09 - Doente

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Estava tentando fingir interesse na conversa de Oliver sobre um jogo de futebol americano que haviam ganhado na semana anterior. Tentava a todo custo me aprofundar em alguma conversa que tiraria Andrew e Ethan da cabeça, tentando esquecer por algumas horas esse assunto.

Mesmo que eu olhasse Oliver com toda a minha atenção, era como se meus olhos desfocassem e imagens fossem passando através deles.

— Você está se sentindo bem? — Emily perguntou com o semblante de preocupação. — Está tão pálida. — Falou ao tocar em minha cabeça. — Você está ardendo em febre.

Eu havia notado um certo desconforto e um pouco de frio, esse era o motivo pelo qual estava de baixo de uma manta que mamãe havia trazido para nos cobrir no sofá. Porém, achei que era normal por praticamente todos estarmos de baixo da coberta.

— Será que você pegou um resfriado? — Papai perguntou checando minha temperatura com sua mão, assim como Emily acabara de fazer.

— Irei fazer um chá. — Mamãe avisou ao se levar e ir para a cozinha.

Meu nariz não estava escorrendo, eu não estava com tosse. Um resfriado a essa altura, sem seus principais sintomas estava fora de cogitação.

— Acho que é melhor deitar e descansar um pouco. — Sugeriu papai. — Você passou por fortes emoções essa semana.

Concordei com sua observação e mesmo que contestasse, de uma maneira ou de outra me fariam ir para a cama.

Papai me ajudou a subir a escada, uma vez que minhas pernas estavam pesadas demais e precisavam de auxílio para realizar o caminho.

Deitei-me a minha cama, papai me cobriu com uma manta leve para não aumentar minha febre e mamãe estendeu a xícara em minha direção para que eu pegasse e bebesse o chá quente.

Embora gostasse de chá, lembro-me bem que antigamente era difícil me fazer ingeri-lo. Quando criança apenas aceitava os comprimidos para me curar de alguma doença, evitava os chás até nos últimos casos.

— Beba tudo e tente descansar. — Mamãe pediu, deixando um beijo em minha testa.

Mesmo que o chá tenha descido queimando a garganta, tomei praticamente ele todo em um gole só, sentindo por fim o gosto do amargo ficar na boca.

Permiti fechar os olhos e adormeci com a calmaria do silêncio. O falatório no andar de baixo havia sessado talvez por um pedido dos meus pais.

Aconcheguei-me na cama, sentindo a falta de um corpo pequeno alinhado ao meu lado.

Pareço ter dormido por horas, pois a luz que adentrava o quarto antes, agora mantinha o ambiente escuro. Senti mãos tocarem meu rosto e ao abrir os olhos encontrei Ethan com seus olhinhos preocupados em minha direção. Uniu nossas testas como costumávamos fazer quando dormíamos e sorriu ao me ver sorrir.

— Você está doente, mamãe? — Perguntou preocupado.

— Só me senti um pouco mal. — Respondi. — Mas já estou melhor.

— Tem certeza que está melhor? — Até então não havia notado que havia mais alguém no quarto, Andrew estava encostado na parede do lado oposto, de maneira que não conhecia enxergá-lo.

— Estou bem, obrigada. — Agradeci.

Tentei me levantar sem fazer muito esforço, afinal precisávamos descer para jantar. Pelo cheiro era possível reparar que mamãe provavelmente havia preparado uma sopa.

— Como foi o passeio de vocês? — Perguntei curiosa para Ethan.

— Acho que a Samantha estava brava com o papai, mas ela foi bem legal comigo. — Contou animado.

— Ela ainda está nessa coisa do divórcio, mas acho que conseguiu aproveitar um pouco com Ethan. — Andrew contou enquanto descíamos os degraus da escada.

Quem sabe aos poucos, Samantha iria perceber que não era tão ruim seu marido ter um filho fora do casamento. Sei que deve ser difícil a sensação de tentar engravidar e não conseguir, como Andrew expôs, mas Ethan traria muita alegria para suas vidas.

A casa estava praticamente vazia, apenas papai, mamãe e Katie estavam na cozinha. Provavelmente os casais haviam saído para seus outros lares.

— Está se sentindo melhor? — Mamãe perguntou ao checar minha temperatura com a mão. — É não está mais febril.

— Estou. — Afirmei, sentando-me a mesa.

— Aproveitando que estamos aqui, gostaria de convidá-los para passar o natal com minha família e amigos em minha casa. — Andrew falou.

Papai e mamãe se olharam e em seguida olharam para mim, procurando por uma resposta.

Não sabia ao certo se me sentiria confortável em passar o natal com sua família, mas sabia que seu coração estaria dividido entre Ethan, sua esposa, Lilly.

— Acho que faria bem para Ethan se passássemos juntos. — Afirmei, fazendo com que Andrew sorrisse.

Eu não conseguia nem imaginar como seria uma noite tão especial, ao lado de Andrew com outra pessoa. Não conseguia nos imaginar como uma família moderna.

— Muito obrigado por concordar. — Agradeceu ele. — Quero que todos conheçam e tenham a oportunidade de conviver com Ethan.

— Eu devo isso a vocês. — Afirmei.

Não demorou para que Andrew fosse embora, afinal, mesmo que Samantha houvesse pedido o divórcio, ele estava tentando manter seu casamento e isso fazia parte de chegar em casa cedo e fazer companhia a ela.

Ethan não estava querendo tomar banho, e precisei fazer muito esforço para colocá-lo de baixo do chuveiro.

— Você tem que parar de ser tão teimoso. — Avisei, estendendo o frasco de shampoo para que ele lavasse seu cabelo sozinho.

Por sorte, Ethan sabia se virar bem sozinho quando o assunto era tomar banho. Desde muito cedo aprendeu a fazer as coisas sem depender de mim.

— Achei que o papai fosse dormir aqui. — Falou ensaboando seu corpo.

— Lembra que eu falei que o papai tem alguém muito especial? A Samantha? Ele mora com ela. — Expliquei.

— O papai não vai ir para casa com a gente? — Perguntou preocupado. — Vamos ficar sozinhos de novo?

Não sabia decifrar como uma criança de cinco anos conseguia entender tanta coisa e se expressar tanto como meu filho. Às vezes Ethan fazia perguntas que eu não conseguia responder, mesmo querendo cessar todas as suas dúvidas.

Gostaria de alguma forma acalmar seu coração preocupado em perder o pai de vista, um pai que ele sempre desejou ter por perto e que demorou tanto a aparecer por culpa minha.

De volta ao NATAL 2Onde histórias criam vida. Descubra agora