Em Hawkins à força

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Eu estava deitada em minha cama, olhando pro teto, com muita vontade de chorar. Nos meus plenos "anos de ouro", na minha melhor fase, 17 anos, cheia de amigos, crushs que talvez dessem em alguma coisa.. Meus pais resolvem se separar! Sério, até agora não consigo acreditar. Mas ao invés de só mudarmos de bairro, mamãe preferiu mudar de país! DE PAÍS! E se fosse uma cidade legal que nem nos filmes, NÃO, é essa porra de fim de mundo que eu nem conhecia, provavelmente só tem gente chata e aqui é frio pra caralho, preferia mil vezes meu Brasil... Comecei a relembrar nossa discussão.

"Olha, Isa, nós temos bastante dinheiro, e eu pensei que fosse seu sonho ir para os Estados Unidos, você gosta daquelas músicas rock em inglês, daquelas bandas, e você implorou aquela vez pra fazermos um curso de inglês, filha, agora podemos praticar o que aprendemos, e eu consegui um trabalho incrível. Vai ser perfeito, nossa nova vida. " Ela tentava sorrir, mas deu pra ver o quão aborrecida estava com a minha reação.

"Mas é diferente, mãe! Eu era assim, ano passado!" Eu dizia muito nervosa, tentando não chorar de desespero. "Quando eu era excluída e vivia numa fantasia de que se eu pudesse ir pra outro país seria melhor. Agora que minha vida está incrível, e tudo vai ser arruinado sendo que podemos simplesmente mudar pra algum lugar perto da minha escola e-"

"AH! então é isso, Isabela?!" Minha mãe ficou visivelmente brava "Agora que aquelas pessoas pararam de fazer bullying com você pra virarem seus 'amigos', sua vida melhorou?! Agora que você não tem personalidade própria, e imita tudo o que eles fazem? Agora que você é uma das famosinhas na sua escola e não é mais você mesma, desistiu do seu maior sonho... Sinceramente, eu não reconheço mais aquela menina de personalidade, com aquele estilo diferente, que não ligava para o que os outros pensavam..."

"Mãe!! Não começa, tá?! As pessoas mudam e eu passei daquela fase, eu não mudei por ninguém..." As lágrimas começaram a escorrer do meu rosto.

"Sabe, eu até poderia pensar no seu caso, Isabela, mas agora vi que seus motivos são fúteis e você está tentando enganar a si mesma, aquelas pessoas, você não pode chamá-los de amigos, eles sempre quiseram o seu mal mas você não vai escutar sua própria mãe.. Vá pro seu quarto! pode arrumar suas coisas, agora que vamos pra longe desse lugar pode ser você mesma, isso é pro seu bem." Ela também tinha os olhos marejados, mas eu não liguei e corri pra arrumar minhas coisas.

Agora que se passou um tempo, e já estou aqui, comecei a refletir e vi que eu estava sendo uma adolescente mimada, e aqui parece ser realmente legal, embora eu ainda ache que eu tinha sim amigos, e que eles se arrependeram mesmo de fazer bullying comigo, eles pediram desculpas e tudo, tava tudo tão resolvido lá... Mas preciso seguir em frente mesmo, eu e minha mãe somos melhores amigas também, nos resolvemos e eu iria para o meu primeiro dia na escola nova.

Quando eu estava arrumando minhas coisas, percebi que tinha mudado mesmo, totalmente meu estilo, e que aquelas roupas de patricinha eram muito.. Padrões, iguais as de todo mundo, coloquei na doação e voltei ao meu estilo antigo, eu sentia falta da minha jaqueta de couro, minha jaqueta jeans, minhas camisetas de banda, meus acessórios.. 

"Agora sim!" disse, feliz me olhando no espelho antes de ir pra escola "Essa sou eu, a velha e nova Isa do rock, hehe". Sinceramente não me importei como costumava me importar, eu só me importava se eu estava me sentindo bem, e eu me sentia incrível e descolada. Com meus cabelos castanhos recém cortados acima do ombro e franjinha, meu lápis preto que voltei a usar, na boca preferi passar só um gloss de morango porque ele é realmente gostoso, estava vestindo a minha camiseta preferida da AC DC, minha jaqueta de couro com spikes, uma calça jeans preta rasgada, vários anéis e colares, brincos de cruz, e o único contraste de cor era meu all star amarelo surrado.

Minha mãe me levou pra escola de carro, ela estava feliz e eu, é, até que não estava tão ruim, me despedi dela e fui procurar minha sala, enquanto ouvia música nos meus fones.

Our Year - Eddie MunsonWhere stories live. Discover now