29 | Quase Doce

133 21 30
                                    

CLARICE


Desligo o secador de cabelo e o coloco sobre a pia do banheiro. Eu me sinto menos exausta depois do banho. Hoje o dia foi uma mistura de correria e tédio. Tive que acordar bem cedo para cuidar da loja com Genevieve, pois minha avó não tem estado muito bem e na sexta à noite, mamãe viajou para ficar com ela, por isso a responsabilidade ficou para nós.

Pego a toalha que deixei no gancho da parede, levo-a para a lavanderia e a penduro no varal. Quando volto para o quarto, Genevieve está com a cara enfiada dentro da minha mochila. Vou até lá e paro na frente dela com as mãos na cintura:

- Você pode me explicar isso, Batom? - Ela franze a testa, parecendo inocente e confusa. - Eu sei que me entendeu.

Genevieve abre um sorriso.

- Onde estão seus modos? Sinalize.

- Explique - gesticulo com a mão.

- Estava tentando achar algo interessante e saber o que vocês aprendem nessa escola de fresco.

- Você nunca olhou o caderno do seu primo? Estamos no mesmo ano.

Ela faz que não bem forte com a cabeça.

- Sei lá o qual o segredo daquele garoto, mas nunca me deixa olhar suas coisas. Talvez ele tenha uma playboy escondida - ela pondera, colocando a mão no queixo.

Genevieve faz referências como se tivesse nascido nos anos 90, mas só é dois anos mais velha do que eu.

- Acho que essa revista nem existe mais - observo. - Mas continue, você não vai achar nada de interessante aí também.

Abano a mão e vou até o guarda-roupa escolher algo para o jantar com meu namorado aqui em casa mais tarde.

Faz dois meses que Victor arrumou um emprego numa loja muito descolada de roupas. Todos os dias ele vai da escola direto para a loja, saindo tarde de lá. Como também trabalha aos finais de semana, temos nos visto um pouco menos. Hoje eu decidi fazer um jantar especial para nós para comemorar. Ele está muito animado por estar conquistando algo com o próprio esforço. Sinto em seu olhar e no seu jeito que as coisas estão melhorando. Acho que até os pesadelos não estão mais o atormentando com tanta frequência. O meu garoto está se tornando um homem e eu me sinto orgulhosa dele.

- Clarice! - Genevieve fala tão alto que eu acabo me encolhendo. - É perfeito! - Eu me viro para ela, que está com meu caderno aberto sobre o seu colo. - Você têm que lê-lo para o projeto!

Não sei sobre o que ela está falando, então chego mais perto e me sento ao seu lado na beirada da cama.

- Ele é tão profundo e real.

Me inclino sobre ela e vejo anotado em uma folha aleatória o poema que escrevi no dia em que trouxe Victor bêbado para casa.

- Amo como você descreveu o sentimento conflituoso de amar e sofrer. Você têm de ler o poema - enfatiza, insistente.

- Você acha mesmo? Não sei, não...

- Veja da seguinte forma - ela ameaça -: se você não ler ele, vamos ter que resolver isso no Casos de Família ou no Programa do Ratinho e não vai ser nada bonito.

Dou risada.

- Deus me livre de passar vergonha em rede nacional, mas não tenho certeza. Parece um pouco deprimente.

- Mas, Cachos, é exatamente assim como você que a gente se sente quando está em um relacionamento ruim.

Pisco um tanto aturdida e meu sorriso vacila.

Quase Doce Where stories live. Discover now