nuca e os fios dos meus cabelos caindo sobre minhas costas, a risada alta e estridente tomando conta do ambiente, enquanto o bebê em minha barriga chuta sem parar.

Por favor eu disse nervosa.

Meu corpo todo está tremendo e como temo pelo ser que cresce em meu ventre. Demorei tantos anos para conseguir engravidar e essa criança é a minha alegria e a de Caio. Estamos esperando ansiosamente por esse bebê.

Leve o que quiser, posso passar as senhas do cofre e retirar o dinheiro do banco. Só não me machuque.

Shiuele me vira de frente para ele e passa as mãos pelo meu cabelo Ninguém tinha me falado o quanto tu é perfeita, olha para ela ND.

Pesadelo, deixa a dondoca em paz e vamos fazer o que viemos fazer.

Não posso perder a oportunidade de saber como deve ser a buceta dela, tão branquinha, criada a leite de pera pow. Olha esses cabelos loiros e o cheiro irmão? Delícia.

O tal Pesadelo foi sorrir para seu comparsa e eu aproveitei para correr, precisava chegar até o andar de cima, assim conseguiria pegar meu celular e ligar para Caio, que está trabalhando até tarde e dessa forma ele vai poder me salvar. Mas, quando comecei a subir os degraus senti suas mãos puxarem meus cabelos me fazendo cair de bunda pela escada. Que dor terrível me invadiu e o tanto de sangue que ficou a minha volta, as lágrimas escorrendo e a oração que fiz baixinho. Conseguia escutar a risada de Pesadelo ecoando na sala.

Vamos chamar uma ambulânciaND falava nervoso.

Pega o dinheiro e vamos rapar fora. Deixa ela sangrar até a morte.

Pesadelo.

Qual é? Quer que eu estoure seus miolos e te deixe ai para morrer com ela?

Sofia, Sofia escutava uma voz me chamando.

Abri meus olhos assustada e percebi que estava toda molhada de suor, passei a mão pela barriga e já não havia nada. Malditos assaltantes. Senti o olhar frio de Caio sobre mim e me encolhi na cama.

— Estava tendo pesadelos de novo?!— ele disse cansado.

Seu olhar que antes era de ternura e amor, se transformou num misto de raiva e cansaço. Nos primeiros meses ele tinha paciência, mas depois que mais de um ano se passou e os pesadelos continuaram ele mudou. Minha certeza é que eu ainda tinha eles, pelos culpados não terem ido preso, por eles estarem livres, enquanto o meu filho está enterrado a sete palmos do chão.

— Sabe que não consigo controlar.

— Por isso, nunca deve deixar seus remédios de lado.

Ele estendeu uma bandeja com um copo de água e vários comprimidos. Para depressão, ansiedade e crise do pânico. A mulher que um dia eu fui, sei que nunca voltarei a ser e mesmo que uma parte do Caio, esteja exausta, agradeço por ele ter escolhido ficar do meu lado.

— Vá ao jardim hoje, você precisa tomar um pouco de sol e ganhar algumas vitaminas.

Ele passou a mão pelos meus cabelos e me encarou.

— Eu te amo — disse firme e como eu o amo, ele é tudo que me sobrou da vida que sempre sonhei.

Ele abriu um sorriso e fez um gesto para que eu me deitasse.

— Boa menina — ele disse após me cobrir e dar um beijo na testa.

— Você poderia ficar aqui comigo?

— Preciso trabalhar Sofi, sabe como o seu pai é.

Eu sabia, meu pai um empresário de sucesso e estimado no mundo dos negócios. Caio começou como seu assistente e acabamos nos casando. Pode apostar que meu pai odiou cada minuto dessa ideia e ele sempre deixa claro isso. Meu marido se dedica muito para impressionar meu pai e me deixa com a Marta, uma enfermeira que ele contratou para cuidar de mim. Ela é um amor de pessoa e o Caio a suporta, ele tem receios por ela morar no Complexo da Maré, um lugar que ela diz ser comandado a pulso firme por um tal de TG. Quando ela começa a contar suas experiências, o Caio se estressa e sai de perto. Além da Marta, do meu pai e do Caio, eu também tenho a Aline. Minha melhor amiga, quando perdi o bebê ela passou a dormir aqui em casa todas as noites e céus, não sei como consigo morar ainda nessa casa. Meu pai acha que eu devia me separar e começar uma nova vida, mas como posso fazer isso se o Caio é a minha vida? Ele sempre esteve aqui, mesmo que não na sua melhor versão. O sonho da vida dele é me ajudar a cuidar dos negócios do meu pai e como eu posso deixar quem eu mais amo. Fechei meus olhos, tentando buscar o sono, mas sempre que eu fecho imagens daquela noite vem. Ou até mesmo coisas que me pertubam, como todo o difícil e extenso tratamento para fertilidade. As cenas em que Caio e eu brigávamos, por ele querer ser pai e eu não ter controle sobre o meu corpo. É tão frustrante toda essa situação e mesmo que eu tente remar para sair disso, sinto que cada vez estou me afundando mais e isso me destrói. Ao perceber que não vou conseguir dormir levanto da cama e sinto minha cabeça rodar, abro a porta do quarto devagar e vejo Caio e Aline parados um em frente ao outro e acabo sorrindo. Eles se aproximaram tanto, cuidam um do outro e são amigos como um dia eu pedi. Meu marido passa as mãos pelos cabelos de Aline e ela o olha com tanta ternura, imagino as noites que eles passaram se preocupando comigo. Fecho a porta novamente e me deito na cama, como meu corpo pesa, como esses medicamentos são pesados. E como tenho sorte em ter aqueles dois na minha vida.

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