Capítulo 2

17 5 4
                                    

" Não é ruim ter um quarto só pra mim, apesar de que sempre eu tive um quarto só meu. Sinto saudade do meu cantinho, era minha zona de conforto, minha cama era a minha melhor amiga, deve ser por isso que eu nunca queria deixar ela, ela me acolhia quando eu tinha crises de ansiedade, me acolhia tão bem que eu não queria sair dali nunca, tudo naquele pequeno quarto me ajudava de alguma forma. Um dos principais era meu travesseiro, ele me ouvia e enxugava todas as minhas lágrimas, me fazia dormir e era nesse único tempo que eu não pensava em diversas formas de me matar, ou como descontar toda a raiva que eu sentia de mim mesma na minha pele, mas eu não posso reclamar do fato de que ninguém percebia o quanto fudida eu estava, eu sempre fui boa em guardar tudo só pra mim. "
   A sirene toca, sinal de que é hora de acordar, mas como acordar se eu nem dormir?. Guardo o diário em baixo da minha cama e saio para o banheiro coletivo.
  Aqui não tem muitas mulheres, ou meninas como no meu caso, mas as brigas são muitas, posso garantir isso pra vocês. Todas ficam em suas alas, só nos misturamos quando vamos ao banheiro ou durante as refeições, depois cada menina vai pra sua ala e faz as atividades disponíveis no dia, minha informante me disse ( Dona Eveline ) que as atividades não são as mesmas para todas, por que aliás, a maioria não tem os mesmos problemas.
   Faço minhas necessidades no banheiro, e vou direto pra pia, em baixo da pia tem um armário que fica as bolsas de higiene de cada menina, todas as bolsas tem nome, justamente para não gerar conflito. Pego minha bolsa e antes que eu abra uma menina aparece do nada do meu lado e fala:

- Todas tem uma dessa ? - Pergunta ela com curiosidade. - me viro e finalmente reconheço ela, é a menina que tá ficando ao lado do meu quarto.

- Sim, todas tem uma, não achou a sua? - aponto pro armário.

- Não, procurei tudo e não achei, será que esqueceram de colocar?.

- Provável que sim, você deve ser nova né? Te vi ontem quando chegou.

- Sou sim, vim parar nesse inferno por burisse minha, sou tão idiota. - ela fala sorrindo.

- Também cometi essa mesma burisse. - aponto pro braço dela enfaixado.

  Seu sorriso desaparece, ela olha pros meus braços e faz cara de surpresa, olha por uns minutos e fala.

- Porra, você fez tudo isso ?

- Meio que sim, mas deixa pra lá né. - me viro de volta pra minha bolsa abro e começo a tirar minha escova e a pasta de dente.

- Sei bem como é, mas aliás, onde consigo uma dessa. - Ela aponta pra bolsa.

- Vai na sala de terapia, é a primeira sala virando o corredor, fala com Irene, ela te ajuda com isso. - Falo meio seca.

- Valeu, até mais menina das marcas sinistras. - Ela sai do banheiro.

   Assim que ela sai, vejo que fui babaca com ela, pela forma que falei, entro no reservado e começo a chorar, não pelo que ela falou, "meninas das marcas sinistras", e sim que eu já fui chamada de tanto coisa, de maluca, esquisita, estranha, que ser chamada assim por alguém que sabe como é ser alguém como eu, é emocionante, pela primeira vez, sinto que em uma pequena possibilidade, eu não estou sozinha aqui.

Quem Era Jordan Stevens? ( Em Andamento)Where stories live. Discover now