A Garota Afogada do Lago Greene

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Em Golden Field existe uma ponte, debaixo dessa ponte um lago e dentro do lago uma garota morta.

O lago se chamava Greene e a garota Lilian. Ninguém sabia seu sobrenome. Acho que não era suficientemente importante para alguém lembrá-lo, mas em falta de nomes podem chamá-la de Lilian Greene, assim como eu a chamo.

Diziam que Lilian era filha de um fazendeiro no tempo em que Golden Field não passava de um conjunto desordenado de pastos e plantações de milho.

Ela se apaixonou por um homem. Também ninguém soube seu nome, mas tenho certeza que não era um dos estúpidos caipiras de Golden. Era um forasteiro, do tipo de cara culto e viajado o qual infelizmente nunca amaria Lilian da mesma maneira que ela o amava. Acho que eles se encontraram algumas vezes, escondidos da família de Lilian e um dia ele sumiu. Sem despedidas, bilhetes ou qualquer outro tipo de adeus.

A tristeza foi demais para a frágil Lilian. Ela foi até o lago Greene amarrou pedras em seus calcanhares e se jogou da ponte.

Quando eu perguntei para onde ela fora depois que caiu na água, mamãe havia dito que para o inferno, pois suicidas nunca ganhavam a salvação. Tio Rob pensava outra coisa. Ele falava que Lilian não havia ido para o inferno nem para o céu. Ela ainda estava lá, no fundo do lago Greene esperando que seu amor retornasse para resgatá-la daquelas águas escuras e secar as lágrimas de dor nas quais ela se afogara.

Era algo melancólico para se imaginar, mas preferia acreditar nele a mamãe. Tio Rob sempre tinha boas respostas para perguntas que obviamente ninguém mais tinha.

Ele havia sido militar quando jovem. "O grande orgulho do clã Lee", papai costumava dizer. Apesar de parecer um elogio sempre falava com escárnio. Papai ou Chuck como eu o chamava as escondidas tinha certa inveja do tio Rob. Ele também havia sonhado, enquanto criança, em entrar para o exercito, mas sempre fora um garoto problemático. Tinha asma, usava óculos de garrafa e sempre fora o mais magrelo e doente da família. Ele cresceu e se tornou um contador resmungão e Robert, o soldado.

Ele negava toda vez que diziam que ele tinha raiva do tio Rob por ter se tornado aquilo que sempre almejou ser, porém foi o único que não ficou triste quando o irmão foi expulso do exercito por indisciplina. Depois de sua expulsão Rob passou um tempo andando de um lado ao outro de Nevada tentando arrumar um emprego, mas as coisas eram difíceis. Acabou em Las Vegas, não como o segurança de algum cassino famoso, mas sim como um bêbedo viciado em jogos de azar baratos.

Após alguns meses papai recebeu uma ligação de um cara chamado Orlando. Esse não era seu nome de verdade, mas quem em um lugar como Las Vegas usaria o nome real o tempo todo? Ele disse que tio Rob estava mal que precisava de ajuda, lhe deu um endereço e pediu que fosse até lá no dia seguinte.

Papai o encontrou depois de mais de três horas de viagem em um quarto de hotel de quinta categoria, enrolado em um cobertor ensebado e entre garrafas vazias e embalagens amassadas de cigarro. Não tomava banho havia três dias e não saía dali há semanas.

Às vezes quando me recordo dessa história imagino que meu pai tenha encontrado tio Rob dentro daquela pensão vagabunda como Gregor Samsa do livro Metamorfose. Um inseto gigantesco semelhante a uma barata, de membros peludos e articulados que se sobressaiam debaixo das cobertas que o ocultava como enormes pinças negras. Papai, enojado e perturbado com a imagem do monstro, vomitaria sobre o carpete já não tão limpo do quarto e depois de enxugar sua boca na manga do casaco que usaria arrancaria a criatura medonha que um dia fora seu irmão de dentro de sua toca e o levaria para nossa casa.

O Dr. Ben Daley, dizia que achava interessante o modo com o qual eu havia criado aquela cena em minha cabeça, porém demasiada alegórica. Robert Lee nunca havia sido um inseto gigante de verdade, era o que afirmava, no entanto, ele não havia visto como eu o vi chegar a Golden Field.