Faces da Paixão (DEGUSTAÇÃO) - Livro 1

Capítulo 2 - Michigan - Lake City 2020

Era noite de lua cheia, com quase nenhuma nuvem, revelando um maravilhoso céu estrelado. No fundo, entre algumas árvores, era possível ver uma casa isolada com luzes piscando. Naquele local afastado, Flynn comemorava seu aniversário de vinte e sete anos, com direito a chapéu de festa, língua-de-sogra e um pequeno bolo que ele mesmo fizera, seguindo a receita que pegou na internet.

— Hum... Isso ficou uma delícia — ele comenta após passar o dedo no bolo e experimentá-lo. — Quer provar também? — pergunta ele em tom provocativo fitando alguém absorto.

Se um indivíduo olhasse de fora, notaria a silhueta de outras pessoas junto a Flynn, e pensaria se tratar de uma pequena comemoração familiar, entretanto, o cenário no interior da casa era bem diferente do que parecia. Ao invés de pessoas, haviam manequins espalhados pela sala, todos fantasiados, estando três deles em destaque: o primeiro tinha uma silhueta feminina, com cabelos castanhos e usava as roupas da mãe dele; O segundo, por sua vez, representava um homem e estava vestido com um traje esportivo que pertencera a seu pai; Enquanto isso, o terceiro manequim segurava uma maleta repleta de dinheiro falso e tinha um adesivo de interrogação colado no rosto.

— Eu acho que preciso de você — disse ele cantarolando na tentativa de separar cada palavra em sua fala. — Não vai falar comigo? — indaga ele enquanto rodeia o terceiro manequim com um sorriso aterrorizante.

Uma pessoa comum não veria motivos para comemorações, afinal, a adorável mãe dele, Maggie, tinha morrido de causas ainda não confirmadas pela polícia apenas algumas semanas atrás, apesar disso, Flynn não era uma pessoa normal.

Seu mundo virou de cabeça para baixo quando, em uma trágica noite de intempérie da natureza, ele perdera seu pai e ganhara um rosto completamente deformado, que assustava as criancinhas nas ruas e faziam os adultos olharem de forma estranha em sua direção, alguns com pena e outros com asco.

Ele aprendera da pior forma a ser forte, e principalmente não se deixar abalar por nada. Flynn conhecia muito bem a dor de perder alguém que amava. Quando seu pai se fora, ele pensou que não iria suportar. Por dias, estava tão abalado com a morte de Bruce que nem mesmo pensava em seu rosto deformado e em como sua vida seria um inferno, porém, quando Maggie partiu, ele se sentiu anestesiado. Era como se um vírus agressivo atingisse seu organismo pela segunda vez, mas encontrasse seu sistema imunológico mais forte e pronto para combatê-lo.

Pensativo, Flynn toca o rosto sem vida do manequim que representara seu pai. Uma parte dele, ainda sofria com a perda, e essa parte fez uma lágrima solitária cair pelo seu rosto, contudo, ele se obrigou a sorrir em seguida, secando a lágrima com as costas da mão. Era seu aniversário, afinal.

"É momento de comemorar, não de ficar chorando como uma criança." Pensou ele, enchendo sua taça com champagne e brindando sozinho.

— À vida! — propôs o brinde, antes de tomar o champanhe de uma vez só.

Ao som de um clássico do Kenny Loggins, ele começou a espalhar confetes e serpentinas, pela casa enquanto dançava animadamente. Em seguida, começou a estourar os balões decorativos, que passara a tarde inteira enchendo, até finalmente chegar a hora de acender as velas e cantar o seu "parabéns" solitário.

Assim que termina, Flynn fixa o olhar no manequim da maleta e um sorriso irônico curva seus lábios, antes de fechar os olhos e fazer um desejo, soprando as velas em seguida.

[...]

Na manhã do dia seguinte, ele acordou cedo com um e-mail do advogado, informando que o saque da herança deixada por sua mãe tinha sido aprovado. Ele estava oficialmente rico. Podia parecer bobagem falar daquela forma, já que ele sempre levara uma vida de luxo, repleta de regalias e privilégios que muitas pessoas na sua idade não tinham, todavia, era Maggie quem administrava a fortuna da família e a partir daquele momento, a responsabilidade passara ao Flynn, que sabia exatamente o que fazer com o dinheiro.