Capítulo 16 - Chapeuzinho Vermelho II

916 76 16
                                    

Narrado por Ítalo Travalon Ѽ Chapeuzinho Vermelho II


- Então gatinha, eu tenho algo a te contar.

- Eu também! Posso contar primeiro?

- Pode - dei de ombros e cruzei as pernas, pousei o queixo em minhas próprias mãos enquanto esperava Verônica iniciar o monólogo. Minhas intervenções eram sempre para 'sim' ou 'não', normalmente um 'aham' e um sonoro 'hum'. E eu estava completamente impaciente.

- Amigo, eu estou tendo uma sensação estranha.

- Gases?

- Não, não, é...

- Cólicas?

- Ítalo, posso falar sem ser interrompida?

- Tá - eu já não estava com saco mesmo, fiz cara de tédio e fiquei batendo os dedos na mesa. Tentei pensar em Benjamin, ele estava no hospital quase há uma semana.

Percebi que ela avaliou com cuidado o que me diria. Olhou para os cantos, suspirou algumas vezes, cruzou os braços e seus lábios tremeram ao tentar iniciar uma frase. Parou e desistiu no caminho.

- Você vai falar ou não?

- Posso confiar em você, certo?

- Verônica, decida-se se irá falar ou não, eu tenho algo para te dizer.

- Ok. Bem, eu estou namorando com o Arthur há seis meses.

- SEIS? - não contive o susto e me obriguei mentalmente a continuar sentado. Tentei ignorar por um momento que Arthur também era um lance romântico meu e tentaria ouvi-la da forma mais neutra possível.

Ela só fez que sim.

- Às vezes tenho uma impressão estranha, sabe?

- Não, eu não sei - fui sincero. E imitei Luuv.

- De que... estamos nos enganando, que ele não está nesse relacionamento como eu estou: entregue e disposto. Ele mal me responde, ele é frio e seco por mensagens, evita falar comigo por telefone. Sempre diz que está muito ocupado com o trabalho ou com o estudo. Mas, quando estamos juntos, é maravilhoso, sabe?

- O quanto maravilhoso?

- Maravilhoso, dez, de zero à dez.

- Hum.

- Antigamente ele me mandava alguns poemas.

- POEMAS?

- É. Depois descobri que era de um tal Gabriel Arantes. Ele disse que era fã do garoto. Mas, eu sinto que tudo entre nós seja como flores artificiais. 'Bonitas, mas mortas. Que não se desmancham com o tempo, mas que estão naturalmente condenadas à mesmice'.

- Que poético.

- É do tal Gabriel.

- Imaginei - disse desinteressado.

- Você acha que ele me trai?

Essa era a minha chance.

Pigarreei alto e olhei para cima, tentei juntar todas as forças para poder contar-lhe toda a verdade. Mas, nesse meio período ela acabou tendo um estalo de pensamento e se lembrou de algo, precisou me interromper, aceitei mais por medo do que por gentileza.

- Ele parece mentir o tempo todo. Não dá mais assistência - ela fez questão de frisar a palavra "assistência" e eu entendi que a periquita estava na gaiola sem poder voar. - Fala que está ocupado. Esses dias ele me mandou morangos e chocolates com uma poesia do tal Gabriel.

Encantados (Romance gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora