I

1.1K 64 33
                                    

Estar em um carro a 300km/h era algo comum pra mim, quase como respirar ou piscar os olhos

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Estar em um carro a 300km/h era algo comum pra mim, quase como respirar ou piscar os olhos. Era algo que fazia sentido.

Virei mais uma curva sentindo o carro rugir com a aceleração, dirigir um carro daqueles era diferente de dirigir meu carro da Fórmula 1, mas trazia a mesma sensação de liberdade. A pista não era a que eu correria em 4 dias, nem a situação era a mesma. Mas quando precisava espairecer, qualquer coisa servia.

Quando pequeno eu costumava treinar luta e conseguia conciliar isso com o kart, até o dia em que meu pai tirou isso de mim também. Socar alguma coisa podia me acalmar um pouco, mas nada jamais seria como acelerar e fazer curvas onde um pequeno erro poderia custar tudo.

Aquele momento em que você sentia que tinha o controle total de tudo ao seu redor, que tinha o controle total de toda a sua vida nas mãos, aquilo fazia tudo valer a pena.

Virei a última curva acelerando o carro antes de frear de uma vez levantando fumaça do pneu queimado no asfalto. Um sorriso escapou dos meus lábios quando o cheiro de borracha queimada invadiu minhas narinas. A melhor sensação do mundo.

Pulei do veículo encontrando Ollie me encarando.

- O que foi agora? - Perguntei tirando o capacete e ele deu de ombros me esticando o celular para mostrar as 15 chamadas perdidas. - Que merda hein?

- Seu engenheiro ligou também, mudaram outras peças no motor de combustão interna, então na sprint race você deve largar do meio pro fim do grid, mas talvez seja necessário trocar mais peças. - Ele coçou a cabeça e eu assenti tomando um gole do meu energético que estava ali. - O que você acha?

- Acho que a gente já tá na merda mesmo né? - Sabia que Ollie não tinha culpa daquilo, talvez nem mesmo a equipe tivesse culpa, mas eu estava puto com a situação. - Alguma coisa tem que ser feita para sairmos dessa situação.

Ollie suspirou dando de ombros e eu encarei a pista ensolarada, gostava mais do Rio de Janeiro do que de São Paulo, o clima ensolarado, uma vibe menos caótica. Se eu um dia precisasse me mudar para o Brasil escolheria uma casa no Rio de Janeiro, calmo, mas não demais, além de tudo, gostava das pessoas dessa parte do Brasil, não tinham problemas em respeitar a privacidade alheia.

Diferente de certas pessoas.

O telefone em minha mão me despertou dos pensamentos, outra chamada do mesmo número, eu poderia apagar o contato, excluir todos os seus dados, mas sabia de cor aquele número, gravei em uma das noites em que não conseguia dormir antes do campeonato começar e desde então estava com aquilo na cabeça. Bloqueei a tela recusando a chamada e entreguei o telefone para meu mecânico que suspirou pesadamente.

- Max.- Ele chamou minha atenção fazendo um sinal com a mão e eu dei de ombros, não ia atender aquelas ligações. - Cara, a gente devia ir, temos que pegar outro avião para São Paulo ainda.

- Que pena, ainda tenho o tanque quase cheio. - Dei de ombros e entreguei o telefone pra ele enquanto ele tocava. - Pode atender, fala que eu tô morto no quarto de hotel.

-Max! - Ele chamou mais uma vez, mas dei de ombros voltando pro carro e ligando o mesmo novamente. - Oi, eu sei que você já ligou antes, mas o Max está...

Há pouco menos de um ano ganhei meu primeiro campeonato, agora teria sorte se terminasse em terceiro. Lewis estava estourando tudo na Mercedes esse ano, tinha que admitir, eles tinham algo a mais e George Russell vinha atrás de Hamilton com um primeiro ano emocionante. Os dois pareciam uma avalanche em todas as corridas, chegavam e ganhavam, como se nada daquilo fosse mais do que uma brincadeira.

Eu estava esgotado, tanto física quanto emocionalmente.

A Red Bull tinha vindo com uma boa campanha, eles estavam dando animação para todos, mas a Ferrari por algum milagre do universo resolveu vir bem também, nossa sorte para manter o segundo lugar no campeonato de construtores era que Carlos Sainz parecia não ter se adaptado ao seu carro deste ano. No entanto, Charles Leclerc estava sendo uma pedra no meu sapato depois do Summer Break. O monegasco vinha acumulando uma série de P4, P3, alguns P2, fora suas chocantes vitórias e isso me deixava em grande perigo.

Eu estava aos poucos passando de melhor piloto de todos para piloto de meio de grid, de uma besta em pista para um gatinho medroso. E odiava não ser o melhor em pista. Odiava tanto que se tornava insuportável estar ao meu redor e agora vinha uma das corridas mais importantes da temporada.

Interlagos.

O ponto de virada de Lewis Hamilton na temporada passada, a casa de grandes nomes do automobilismo e minha chance de cravar um terceiro lugar definitivo no campeonato ou avançar para um segundo, quem sabe. Não seria fácil, nunca era, mas eu sabia que podia fazer aquilo, só precisava melhorar meu rendimento e torcer para que melhorassem algo no carro.

Afinal estava quase empurrando meu carro com as próprias mãos.

Liguei o carro em que estava mais uma vez acelerando o mesmo pela pista que havia alugado naquele dia. O motor rugiu mais uma vez me fazendo sentir como se tudo estivesse resolvido mais uma vez. Não precisava de muito para saber que encontraria todos os que eu menos queria ver em Interlagos.

Meu pai estaria lá, como sempre, o grande Jos Verstappen iria assistir seu garoto de ouro correr, como se ele se importasse com algo além do sobrenome que me deu. Teria também toda a imprensa em cima de mim 24 horas por dia, todos queriam um depoimento de Max Verstappen, uma resposta para os problemas, uma solução ou apenas uma declaração bombástica que faria mais pessoas ainda me odiarem. E ainda tinha ela, Kelly Piquet, ela jamais deixaria de ir a Interlagos, ainda mais com seu pai estando lá.

Como se já não bastassem todos os meus outros problemas.

Como se já não bastassem todos os meus outros problemas

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

NOTAS

E saiu a notícia que o mundo não acreditou...

Sim, eu mesma, a rainha das reaparições repentinas, estou de volta. Pra quem não sabe, vou contextualizar, sou uma grande fã da Fórmula 1 e também de MotoGP.

Após centenas de broncas e xingamentos, posso finalmente afirmar, aqui esta Azul, Vermelho e 33, minha primeira história relacionada ao mundo do automobilismo.

Azul, Vermelho e 33Where stories live. Discover now