ii. a drink in hell

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UM DRINK NO INFERNO


— Atenção, atenção!

— Meu pau na sua mão.

— Porra, Cook.

Miranda deu um tapa na nuca do homem sentado ao seu lado, antes de se levantar da cadeira e se apoiar no balcão do bar. Cook e Angel, sentados em cadeiras, a encaravam como uma plateia. Como Sven fechara o bar temporariamente por aquela manhã, apenas para que Miranda fizesse seu planinho mirabolante, ela se sentia como um grande chefe do crime dando ordens ou alguém dando uma palestra — no caso, estava apenas falando no meio de um bar vazio, e seu público eram dois caras desinteressados, mas que de certa forma fariam o que ela dissesse. Bom o suficiente.

— O Sven me colocou no comando hoje, então isso significa que eu faço as regras. — Trinket estava radiante, nem tentando esconder o sorriso no rosto. — Nós vamos conduzir uma operação arriscada de reconhecimento.

Não, Sven não a colocara no comando, mas ele tinha lhe dado uma certa liberdade para traçar um plano. Um plano de acordo com as diretrizes dele, sim, um plano que ele tinha que aprovar, sim, mas um plano dela, porque era Miranda que entendia de roubar pessoas.

— Por sinal, a gente vai roubar um diamante.

— Caralho?

Cook, que segurava uma latinha de refrigerante, cuspiu a bebida.

— Eu não falei pra vocês?

Não, não falou, pelas reações de Cook e Angel — que murmurava um "pelo menos não é cerveja" para o amigo surpreso e molhado de refri. Miranda bufou.

— É o seguinte: tem esse maluco que roubou um diamante, e ele tá em Londres. Supondo que ele é londrino, é burro e é criminoso, ele vai aparecer aqui hoje. Nenhum cara desses iria perder a única promoção do Sawyer's em uns dez anos e uma chance incrível de se embebedar e contar vantagem.

— Como você garante que ele vai querer contar vantagem?

— É claro que ele vai contar vantagem!

Miranda se sentia uma pequena gênia do crime, sorrindo e gesticulando de cima da bancada do bar. Angel e Cook, por sua vez, pareciam apenas vagamente interessados; o primeiro tinha os braços cruzados, tentando entender a linha de raciocínio que a garota iria seguir; o segundo resmungava sobre seu moletom molhado e como ele iria sair no frio da porra de Londres.

— Então, eu vou explicar pra vocês o plano.

Apesar do entusiasmo de Miranda — ou então especialmente por causa do entusiasmo de Miranda — Angel tinha suas dúvidas.

Vejamos bem, a coisa de Angel nunca fora roubar, ou cometer os crimes per se — ignoremos o fato de que ele literalmente trabalha para um agiota, luta em lutas ilegais e se beneficia do dinheiro —, portanto roubar algo estava um tanto fora do seu planejamento para a semana. Roubar um diamante, especialmente. Ele ainda não entendera como exatamente seria parte da ação, porque geralmente seu papel era mais... sorrir e acenar? Fazer cara feia e assustar os devedores como um grande cachorro bravo? Derrubar um adversário com um gancho de direita? Isso, não uma missão de reconhecimento ou qualquer diabo que Miranda estivesse inventando. Mas ele engoliu as dúvidas por um minuto, pelo menos — era dinheiro, era no bar, era Sven. Se tinha uma pessoa em quem ele confiava para que aquilo desse certo, esse era Sven.

Cook, por sua vez, parecia tranquilo. Levemente irritado pelo moletom, mas tranquilo. Porque, e ambos os homens foram percebendo ao longo da explicação, era terrivelmente simples. Se baseava em algumas suposições, sim, alguns pontos arriscados, mas o que não é um risco quando se vive de crime em Londres? E, principalmente, cada um deles faria o que faz de melhor. Angel não precisaria nem sair de seu trabalho como pseudo segurança particular, e Cook ficaria em seu hábitat natural, a mesa de apostas. Miranda podia ser meio lelé da cabeça às vezes, mas nesse quesito, ela sabia o que estava fazendo.

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