Capítulo 36

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Paro na frente do espelho de corpo e observo meu vestido preto, eu não demorei a escolher a roupa de hoje, peguei a primeira peça dessa cor, pois não me importava como iria estar naquele momento.

— Sente princesa — Lilian me pede colocando uma cadeira atrás de mim. Faço o que ela me pede e observo meu rosto pálido no espelho, sinto minha dama de companhia começar a pentear meus cabelos e não demora até as lágrimas voltarem a cair.

Não é a primeira vez que choro hoje e provável que não será a última, fico olhando cada lágrima descer pelas minhas bochechas e se acumularem no meu queixo até caírem no tecido do vestido.

Estou tão concentrada na imagem no espelho que não percebo quando Lilian termina e se afasta, só desperto quando alguém bate na porta chamando minha atenção.

Minha dama de companhia me olha e eu dou permissão com um aceno para que ela abra a porta enquanto limpo os rastros das lágrimas em meu rosto.

— Bom dia — Brendon diz entrando no quarto acompanhado por Kayque, Lilian apenas se curva em reverência e volta a organizar as coisas que estava usando para fazer a trança em meu cabelo.

— Está pronta? — Kayque pergunta ao massagear meus ombros, olho para ele pelo espelho e parece que meus olhos vermelhos já lhe dão a resposta — Eu sei que é difícil Jas, mas você precisa ser forte.

Tiro suas mãos de meus ombros e me levanto ficando de frente para os dois com os braços cruzados.

— Acontece que eu não quero ser — confesso e os vejo se olharem.

— O papai... — Kayque começa, mas o interrompo.

— Ele não tá mais aqui! Então não fale dele para mim — peço já começando a chorar de novo.

— Jas — Brendon diz inclinando a cabeça para o lado.

— Eu não consigo — aviso com a voz falhando.

— Consegue sim, você sempre foi forte — Kayque diz e eu nego com a cabeça — foi sim, e a Clara precisa de você.

Então está aí, o motivo de eu ter me levantado hoje, Clara, eu amo todos os meus irmãos, mas por Clara ser minha gêmea, a dor dela me atinge mais. Assim, só por isso, me recomponho e saio do meu quarto na companhia dos dois príncipes para ir ao enterro do papai.

No hall do castelo encontro o resto da família, Clara está agarrada ao braço da nossa mãe, só que assim que seu olhar encontra o meu, a menina corre até mim.

— Achei que não viria — ela confessa envergonhada.

— Eu até pensei nisso, mas não te deixaria sozinha — aviso e Clara dá um sorriso triste.

Seguimos para o cemitério e no caminho perguntei a Clara onde os príncipes da seleção estavam, já fazia alguns dias que não via Lorenzo e a falta que ele estava me fazendo estava me incomodando.

— Eles foram em outra comitiva — Clara sussurra perto de meu ouvido — talvez você o veja lá — minha irmã completa já sabendo o motivo do meu questionamento.

***

Enquanto ocorre o velório de papai, sou obrigada a ficar ao lado de meus irmãos recebendo os pêsames de várias pessoas que ao menos sei o nome, e sempre esperando para que Lorenzo apareça, mas isso não acontece.

Sigo em silêncio ao lado de mamãe para o local onde meu pai será enterrado, e são poucas às vezes que tenho coragem de olhar na direção de seu caixão, sinto como se fizer isso irei desabar de novo, e não posso fazer isso, não agora, preciso ser forte pela minha família, mesmo que parte de mim ainda cogite não ser.

— Pegue querida — minha mãe me dá uma rosa-branca e depois se volta para o padre que recita algumas palavras de como o rei Maxon foi importante para todos. Respiro fundo absorvendo tudo, de fato, um rei era importante para seu reino, mas sua importância na família era completamente diferente.

E então chega a hora que eu tanto temia, o momento do último adeus, o caixão começa a descer e os choros ao meu redor começam a soar mais altos e desesperado, eu engulo em seco tentando me controlar, mas dói, dói não colocar para fora toda a dor que me consome a cada respirada que dou.

Vou até o caixão e jogo a rosa que parece cair em câmera lenta, e quando ela cai sobre a madeira envernizada, é como se um soco fosse dado em meu estômago.

— Eu vou sentir saudades — sussurro antes de me virar, e sem suportar mais ficar naquele lugar, passo pela minha família e as pessoas que estão ali para se despedir, e caminho na direção vazia do lugar onde sei que poderei ter um segundo de sofrimento sem ser julgada.

Quando já estou longe o suficiente, deixo minhas pernas vacilarem e caio no chão já chorando novamente, seguro a barra do vestido e aperto com a mesma força que meu coração parece ser esmagado pela dor de perder meu pai.

É então que sinto um perfume familiar me envolver, assim como seus braços firmes que grudam meu corpo junto ao dele.

— Eu sei que é difícil — Lorenzo diz me abraçando mais forte — mas eu estou aqui, sua família também, e essa dor minha princesa, vai se tornar suportável, eu prometo.

Me aconchego em seu peito, e sinto sua mão acariciar o topo da minha cabeça me causando um pequeno relaxamento, e aos poucos meu choro diminui, até parar, e então tudo que escuto, é as folhas voando com o vento e alguns passarinhos que passam por ali, e a respiração de Lorenzo que também me acalma.

Suspiro e levo meu olhar até seus olhos azuis, sua expressão é de preocupação, mas, ao mesmo tempo, ele parece calmo, e então sem pensar, confesso:

— Eu não sabia que precisava tanto de você na minha vida.

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Por SrtaPattz

Rainhas de IlléaWhere stories live. Discover now