cinquenta e cinco

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Algumas vezes eu lembro fragmentos sobre você.

Eu me lembro do formato dos seus ombros, como eram largos e como podiam carregar o peso mundo e, ao mesmo tempo, me carregar junto. E você me carregava para cima e para baixo até os sete anos como um acessório sorridente e brilhantes no qual as pessoas iriam apontar com graciosidade.

Apontar. Você fazia muito isso.

Nas raras viagens de carro para o Sul, você apontava cada placa na estrada, me incentivando a recitar o que estava grafado em letras garrafais brancas quando eu estava aprendendo a ler.
Você apontava para as montanhas que coloriam as planícies dizendo que haviam espécies de animais escondidas em cada uma e que deveríamos respeitar seus lares, mesmo que não vivêssemos nele. Que um homem poderia perder tudo o que tinha, menos o respeito por cada indivíduo ao seu redor.
Você também apontava para as ondas do mar quando íamos à praia nos dias de domingo, dizendo que elas nunca pareciam se cansar de fazer um trabalho tão bonito quebrando na costa, entre os pedregulhos. O engraçado, eu vejo, é que você conseguia ver beleza até nisso: na forma onde não havia nada além de espuma branca colorindo seus pés depois do belo ter fim injusto. Mas você dizia que o fim parecia ainda mais bonito que o começo, então estava tudo bem.

Eu aponto, agora, para uma roda gigante brilhante e que parece tocar o céu acima da minha cabeça tão perdida. Eu tenho alguém nos meus ombros, exatamente como você fazia comigo, apesar de não conseguir levar o mundo como você, porque eu ainda sou tão jovem e tolo. De alguma forma, eu também não desejo que isso se quebre como as ondas do mar, porque eu ainda sou jovem, tolo e egoísta. Eu seguro sua mão na minha e aperto seu cinto de segurança, pensando que eu faria de tudo para que aquilo também estivesse no meu controle. Eu pisco os cílios como uma memória agridoce, aplico a mesma força que você erguia meu indicador, e aponto para as estrelas pontilhando o céu noturno, nomeando as que eu ainda recordava. Naquele momento eu não sabia, mas o céu era exatamente o mesmo do dia que você me explicou sobre as constelações com um telescópio e disse que o universo foi feito para ser visto através dos meus olhos. Ursa Maior. Ursa Menor. Órion. Cassiopeia. Cão Maior. Pegasus. Andrômeda. Aquila. Tantas outras que nunca vi, mas sonhei como uma promessa que não podia ser quebrada. Desejei sutilmente ser astrônomo aos dez anos e disse em voz alta no quarto tão pequeno, acreditando que sua risada trêmula fosse tudo que eu precisava.

Mas eu também precisava do fôlego que escapou dos meus lábios quando ela disse que, um dia, iria buscar uma estrela somente para mim, porque o universo era grande demais e não iria ficar chateado se o fizesse por um bem maior.

Breaths Away from Myself by Styles, Edward.Where stories live. Discover now