16. A transformação

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16. A transformação

A dor veio subitamente enquanto estava sentado em uma das poltronas em frente á lareira. Houve um grito animalesco no silêncio do escritório. Mil agulhas perfuravam cada centímetro da minha pele. Não sei quanto tempo durou. Em algum momento, meu corpo pareceu se acalmar, mas então fui jogado nas chamas mais quentes que já senti. A sensação era de ácido correndo pelas minhas veias. Queimando, derretendo e reconstruindo meu interior. Os ossos estralaram e quebraram, conseguia sentir se alongando. Meu cérebro parecia ter entrado em choque. Não conseguia concentrar em nada. Tudo era escuro, doloroso e confuso. Parecia acontecer uma batalha por controle. Como se duas bestas estivessem impondo sua dominância.

Horas pareceram se passar antes de conseguir retomar um controle mínimo sobre minha consciência. Quando parou, ainda não conseguia pensar. Era como se estivesse flutuando em um grande vazio. Então lentamente, algo começou a mudar. Primeiro veio o conhecimento de que era um Vampiro Real. O único datado em mais de 300 anos. Havia um conselho que a partir de agora deveria se reportar á mim, pois possuía o Título de maior poder dentre todos. Segundo, meus sentidos ficaram ainda mais aguçados. Terceiro, o conhecimento sobre coisas que nunca soube veio fácil, como se estivessem o tempo todo ali, somente á espera.

E por último, sentia aquela imensa vontade de algo. Um puxão que queria me levar para algum lugar ou alguém. Era fraco, mas á medida que minha consciência voltava ela aumentava e ambos pareciam lutar. Até que me transformei em puro instinto. Sem ter chance de retomar o controle.

Havia um cheiro de especiarias, escuridão e chocolate amargo. Uma mistura incomum, mas que de alguma forma parecia essencial para mim. Eu precisava possuí-la, senti-la em minha língua. Marcar como meu e não deixar ninguém se aproximar. Meu. Sim, aquele delicioso cheiro pertencia somente á mim e precisava reivindicá-lo antes que alguém mais o fizesse.

_Potter -Podia ouvir uma voz grave me chamando, o timbre de medo presente, assim como preocupação e cautela, parecia um animal acuado, fazendo o puxão ficar cada vez mais forte.

Um rosnado deixou minha boca, enquanto levantava do chão, ficando em posição de ataque. Olhando atentamente para a presa que estava á minha frente. Severus me encarou assustado, o rosto anormalmente pálido me observando cuidadosamente, enquanto dava alguns passos cautelosos para trás. Outro rosnado saiu de meus lábios, deixando os dois caninos á mostra, meus olhos indo de seu rosto para a varinha em suas mãos, um aviso claro para largá-la.

Lentamente, ele se abaixou colocando-a no chão. Os olhos nunca deixando meu rosto. Rosnei quando tentou dar outro passo para trás. As presas á mostra para incrementar meu aviso. Comecei a andar lentamente, observando e rosnando, eu queria algo, precisava urgentemente, mas não conseguia distinguir o que era. Tudo permanecia emaranhado em uma confusão de instintos.

_Esta tudo bem, Harry Não vou fugir. Você pode tomar meu sangue, apenas não me mate. -As palavras em um tom temeroso, entraram em minha mente, trazendo um pouco de triunfo, mas ainda não era o suficiente. Ele estava em pé, olhando-me com medo e receio. Esta expressão não deveria estar em seu rosto, mas era necessário. Minha presa deveria ter medo, tinha que mostrar meu poder e dominância. Um rosnado ainda mais animalesco e ele caiu de joelhos, a cabeça inclinada, enquanto desfazia alguns botões de suas vestes, deixando o pescoço á mostra.

Submisso. Entregue. Vulnerável. Ele estava se oferendo a mim como alimento. Isso mesmo. Sua submissão. Sangue. Era o que eu queria. Um som satisfeito deixou minha boca enquanto andava como um caçador indo atrás de sua presa. Suave. Mortal. Prestes a dar o golpe final.

Parei em sua frente admirando o pescoço branco e suave como as mais frágeis peças de cristais, minha boca salivando instantaneamente. Então me inclinei, uma de minhas mãos segurando com firmeza seu cabelo, impedindo-o de mover a cabeça, enquanto a outra agarrava seu quadril deixando-o firme e afirmando ainda mais minha dominância sobre ele. Exalei seu cheiro, ainda mais potente devido à proximidade, minha língua passou naquele ponto pulsante antes dos meus caninos fincarem em sua pele, sugando aquele delicioso líquido quente que descia pela minha garganta, alimentando um desejo que eu nem sabia sentir. Ouvi seu grunhido enquanto o corpo abaixo de mim estremecia de dor. E sua voz clicou algo em minha mente.

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