CAPÍTULO XI

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Os ares haviam se renovado.

Percebo com cada vez mais clareza que a conversa com Mathias e Arabella era algo extremamente necessário que eu sequer havia percebido. A mudança de ambiente era quase palpável, como se a vida houvesse voltado de verdade aos olhos deles.

Mathias estava ainda mais bonito do que já era, seus sorrisos constantes evidenciavam rugas nos olhos que eu jamais havia notado. Os olhos azuis brilhantes como os de Arabella e, aos poucos, um repertório crescente de piadas bem humoradas saia de sua boca.

Arabella, por sua vez, estava radiante. Sua luz já era intensa demais para uma pessoa comum, mas agora a felicidade e êxtase que eram facilmente identificados em seu semblante brilhavam tanto que atraía olhares de todos sem nem mesmo entenderem o por quê. Eu conseguia imaginar como Mira seria, olhando Bella sorrir daquela forma, e entendia porque Mathias se apaixonara por alguém assim.

Mathias havia voltado atrás e me permitido ir à Universidade, sob a condição de que Hamis prometesse a ficar de olho em mim e ligar para ele por qualquer sinal de mal estar como o daquele dia. Depois de muitas discussões os dois homens se acertaram e eu estava neste momento a caminho do meu primeiro dia na Universidade de Imst.

Mathias dissera que não fora nem um pouco difícil me recomentar, bastou mostrar exemplos de todo meu processo de alfabetização para que a reitoria me aceitasse de braços abertos. E ele recebera a oferta de lecionar lá, e depois de muita insistência de minha parte, finalmente prometera refletir sobre a oferta.

Isso, de forma alguma, queria dizer que Mathias havia se recuperado. Ele estava apenas começando a seguir em frente, finalmente via esperança e motivação para recuperar todos aqueles anos afundado na melancolia: viver.

- Aria, celular ligado. – diz ele, me lançando um olhar penetrante rapidamente, antes de voltar o olhar para a estrada. – E por favor, se desconfiar que vai desmaiar, me ligue.

- Tudo bem, tudo bem, pai. – digo, saboreando a palavra nova em meu vocabulário, e recebendo um sorriso radiante em resposta. – De qualquer forma, Hamis estará lá.

- Sim, estará. E eu não quero que ele precise te salvar de novo. – retruca Mathias com uma careta que me faz rir. – E lembre-se, filha, todos os homens são lobos. – diz ele de forma tensa, como se estivesse revelando um dos segredos do mundo.

- Isso te inclui? – pergunto, erguendo uma sobrancelha cética.

- Mas é claro. – ele dá de ombros. – Mas sou um lobo aposentado, sedentário e gordo. – adiciona rindo.

- Certo, certo. Todos os homens são lobos. – repito como um mantra, achando engraçado a ironia dele achar que homens poderiam ser uma ameaça em potencial para mim. – Mas por que os homens são lobos? – pergunto por fim, percebendo que não havia entendido o que aquilo significava.

Mathias me lança um olhar engraçado, como se não quisesse continuar aquela conversa, mas como continuei olhando-o fixamente; apenas suspirou.

- Os homens viram animais selvagens quando veem garotas bonitas. – diz ele da forma mais simples possível. – E você, minha querida, é a mais linda de todas.

Rio com o elogio e balanço a cabeça. Eu não era uma assassina.

Ah não ser que, fosse expectadora de algo imperdoável.

- Certo. – digo lentamente, com as sobrancelhas franzidas. – Acho que entendi. Mais ou menos. – acrescento, fazendo-o rir.

- Apenas fique longe de todos os machos. – diz ele por fim. – Inclusive Hamis, se puder evitar. – acrescenta, estreitando os olhos, que estavam fixos na estrada.

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