Ellie

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   Há alguns anos atrás, em uma terra longínqua da cidade, uma mãe estava prestes a dar à luz a sua terceira filha. Com medo que algo acontecesse com a criança, como foi o caso das suas outras duas filhas e seu primogênito, que desapareceram misteriosamente enquanto dormiam no berço, ela decidiu se esconder em uma  cabana de madeira rústica, que seu marido construiu quando era mais novo. A cabana era camuflada em meio às grandes árvores de uma extensa floresta. Ela era pequena mas bem trabalhada, contendo um carpete de urso no chão da sala após adentrar a casa, com  uma mesa de madeira, feita do tronco de uma árvore, no canto inferior direito e uma escada no centro que levava para o andar de cima, onde ficava o quarto do casal. Também havia vários utensílios que foram construídos com os objetos achados pela natureza, como vasos de plantas feitos com argila, e rede de dormir, feita com as folhas das árvores.

   — Querido, está na hora! Ahh!!! Ela está querendo sair… — Dizia a mulher, enquanto sofria com as dores da contração.

   — C-certo amor, e-eu posso fazer isso! — O marido estava claramente nervoso, mas tentava se conter perante a situação.

   Ele deitou a esposa o mais confortável possível em cima do carpete da cozinha, depois, correu para o andar de cima para pegar alguns travesseiros improvisados  de penas de ganso, e as colocou por debaixo da cabeça dela, segurando a sua mão o mais firme possível, e a tranquilizando da melhor maneira que pôde, enquanto ela se concentrava na respiração. 

   — Buáaa!!! — o choro do bebê ressoa  em todo o canto da casa, revelando um nascimento bem sucedido, depois de horas de esforço.

   — Amor, é uma menina! Uma linda menininha como achávamos.

   Após cortar o cordão umbilical com uma faca, o homem entrega o bebê para a mulher, que o envolve em uma manta branca e o segura em seus braços. Com um olhar de orgulho e cansaço, ela olha para a sua filha, deixando transparecer algumas lágrimas de alegria em seu rosto, que respinga no corpo do bebê.

   — Bem vinda ao mundo, minha pequena Ellie! 

   A criança começou a sorrir ao escutar o seu nome pela primeira vez.

   Alguns anos já haviam se passado, e a pequena Ellie já era uma mocinha, com os seus 11 anos de idade. Ela gostava de ajudar a sua mãe a limpar a casa, e quando terminava, corria pela floresta o mais rápido que podia, disputando corrida com alguns cervos que encontrava  pelo caminho, parando sempre debaixo de uma árvore perto do lago, onde sentava e aproveitava a companhia dos patos e peixes que nadavam ali. Ela amava observar os animais em seu habitat natural, poderia passar horas deitada debaixo daquela árvore observando a natureza, e como não tinha ninguém mais para conversar, além de seus pais, ela contava todos os seus problemas para os animais presentes e se divertia com eles.

   No mês do seu 13° aniversário, Ellie presenciou algo terrível, que a mudou sem ela mesmo perceber. Querendo animar a filha para comemorar o aniversário dela, o pai a levou para dar um longo passeio pela floresta, a levando em locais que ela não conhecia. Avistando algumas flores brancas e vermelhas mais à frente, os olhos da garota brilharam de alegria, pois eram as flores mais bonitas que ela tinha visto. Seu pai percebeu o que a Ellie queria, então ele foi na frente para recolher algumas das flores para agradar  ela, deixando a garota super animada. Depois de já ter recolhido algumas, ele decide voltar para entregá-las à filha, mas é surpreendido por uma abelha que sai da flor. 

   — Olha, filha, isso é uma abelha. — ele apontou para o inseto que voava para longe. — Cuidado com os ferrões dela, pois machucam e muito, hahahahah!

    Ele soltou uma gargalhada, fazendo a menina o imitar. Depois de entregar as flores para a garota, eles retomam o caminho. Porém, estavam tão distraídos com as magníficas flores, que não notaram onde estavam pisando. Ao sentir algo em seus pés, o pai para de andar e verifica o que era, notando que pisou em uma colmeia de abelhas que estava caída no chão, liberando várias abelhas furiosas que partiram para cima deles. Com o seu instinto paterno, ele correu para salvar a filha, a cobrindo com o seu corpo, e a levando para o mais longe que conseguiu daquele lugar. Horas depois de ter salvado a filha, ele faleceu assim que chegou em casa, pois não tinham nenhum remédio que serviria para curá-lo no local, deixando a sua filha e esposa, devastadas com a situação.

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