Capítulo 4

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Ter um irmão com quase a mesma idade é conhecer o pior e o melhor de si mesmo através dos ataques do outro. E Pedro e Cláudio se atacaram muito, foram crianças criadas em interior, com cachorro, gato, galinha, lago, corda e pais muito severos, que não davam conta das aprontações dos filhos.

Cláudio era gozador, fazia bagunça sabendo que ia se dar mal e, na maioria das vezes, jogava a responsabilidade no irmão mais novo, que era mais calado. Pedro era dessas crianças que fazem bagunça sem chamar a atenção e por ser mais sério e mais calado, suas atitudes geralmente eram mais perdoadas pelos pais.

Os pais, já falecidos, moraram a vida inteira nos arredores da cidade do Serro, tinham aquele jeitinho mineiro de viver, da conversa com o vizinho no fim do dia, da quitanda que eles faziam no forno de barro, da comida quentinha do fogão a lenha. Eles tinham pavor da ideia de morar fora de lá, assim cabia aos filhos ir vê-los sempre que podiam. Pedro adorava a cidade que era famosa por causa do queijo e da importância histórica das suas construções, mas, para ele, era importante por carregar uma parte da sua própria história de vida.

Ter os dois filhos formados em faculdade e ingressando no serviço público foi a maior de todas as realizações dos pais. Eles se orgulhavam muito dos dois e falavam para todos da vizinhança sobre os filhos formados e policiais.

A mãe se preocupava mais com Cláudio, o filho mais velho e mais assanhado, que todo dia trazia uma moça diferente em casa. Encontrar a Andréia foi um sossego, a moça era brava, dava bronca nele e ele se divertia com isso, mas o que eles mais gostavam nela é que ela comia tudo que era servido, repetia, elogiava e ainda saía carregando uma marmita para o dia seguinte. Porque, para agradar um mineiro, é necessário comer tudo o que tem na mesa.

Foi a Andréia quem providenciou tudo para o enterro dos pais de Pedro quando faleceram em um acidente de carro. Estavam indo para Belo Horizonte visitar os filhos e um caminhão sem freio determinou o destino dos dois. Foi terrível para os irmãos perderem pais tão amorosos. A vida ficou cinza. Eles demoraram a se recuperar. Andréia segurou bem a situação, conseguiu manter os irmãos unidos e ainda o fazia.

Pedro também adorava a cunhada. Ela combinava com Cláudio, eles se completavam. Ela era uma mulher ativa, forte, que ajudava a impulsionar Cláudio, que apesar de brincalhão era muito acomodado.

— Oi, querido! — Andréia cumprimentou Pedro com um beijo carinhoso no rosto e fez um gesto para que ele entrasse. — Vai lá ajudar o Cláudio, senão não comemos hoje.

Cláudio adorava fazer churrasco, mas se enrolava tanto com os preparos que o almoço acabava saindo tarde demais, sempre. Pedro entregou uma sacola com a sobremesa, um sorvete comprado em uma padaria próxima à casa dele e foi ajudar o irmão. Eles moravam em uma casa pequena, em um condomínio fechado, de casas geminadas, com um quintal na parte de trás, onde Cláudio construiu uma área com churrasqueira e uma pequena cozinha. Um lugar que ele gostava de chamar de "Refúgio do Capitão", causando uma risada geral a cada vez que falava.

Andréia estava grávida e já apresentava uma barriga grande e redonda e um caminhar lento. Assim como o marido, ela era policial, ambos eram capitães da polícia militar, como estava grávida, agora ela trabalhava dentro do quartel, na administração. Mas não se engane Andréia, era valente; na turma de tiro, ela era a melhor e muitas vezes derrotou seus parceiros em aulas de luta.

— E aí, capitão? — Pedro sorriu ao ver o irmão descalço, em um jeans velho, camiseta branca surrada, enrolado em um avental de couro, parecia um profissional.

— Fala, companheiro. Chegou a tempo de abrir uma gelada. — Ele apontou para a geladeira de porta de vidro repleta de bebidas.

Pedro abriu cerveja uma e passou outra para o Cláudio, Andréia veio com um saco cheio de pão e eles se sentaram para conversar. Andréia se deliciava colocando pequenos pedaços de carne dentro de um pão cortado ao meio, com uma colherada de maionese e enchendo um copo de refrigerante bem grande e cheio de gelo. Pedro pensou que a cunhada estava descontrolada com a gravidez, ela nunca foi tão gulosa. E ela comia como se fosse a coisa mais gostosa do mundo aquele pão.

Aventura  ***DEGUSTAÇÃO***Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon