09. ESMERALDA : Flores mortas

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Minto.

A água não funciona mais como deveria.

Na Grécia ficamos numa casa onde me trancaram num porão com uma espécie de piscina alimentada pelo mar, nunca me senti mais saudável em toda a minha vida.

A verdade é que não quero ficar boa logo.

—Sairemos para caçar, não haverá ninguém.—

—Só deixe as coisas aí.—

—Às vezes eu tenho a impressão que me odeia. Não sou seu inimigo, vim ajudar.—

— Sim, é, e não, não se engane achando que veio me ajudar. Eles o trouxeram aqui para prolongar meu sofrimento, então pare de se comportar como uma pessoa boa, ou posso começar a gostar de você.—

∞∞∞

Adormeci na banheira após receber o café da manhã, um mingau de aveia decente.

Continuei ali até o anoitecer, sem a menor disposição ou interesse de me transformar só para ficar encolhida nos lençóis fofos. 

A porta se abre e eu afundo por completo na banheira, numa clara mostra de indisposição para receber mais alguém.

Giancarlo não foi, típico.

Após o incidente com Giuliano seria difícil ser deixada sozinha.
Espera, espera e espera, batendo insistentemente a bengala no chão.

Eu odeio o som e ele com igual intensidade.

Farto, enfia as mãos na água, me puxando para cima pelos ombros. 

—Achei que nunca mais ouviria sua voz outra vez.—

Nivela nossa altura, aumentando a pressão que faz em meus braços. O gesto brusco, rude, não combina com o tom ameno. 

— Conversar com quem não está disposto a ouvir é perda de tempo.—

— Não seja injusta. A mantive alimentada, vestida, e coloquei um teto sobre a sua cabeça durante todos esses anos.—

Lençóis caros.

Móveis sob encomenda confeccionados de madeira nobre.
Quarto limpo.

Comida de ótima qualidade.

Roupas encomendadas em ateliês. 

Giancarlo quer  que eu me sinta grata, pois não sou digna.

Os olhos vagam da minha boca para o colo descoberto, uma, duas, três vezes.

Normalmente a visão das escamas basta para fazê-lo mudar de foco.

Giancarlo já me olhou assim uma vez, e as coisas teriam terminado mal se Carmine não tivesse impedido de afundar as presas no meu pescoço, mas agora Carmine não está aqui.

Movo a mão direita em sua direção, e enquanto ele enumera o quão bom foi durante todos esses anos, minhas garras afundam na lateral do seu corpo, abrindo cinco cortes profundos no tecido do terno dele e em sua carne. 

Ele grita e sou jogada no chão, a cauda bate na banheira, que vira, ensopando o piso.

Por sorte não quebra. 

Avança na minha direção com os olhos queimando de fúria, me arrastar para longe é inútil, então fico parada observando a bengala com cabeça de lobo ser erguida.

—A única coisa que você fez foi me arrancar da minha família. Eu quero ir para casa.— 

O golpe esperado não vem, para no ar.

✔ Esmeralda e outras flores mortas| Carlisle CullenWhere stories live. Discover now