15. ESMERALDA: O pedido

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Impulsivo demais.

Resmungo, limpando os dentes pela terceira vez com o pó feito a base de giz e raízes de flor de íris, acho. Tinha um efeito melhor do que o anterior, apesar de não ser tão perfumado quanto mirra.

Não sei ao certo no que Carlisle estava pensando ao agarrar o chicote, mas temi que Giancarlo acabasse com tudo.

Uma parte de mim, a mais tola, evidente, gostou daquilo a ponto de dobrar os joelhos e beijar o sapato asqueroso de cada membro da família, anestesiada para mais uma das muitas humilhações responsáveis por dilacerar meu espírito.

Enxáguo a boca com chá de menta e jogo o trapo usado para a limpeza num cesto, onde a segunda escova feita de osso e cerdas de pelo de javali está jogada.

Impulsivo e fofo.

Deito na cama, abraçando o travesseiro, dividida entre o ódio por ter sido forçada a beijar os pés deles e a sensação agradável de ser novamente importante para alguém.

Minha consciência me obriga a afastar os delírios.

Crer que Carlisle é diferente dos outros é arriscado em muitos níveis.

No começo  eu julguei que os Giovanni eram diferentes, isso graças a existência de Olívia, pois enquanto ela me fazia passar dias sem água ou comida, sufocada em imundície, assistindo o marido se alimentar de mim quando e como queria, eram eles quem limpavam cada corte e às vezes até me abraçavam, sussurrando que acabaria depressa se me comportasse bem.

Não havia cama, três refeições ao dia, banhos, roupas limpas.

Perto daquilo estou no paraíso, e é considerando um passado assim que Giancarlo exige minha gratidão.

Perdi as contas de quantas vezes ele me segurou até que parasse de chorar, e eu agradeci, confusa, desejando ser um sinal de compaixão. 

"Eles são diferentes, irão me deixar. ir"

Repetia após cada sessão de tortura.

Repetia e acreditava.

Jovem e tola.

Não sou mais tão jovem, acho.

Apesar de não saber ao certo quanto tempo perdi, não quero mais ser tola depositando minhas expectativas em cima de alguém que mal conheço.

Ainda assim, a inconveniente esperança tem o atrevimento de surgir.

Pequena, mas surge.

Carlisle falou de mim exatamente como eles, uma coisa, algo semelhante aos insetos catalogados pelo meu irmão John ou as ervas estudadas pela minha irmã mais nova, Georgiana.

Ouvir doeu, ao mesmo tempo a inclemência colocou fim ao meu tormento, provocando uma centelha de algo bom. Afeto? Simpatia?

Na forma das provocações de Vincenzo, o plano bobo ganha vida.

Detestei os outros com quem estive antes, sempre ansiosos para arrancar um pedaço de mim, abaixando a cabeça para os Giovanni e fingindo me consolar nas sombras. 

Mentirosos.

Detesto menos Carlisle.

Seu rosto, modos e cheiro não são tão repulsivos assim. 

Principalmente o cheiro.

Só preciso seduzir o vampiro, fazê-lo me amar tanto que será capaz de considerar morrer por mim. 
Em todo caso, lidar com um sanguessuga é infinitamente mais fácil do que três. 

Céus, mas como? Considerando minha parca experiência na área da sedução há grandes chances da empreitada ser um fracasso.

Beleza basta? Estou em meu pior estado, pele sem viço, cabelo pavoroso, voz fraca, roupas horríveis e não tenho uma conversa decente com ninguém há milênios,  duvido ser capaz de alimentar qualquer diálogo, independente do tema.

✔ Esmeralda e outras flores mortas| Carlisle CullenWhere stories live. Discover now