1.05: Laços fraternos

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Universidade St. Juniper, Nova Orleans, Estados Unidos

23 de agosto de 2025

O auditório começou a se encher com os calouros, e conforme os estudantes buscavam lugares vagos, Têmis enxergava cada um dos semideuses com seus olhos de águia, memorizando cada aspecto dos jovens que iniciavam uma nova fase em sua jornada.

Sua memória não é exemplar como a de Mnemósine, ela jamais ousaria se comparar com a Deusa das Lembranças, mas parte do seu dever como reitora de St. Juniper é reter atenção total no momento presente, e isso amplifica os seus sentidos.

Conferiu o relógio em seu pulso, ela está no horário programado. Preciso como um aparelho suíço, milimetricamente calculado. Ainda não haviam chegado todos os alunos, mas Têmis não tolera atrasos. A Deusa da Ética preza pela ordem e pelo compromisso, sendo assim, no momento exato, levantou-se da cadeira e caminhou até o púlpito, posicionando-se de frente para os novatos.

— Boas-vindas, semideuses! Sintam-se em casa, pois estaremos juntos nos próximos cinco anos, e tudo que construírem aqui em St. Juniper formará o alicerce para a vida de vocês.

Um burburinho tomou conta do auditório, fragmentos que Têmis julgou positivos. Alegria, expectativas, surpresa, entusiasmo... uma mistura de emoções complexas, mas que convergiam para um ponto em comum: o sonho de se graduar, viver entre os mortais, protegendo-se dos monstros e servindo ao mundo com suas habilidades divinas e talentos individuais.

— Eu sou Têmis, Deusa da Ética e das Leis, designada pelo Olimpo como reitora desta Universidade. Acredito que não são todos que sabem muito a meu respeito, pois sendo uma titânide, minha influência estava mais restrita aos deuses, não tive filhos humanos ou caminhei lado a lado com os semideuses. Muitas coisas mudaram nos últimos 50 anos, e a criação dessa universidade foi um marco.

Como boa parte dos estudantes vieram dos colégios internos, tanto nos Estados Unidos como em outros países, estavam inteirados sobre a história olimpiana e o quanto o mundo se transformou desde que a deusa das Alianças abandonou o Olimpo, em 1980. Mas para Yuliya, que viveu sua adolescência em um colégio na Rússia, sua terra natal, a expressão nostálgica da reitora tinha um brilho tão especial quanto aos olhos dos semideuses do acampamento.

Sua câmera focou nos traços sofisticados da deusa: os cabelos loiros presos em um coque alto ornado com tranças, dando à mulher um aspecto angelical, mas ao mesmo tempo, de seriedade. Os olhos azuis na tonalidade do céu ensolarado iluminam a pele alva, capazes de capturar a atenção de todos, não importa o quão longe do palco estejam. Usa um vestido cinza reto, na altura dos joelhos, com um blazer branco, saltos brancos, colar dourado de pingente geométrico na altura do busto, tudo estrategicamente posicionado para dar à loira uma imagem imponente.

A filha de Quione nutre uma profunda admiração por Têmis. Não apenas pela aura impactante que ela desprende, mas por enxergar na titânide o modelo que gostaria de ser reconhecida: justa e serena, tão sábia que sempre oferece a palavra certa, sem perder a simpatia.

— Ela parece determinada hoje, não acham? — Yuliya se virou para Alexis e Ophelia, responsáveis pela cobertura do discurso para o jornal de St. Juniper. — Com todos os acontecimentos recentes, imaginei que Têmis estivesse mais abalada.

— E quem disse que ela não está?

Ophelia ergueu uma sobrancelha para a loira, que tirou uma foto da reitora, e então passou a analisar sua expressão facial nas imagens. Antes que pudesse tirar uma conclusão, a filha de Hipnos prosseguiu.

— Têmis está se agarrando a esse momento para disfarçar sua instabilidade. Sonhei com ela ontem à noite, na verdade, acabei tendo acesso a um vislumbre dos sonhos dela, de tanto que estava inquieta desde o Concílio dos Deuses.

Universidade St. JuniperWhere stories live. Discover now