Ouvi a porta do banheiro ser aberta e alguém que conversava ao celular, me inclinei para frente apoiando meus cotovelos em meu joelho e meu rosto em minhas mãos, estava cansada e louca para ir para a casa e me afundar em minhas cobertas, eu não merecia estar passando aquele perrengue todo às 08 da manhã.

  -- Aí, será que dá pra apressar aí dentro? Eu esqueci uma coisa e preciso pegar. - a porta de minha cabine vibrou um pouco e avistei sapatos de couro pelo vão aberto.

  -- Que saco. - sussurrei apertando meus olhos e me recusando a sair.

  -- É sério, é algo muito importante. - pediu ficando mais séria. - Tá me ouvindo? Alôô? - bateu mais uma vez na porta.

  -- Não consegue esperar o caralho do banheiro ser liberado? - perguntei já completamente estressada.

  -- E você não consegue ir mais rápido? Se estava com dor de barriga era mais fácil ter ficado em casa. - respondeu com um tom impaciente.

  Apertei a raiz de meu cabelo e bufei me segurando para não descer a mão na pessoa do outro lado da porta, não podia ter um segundo sequer de paz que o universo já vinha com sua implicância comigo.

  Me levantei da privada que estava de tampa fechada e rapidamente pûs meus óculos escuros, em seguida abri a porta com toda a força que eu tinha, logo vendo uma garota baixa demais com longos cabelos loiros impecavelmente lisos que me direcionava uma cara feia demais, suas mãos finas com unhas grandes e roxas foram até seu nariz fino e tocou com euforia.

  -- Está louca? Quase quebrou o meu nariz! Essa cirurgia foi cara demais e se você tivesse o estragado... Levaria bons chutes. - ergueu seu nariz e entrou dentro da cabine, logo a trancando.

  Ela tinha um forte e irritante sotaque britânico, também usava muitas palavras e gírias antigas que não pareciam se assimilar à sua aparência "da moda", ela usava uma saia curta preta e colada, uma blusa também curta e colada azul claro e um grande casaco de veludo preto, nos pés um salto clássico e para completar havia uma faixa branca em sua cabeça, uma verdadeira patricinha de filmes antigos.

  Me apoiei na grande pia de mármore branco e lavei minhas mãos, aquilo sempre me ajudava naqueles momentos estranhos em que eu até mesmo conseguia sentir o cheiro da erva só por pensar muito nela, talvez eu queimasse um mais tarde, porém naquele momento não podia fazer isso, eu gostava de pensar que enquanto pudesse me controlar, estaria tudo bem.

  Respirei fundo assim que minha visão ficou um pouco turva e foi difícil enxergar o reflexo em minha frente, aquelas espécies de "apagão" já não era mais algo tão assustador e raro para mim, havia passado o fim de semana inteiro sentindo aquilo então já estava meio que acostumada.

  A garota que antes me enchia o saco saiu da cabine com um bolinho enrolado de papel higiênico e o largou de qualquer jeito em cima da pia próximo de mim, o papel saiu um pouco me dando a visão de um teste de gravidez, grudei os olhos naquilo como se dependesse da minha vida manter a atenção ali.

  -- Isso não é meu. - falou a garota enquanto lavava as mãos com certa força, talvez por ter fuçado o lixo.

  -- Eu não disse nada. - respondi no mesmo tom neutro que ela.

  -- Mas está aí encarando igual uma louca. - respondeu seco.

  Suspirei e peguei um papel para secar minhas mãos, de relance pude notar que a loira tinha seu olhar sobre mim e parecia lembrar de algo já que seu olhar ficou desfocado.

  -- Precisa de alguma coisa? - perguntei soando um pouco ignorante.

  -- Ugh, você e aquele lesado se merecem. - fez uma careta de nojo e começou a secar suas mãos também.

Wrong Choice - Vinnie HackerOnde as histórias ganham vida. Descobre agora