14. CARLISLE: Ajoelhe-se

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A calma simulada da sereia de nada vale, pois conseguimos sentir a pulsação acelerada, a respiração irregular, o suave contrair de cada músculo, numa reação instintiva de preparar o corpo para a fuga ou ataque.

Giancarlo gosta disso, pois outra coisa perceptível pairando no ar é sua excitação.

— Irmão, ele está certo. O propósito não é fazê-la durar? Há outros métodos para discipliná-la.—

Carmine interrompe.

O tom de voz é baixo, a vampira não se atreve a dar um passo sequer em nossa direção, também não ergue a cabeça ao falar.

Vincenzo completa.

— Sei que o plano envolve passarmos a vida devorando cervos, no entanto, voto em adiarmos esse futuro deplorável. Coloque na corrente, deixe-a refletir por um dia ou dois. —

Cerro o punho bom e trinco os dentes, contendo o tremor ao ver Esmeralda interromper a conversa se ajoelhando diante dele.

Espero um pedido de clemência ou algo do tipo, no entanto, ela só permanece em silêncio, inclinando o corpo para frente, numa reverência exagerada.

Os cabelos pretos caem tal qual um manto, cobrindo parcialmente o rosto enfermiço que supera em beleza qualquer uma das mulheres a enfeitar os salões londrinos.

As mãos apoiando o peso do corpo tremem, suspeito ser fruto da raiva.

— Não está esquecendo de nada, Esmeralda?—

Usa seu nome, coisa que quase nunca faz. 

O ato a enche de fúria, posso ver pelo modo como fere a própria palma com as unhas, para minha desgraça e dela.

Doce e fresco... o aroma convidativo do sangue se funde a confusão de sentimentos.

Raiva, medo, tristeza e até mesmo desejo são transformados em fome. 

Eu não sei que tipo de acordo selou com o demônio, dadas as circunstâncias estou prestes a descobrir.

Ouço o estalar singelo de um beijo tocando o sapato de couro de Giancarlo, vejo o sorriso de satisfação do vampiro, imerso no prazer de tê-la a seus pés, obedecendo seus comandos.

— É uma lição sobre humildade e gratidão.—

Explica e umedece os lábios, mal contendo suas reais intenções.

A única coisa que ele está fazendo é obrigar Esmeralda a realizar suas fantasias doentias, pois nunca conseguirá a submissão da sereia de bom grado.

Não é assim que se joga.

Tocá-la do modo que deseja envolve muitos riscos, riscos que superam o suposto encanto. Dormir com uma humana sem matá-la no ato por si só é difícil, dormir com uma criatura cujo sangue possui o aroma mais convidativo que já  senti será o meu fim.

Esmeralda faz menção de ficar de pé, Giancarlo usa a  bengala para mantê-la no chão, pressionando a cabeça de lobo em suas costas.

Ela resiste pouco, para tristeza do seu algoz, que se diverte com o inútil agitar dos braços no chão, buscando uma forma de fugir.

—Ainda não acabou, termine.—

O olhar de Giancarlo está em mim agora, não nela, dizendo em alto e bom tom quem a controla, que lhe pertence.

Sou obrigado a observá-la engatinhar até Carmine e Vincenzo, deixando um rastro vermelho quase imperceptível no chão, onde as palmas feridas tocam.

É demais para eles agora que não se alimentam de sangue humano. A dieta vegetariana compromete o autocontrole, principalmente no início.

As írises assumem um tom mais escuro, as mãos começam a se mover demais, e a inquietação se transforma num fechar de olhos simultâneo, procurando manter ao menos um resquício de sanidade.

Eu nunca provei o sangue dela e estou a travar uma luta interna para não beijar as palmas feridas. 

Acontece que também nunca tive problemas com a sede, e se em mim dói, para o resto deve ser uma tortura ainda maior.

— Precisam caçar, agora.—

Alerto, enrolando por hábito minha mão ferida, a mesma que machuquei ao conhecer Esmeralda, com um lenço. 

Tenho esperança da necessidade encurtar o espetáculo cujo único propósito é humilhar, esperança esmagada por Giancarlo.

— Falta um, machucou a mão dele duas vezes, deve um pedido de desculpas.—

Intervenho, temendo o óbvio.

Ela me odiará depois. 

— Giancarlo, ter garotas beijando meus pés não integra o topo da minha lista de preferências. Contanto que siga  as prescrições e responda as perguntas estarei satisfeito.—

A verdade brinca na minha língua.

Não é o sapato que eu desejo ter beijado, e tê-la ajoelhada aos meus pés, sangrando em sua camisola destruída não é prudente.

Descobririam de pronto que meu interesse por ela é tudo, menos acadêmico.

— Compreendo. Irei levá-la para cima e retorno para nos prepararmos, a caçada será longa. Carmine, Vincenzo, cuidem da bagunça.—

Observo Giancarlo erguê-la pelo cotovelo, arrastando-a pela escadaria.

Ela manca, muito, piora conforme a caminhada acelera.

Não posso fazer nada além de aproveitar a oportunidade de ficar a sós, nem que precise aceitar ficar acorrentado novamente. 

No fim das contas, a família insana talvez tivesse razão, um simples beijo arrebatou meu juízo. 

∞∞∞

※Próxima atualização: Quarta-feira.

※ Como eu havia dito no capítulo anterior, se continuassem sem votar e sem comentar não haveria mais atualizações duplas. 

Atualizações duplas canceladas, o livro só será atualizado uma vez por semana. 

 

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✔ Esmeralda e outras flores mortas| Carlisle CullenWhere stories live. Discover now