- Vim apenas fazer uma visita. Esse local leva o nome do meu pai, porém, nunca vim aqui, nem na inauguração.

- Realmente acho que é difícil para o senhor vir aqui, não é mesmo doutor?

- Hoje não mais, porém, antes era complicado vir até aqui.

- Fique a vontade doutor. Se quiser o nosso legista está lá no ultimo andar.

- O legista? - Perguntou David pensativo, já emendando outra pergunta. - Seria o Jerry?

- Sim doutor! O nosso legista é o senhor Jerry, o conhece?

- Sim, estudamos juntos em Londres. Quando vim para East Sussex para trabalhar no Hellingly, convidei o doutor Jerry para trabalhar com a gente, ele ficou alguns meses e depois foi chamado para tomar conta do Instituto, antes do doutor Peter falecer. Tenho uma amizade muito bonita com o doutor Jerry.

- Fico contente em saber doutor David. Fique a vontade, caso suba para conversar com seu amigo, poderia lhe avisar que estou indo resolver os problemas que surgiram?

- Fique tranquila Elisa, eu o aviso sim. Vá em paz! - Respondeu David dando as costas para Elisa, dirigindo-se para o elevador.

Após alguns segundos, resistindo à força da gravidade, o elevador parou no terceiro andar. David saiu de seu interior, fechou o botão do meio de seu blazer cinza; passou a mão de leve no cabelo, tentando ajeitar seu topete e começou a caminhar rapidamente com as mãos no bolso pelo corredor pouco iluminado do necrotério. O médico passava olhando no interior de cada sala, porém, não via ninguém. Até que a ultima sala, com a porta fechada, bem na frente de David, chamou a sua atenção. Retirou um lenço do bolso, envolveu a maçaneta e vagarosamente abriu a porta.

Dentro da sala havia três macas metálicas, ambas com corpos cobertos por lençóis brancos ensanguentados, em um canto da sala, um grande freezer guardava mais dois corpos. David entrou sem fazer barulho algum, olhou e não encontrou Jerry, após uma rápida olhada, encontrou uma outra porta entreaberta que dava acesso a uma outra fala anexa a principal. Nessa sala, Jerry estava realizando uma autópsia; estava de costas para a porta, usava fones de ouvido no volume máximo, não permitindo que ouvisse qualquer coisa.

David entrou lentamente na sala, enfiou a mão no bolso, pegou o lenço novamente e empunhou um bisturi que estava no bolso da calça, aproximou-se de Jerry; puxou-o pelo braço e assim que o legista virou-se David passou o bisturi com muita força em seu pescoço. Jerry caiu na hora, enquanto de seu pescoço o sangue jorrava.

- Meu adorável amigo Jerry. Estava com muita saudade de você. - Disse David, sentando na beira da maca onde o corpo estava sendo analisado por Jerry, enquanto olhava para o corpo do médico no chão embebedado no próprio sangue. - Muita saudade não meu amigo; eu estava morrendo de saudades de você doutor. - Continuou David rindo.

Após alguns instantes em silêncio, David continuou:

- Que mal humorado é você Jerry, nem para responder o seu amigo. Mas já que não quer falar, eu falo! - David levantou-se da maca e sentou-se no chão, próximo ao corpo do legista. Assim que se sentou confortavelmente, abriu os olhos do cadáver. - Olhe para mim meu amigo. Eu fiz isso para seu bem, realmente. Você achou que iria me enganar, porém, ninguém me engana Jerry, nem você, nem Santiago, nem aquela delicia da Mary. Ninguém me engana! Fiquei sabendo que você andou trocando mensagens com o Santiago a algum tempo atrás. Ai lhe perguntou, porque fizestes isso? Amizadinha secreta com o Santi? Isso não se faz Jerry! Isso não se faz seu idiota! Seu podre! - Gritou David socando a barrica do defunto. - Você fica enfiando coisas na cabeça daquele imbecil do Santiago, ele acredita em tudo! Como pode você dizer que aquele paciente foi assassinado? - Indagou David apontando para a maca que por coincidência estava o corpo do ultimo paciente que apareceu morto no hospital. - Qualquer imbecil sabe que esse paciente era mais louco que qualquer pessoa do Hellingly e ai o Santiago lhe manda algumas fotos e você diz que ele foi assassinado? Não admito seu boçal, que você diga que dentro do MEU, DENTRO DO MEU HOSPITAL, VOCÊ OUVIU ISSO? DENTRO DO MEU HOSPITAL! NÃO ADMITO QUE VOCÊ DIGA QUE LÁ DENTRO TEM UM ASSASSINO!!! Espero que tenha entendido o recado. E mais uma coisa, evite em conversar com o Santiago meu amigo Jerry. - David levantou-se, pegou o bisturi e colocou na mão de Jerry; guardando no bolso o bisturi que o legista usava. - Porém é uma pena, tão jovem e se matou por coisa boba.

David permaneceu olhando o cadáver de Jerry; fechou seus olhos, levantou-se e seguiu para o elevador, como nada tivesse acontecido. Assim que chegou na porta do elevador sentiu seu celular vibrar.

- Diga! - Disse David.

- Chegamos ao Prato de Arroz doutor David.

- Me espere. Chegarei em poucos minutos ai Santiago. Poderia ir pedindo a refeição. - Disse David desligando.

Santiago guardou o celular e olhou para Dooham.

- O doutor já esta a caminho. Enquanto isso vamos pedir a refeição.

- Fique a vontade para escolher Santiago.

- Garçom, aquele pato com melado, por favor.


A Outra Face do MedoWhere stories live. Discover now