Desejos à meia-noite

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Por um momento, meu corpo inteiro congelou. Não consegui acreditar, era algo impossível demais para ser verdade.
Olhei para trás e lá estava, com um vestido de seda branco até os joelhos, uma sapatilha da mesma cor, os cabelos castanhos agora com grandes cachos livres em suas costas e o mesmo e maravilhoso sorriso estampado no rosto. Celeste.
Os minutos iam se passando, o choque daquela visão ainda me abalava, por um momento pensei ser um sonho, se fosse, eu odiaria acordar.
Me levantei, usando alguns galhos como escora. Ela me seguia com o olhar, agora o sorriso se fechara, deixando-a com um ar apreensivo.
_ Vo-vo-você?
_ Oi Adam.
A voz dela, tão doce, tão gostosa de ouvir me fez crer que aquilo não era um sonho.
_ Mas, como? É impossível. Você mor... - não consegui terminar essa palavra, em parte por que também não acreditava ser verdade.
No dia da "morte" de Celeste, ela estava viajando com os pais e o irmão, pelo que eu fiquei sabendo, eles pararam próximos a um rio pois o pai de Celeste precisava fazer um telefonema. Todos desceram do carro, e quando o pai terminou a ligação, Celeste havia desaparecido.
Não havia lugar onde ela podia ter se escondido, então eles suporam que ela tivesse entrado no rio e como não era boa nadadora, se afogara sem que eles percebessem.
O mistério nessa história é que não havia sinal do corpo de Celeste. Mergulhadores fizeram vistorias no rio pelo menos umas dez vezes, mas nada de corpo. Então criaram a história de que algum animal, possivelmente uma cobra bem grande, comera o corpo da menina.
_ Você sabe que não, Dam. - ela sorriu e se aproximou. O cheiro dela era embriagante. - Dentre todas as pessoas, você é o único que sabe para onde eu fui.
Vasculhei as lembranças mais antigas de minha vida, lembranças que eu tentava esquecer e qualquer custo.
_ Eu vou te ajudar, eu começo e você termina, OK? - Celeste falou agora tão próxima a mim que eu podia sentir sua respiração.
_ "Eu sei que existe um lugar, bem atrás do que podemos ver, um paraíso talvez. E eu acredito...
De repente um flash tomou-me de surpresa. Era uma noite como essa, o céu muito estrelado, a Lua no centro exato do céu, nós dois juntos, mas com 10 anos de idade. Celeste olhava para o céu e repetia a mesma coisa pra mim, o sonho constante dela: Eu sei que existe um lugar, bem atrás do que podemos ver, um paraíso talvez. E eu acredito que , distante de tudo isso, será o lugar dos sonhos, em que tudo que desejamos com mais intensidade e se torna real, e eu acredito que um dia eu vou morar , e eu nunca mais serei infeliz, nem derramarei nenhuma lágrima".
_ Nã-não é po-possível, er-era um sonho. - eu estava completamente extasiado. Era irreal, impossível, mas estava ali, na minha frente.
_ É claro que é possível Dam. - Celeste falou sentando no lugar onde eu estava a alguns minutos, sentei-me ao lado fitando-a como se fosse uma pedra preciosa que eu não podia tocar.
Por mais louca que essa ideia pudesse parecer, eu começava a acreditar.
_ Que lindo,você ainda usa isso.
Olhei para onde ela apontava. No meu pulso esquerdo a pulseira simples, com um fio grosso marrom e um pingente em formato de lua estava ali. Celeste havia feito uma pra mim e uma pra ela, a minha com um pingente de Lua, por ser o que ela mais gostava no céu, e a dela com uma estrela, pois era o que eu gostava. Ela chamava aquilo de " a pulseira de melhor amigo", que era como uma aliança que eu não poderia tirar nunca.
_ Ah, sim, eu prometi de "mindinho" que não tiraria. - sorri, aquilo era um tema tão bobo na situação inacreditável que se passava.
Celeste sorriu, aquele som me deu uma paz tão inesperada, mas foi algo tão maravilhoso que queria ouvir de novo e de novo.
_ Mas, por que? Cara, você sabe o que eu passei? Você me abandonou e nem se despediu. - comecei a falar, e nem percebi o quanto eu estava angustiado até terminar.
_ Me desculpe, eu não queria que você sofresse Dam, nunca. Mas, sempre foi meu sonho, e eu não pude avisar ninguém, eu desejei, com tanta vontade, com tanta fé que aconteceu, e foi num piscar de olhos.
Essa história teria tudo para ser o mais absurda possível, mas por algum motivo que eu agora conhecia, acreditava em cada palavra.
Celeste me olhou, os olhos brilhavam com o reflexo da lua, ela colocou uma mão sobre a minha e um pequeno choque nos tomou de surpresa.
Enquanto tentava digerir essa parte da história, perguntei outra coisa, que estava me deixando louco por dentro:
_ Por que você está aqui? Quero dizer, não que seja algo ruim, mas...
_ Eu estou aqui pelo mesmo motivo que eu fui para lá, um desejo forte e com fé. Eu estou aqui por você Dam.
Pronto, agora com o coração acelerado uma pergunta, a que eu mais temia saiu:
_ E você vai ficar?
Celeste desviou o olhar, coloquei as mãos ao redor de seu rosto, inclinando-o para mim, eu precisava saber.
Demorou alguns segundos para ela responder, mas pareciam durar horas.
_ Não Dam, eu não posso ficar.

Sob a luz das estrelasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora