Capítulo 3; Uma Noite

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Após dizer apenas que era uma longa história, Jake nos tirou dali. Entramos por um tubo grande de concreto de esgoto vazio e no escuro, caminhamos em silêncio pelo caminho que nos dava. Eu segurava o casaco dele por trás o seguindo, quieta por dois motivos: estava com medo de que nos ouvissem e minha mente estava se repetindo um nome que me travava.

Richy.

Será que Jake sabia? Será que Richy estava bem? Porque veio escondido com Jake? Por que estão juntos? O que vou falar pra ele? O que ele vai falar pra mim?

- Jake. - O chamei sussurrando e imediatamente ele parou e se virou de frente a mim.

- Está tudo bem? - Acho que estava em alerta demais sobre tudo o que aconteceu. Assenti mesmo que no escuro não pudesse me ver.

- Sim, estou bem. É que estou pensando... você soube do Richy? Digo, do que aconteceu na mina? - Questionei com a voz baixa ouvindo o eco da minha voz trêmula. Eu estava corajosa na prisão, mas agora perto dele, sinto como se fosse quebrar em mil pedaços. Jake devia estar me olhando. Assim como no chat, ele demorava uns segundos para responder, como se programasse a resposta em sua mente primeiro.

- Sim. - Curto e simples. Nunca explicativo o suficiente, sempre objetivo demais.

- Sobre tudo? - Insisti. Ouvi ele inspirando.

- Sim. Vi a conversa de vocês. Sei o que está pensando. - Foi dizendo calmo e baixo também, e o som do eco da sua voz estremecia uma vibração por meu corpo. Nunca imaginei que fosse uma voz tão bem sintonizada com seu tom. - Eu o tirei de dentro da mina quando houve a explosão.

- Explosão? - Dessa eu não sabia.

- Ele colocou fogo em tudo e esperou que fosse queimado junto com as evidências. Mas cheguei a tempo. - Quando diz isso, não sei porque, mas algo em mim se apertou. Pena? Não. Eu não devia sentir pena dele. Ele cometeu erros demais. Estou brava e quero continuar assim.

- Por que não entregou ele a polícia?

- Porque teria que haver uma explicação sobre porque eu estava lá. E uma coisa levaria a outra. - Claro, eu devia ter pensado nisso. Olhei para o lado, incomodada com alguma coisa naquela história. Era pra eu achar bom que o coração de Jake era assim, salvar quem fez sua irmã sofrer. Eu queria estar me sentindo um pouco assim, mas não posso, não vou. - Está com raiva, é compreensível. Vamos dar um jeito nele.

- Ele pode te enganar e te entregar. - Deduzi contragosto e vi que sua silhueta discordou do que eu falei.

- Ele está... impossibilitado de agir. - Diz de forma incerta e eu o olhei desconfiada. Quando ia o questionar sobre isso, ele pegou no meu braço. Um toque firme que eu estava desacostumada. Levou minha mão até sua barriga e eu dei uma congelada, e acho que ele também porque demorou a afastar a mão do meu pulso. - Vamos. Não podemos perder tempo.

Eu só assenti ainda um pouco mexida de ter o tocado daquela forma, mas entendi o que queria. Segurei em seu caso quando se virou e voltou a caminhar, e eu o acompanhei, ainda pensando. Ele optou pelo silêncio até o fim daquele túnel.

Nos deu acesso a uma floresta escura pela madrugada e na verdade, nem sei que horas eram. Deveria ser umas 3 da manhã e logo o dia amanheceria. Jake parecia saber bem o caminho e me perguntei quantas vezes andou por aqui, ou se pesquisou sobre a rota como costumava fazer. Dez minutos andando com cuidado em cascalho e grama molhada pela neblina, havia uma caminhonete de carga estacionado perto de rochas. Apesar de já termos saído do túnel, eu ainda segurava seu casaco, como uma âncora.

- Chegamos. - Anunciou baixo a mim quando estávamos próximo do automóvel. Havia uma caçamba tampada com uma lona de pano e olhei para Jake. - Ele não está na caçamba.

O Código Quebrado | DuskwoodWhere stories live. Discover now