A calma simulada da sereia de nada vale, pois conseguimos sentir a pulsação acelerada, a respiração irregular, o suave contrair de cada músculo, numa reação instintiva de preparar o corpo para a fuga ou ataque.
Giancarlo gosta disso, pois outra coisa perceptível pairando no ar é sua excitação.
— Irmão, ele está certo. O propósito não é fazê-la durar? Há outros métodos para discipliná-la.—
Carmine interrompe.
O tom de voz é baixo, a vampira não se atreve a dar um passo sequer em nossa direção, também não ergue a cabeça ao falar.
Vincenzo completa.
— Sei que o plano envolve passarmos a vida devorando cervos, no entanto, voto em adiarmos esse futuro deplorável. Coloque na corrente, deixe-a refletir por um dia ou dois. —
Cerro o punho bom e trinco os dentes, contendo o tremor ao ver Esmeralda interromper a conversa se ajoelhando diante dele.
Espero um pedido de clemência ou algo do tipo, no entanto, ela só permanece em silêncio, inclinando o corpo para frente, numa reverência exagerada.
Os cabelos pretos caem tal qual um manto, cobrindo parcialmente o rosto enfermiço que supera em beleza qualquer uma das mulheres a enfeitar os salões londrinos.
As mãos apoiando o peso do corpo tremem, suspeito ser fruto da raiva.
— Não está esquecendo de nada, Esmeralda?—
Usa seu nome, coisa que quase nunca faz.
O ato a enche de fúria, posso ver pelo modo como fere a própria palma com as unhas, para minha desgraça e dela.
Doce e fresco... o aroma convidativo do sangue se funde a confusão de sentimentos.
Raiva, medo, tristeza e até mesmo desejo são transformados em fome.
Eu não sei que tipo de acordo selou com o demônio, dadas as circunstâncias estou prestes a descobrir.
Ouço o estalar singelo de um beijo tocando o sapato de couro de Giancarlo, vejo o sorriso de satisfação do vampiro, imerso no prazer de tê-la a seus pés, obedecendo seus comandos.
— É uma lição sobre humildade e gratidão.—
Explica e umedece os lábios, mal contendo suas reais intenções.
A única coisa que ele está fazendo é obrigar Esmeralda a realizar suas fantasias doentias, pois nunca conseguirá a submissão da sereia de bom grado.
Não é assim que se joga.
Tocá-la do modo que deseja envolve muitos riscos, riscos que superam o suposto encanto. Dormir com uma humana sem matá-la no ato por si só é difícil, dormir com uma criatura cujo sangue possui o aroma mais convidativo que já senti será o meu fim.
Esmeralda faz menção de ficar de pé, Giancarlo usa a bengala para mantê-la no chão, pressionando a cabeça de lobo em suas costas.
Ela resiste pouco, para tristeza do seu algoz, que se diverte com o inútil agitar dos braços no chão, buscando uma forma de fugir.
—Ainda não acabou, termine.—
O olhar de Giancarlo está em mim agora, não nela, dizendo em alto e bom tom quem a controla, que lhe pertence.
Sou obrigado a observá-la engatinhar até Carmine e Vincenzo, deixando um rastro vermelho quase imperceptível no chão, onde as palmas feridas tocam.
É demais para eles agora que não se alimentam de sangue humano. A dieta vegetariana compromete o autocontrole, principalmente no início.
As írises assumem um tom mais escuro, as mãos começam a se mover demais, e a inquietação se transforma num fechar de olhos simultâneo, procurando manter ao menos um resquício de sanidade.
Eu nunca provei o sangue dela e estou a travar uma luta interna para não beijar as palmas feridas.
Acontece que também nunca tive problemas com a sede, e se em mim dói, para o resto deve ser uma tortura ainda maior.
— Precisam caçar, agora.—
Alerto, enrolando por hábito minha mão ferida, a mesma que machuquei ao conhecer Esmeralda, com um lenço.
Tenho esperança da necessidade encurtar o espetáculo cujo único propósito é humilhar, esperança esmagada por Giancarlo.
— Falta um, machucou a mão dele duas vezes, deve um pedido de desculpas.—
Intervenho, temendo o óbvio.
Ela me odiará depois.
— Giancarlo, ter garotas beijando meus pés não integra o topo da minha lista de preferências. Contanto que siga as prescrições e responda as perguntas estarei satisfeito.—
A verdade brinca na minha língua.
Não é o sapato que eu desejo ter beijado, e tê-la ajoelhada aos meus pés, sangrando em sua camisola destruída não é prudente.
Descobririam de pronto que meu interesse por ela é tudo, menos acadêmico.
— Compreendo. Irei levá-la para cima e retorno para nos prepararmos, a caçada será longa. Carmine, Vincenzo, cuidem da bagunça.—
Observo Giancarlo erguê-la pelo cotovelo, arrastando-a pela escadaria.
Ela manca, muito, piora conforme a caminhada acelera.
Não posso fazer nada além de aproveitar a oportunidade de ficar a sós, nem que precise aceitar ficar acorrentado novamente.
No fim das contas, a família insana talvez tivesse razão, um simples beijo arrebatou meu juízo.
∞∞∞
※Próxima atualização: Quarta-feira.
※ Como eu havia dito no capítulo anterior, se continuassem sem votar e sem comentar não haveria mais atualizações duplas.
Atualizações duplas canceladas, o livro só será atualizado uma vez por semana.
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✔ Esmeralda e outras flores mortas| Carlisle Cullen
Fanfiction[+18 ✔ CONCLUÍDO Carlisle Cullen & O.C | Vampiro & Sereia | Esmeralda e outras flores mortas ✺Volume único |sem revisão] Cansado de ter seus hábitos continuamente postos à prova, Carlisle decide deixar a Itália. Sozinho e perdido, viaja para Londr...
14. CARLISLE: Ajoelhe-se
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