— Cuidarei de ti, minha criança. Ficarás bem. Tudo dará certo. — Senti suas mãos carinhosas alisando meu cabelo e logo depois fez – me beber algo amargo. Tossi engasgada pelo gosto terrível que aquilo tinha. Esforcei – me para acreditar nas palavras de incentivo de Ninsina, mas era tão difícil.

Eu só queria que tudo isso acabasse, só queria a certeza que a minha criança ficaria bem... Eu não mereço isso. O que eu fiz de tão errado nessa vida para ser castigada dessa forma? Por que comigo? Qual grave falta eu afligi aos Deuses para eles me castigarem assim? Eu nunca fiz mal a ninguém, eu só queria ser feliz, viver a minha vida normalmente.

Ninsina havia deitado – me na cama enquanto gritava ordens para as outras servas e para o Senhor Tuah. Ouvi movimentações no quarto e a tina ser preenchida, comecei a me sentir mais fraca do que antes. Tentei estender a mão para a imagem desfocada da senhora que parecia chorar compulsivamente agora.

Choravas por mim?

Estaria eu morrendo?

Se és da vontade dos Deuses eu não me importaria em deixar esse mundo... Se eu não puder ver a minha criança viva e feliz que eu seja levada com ela, então.

Senti meu corpo flutuar em um limbo enviesado, minha cabeça que estava pesada de repente se fez leve. E como em um passe de mágica me vi em um lugar belo, arejado e de muita paz. Véus se faziam presente em meu caminho e uma brisa prazerosa bagunçava os meus cabelos enquanto eu desbravava afastando cada véu que se impunha na minha caminhada exploratória. Assim que afastei o último véu avistei o mar, sentindo pela primeira vez a areia fazendo cócegas sob os meus pés. Uma nova onda de brisa mais forte passou por mim embaçando a minha visão e fazendo – me colocar meu braço sobre os olhos.

Assim que afastei o braço do meu rosto vi uma criança agachada brincando na areia, parecia uma menininha com longos cabelos negros. Meu instinto fez – me aproximar dela. O que estaria uma criança tão pequena fazendo sozinha de frente ao mar? Era perigoso, pensei preocupada.

Parando para pensar onde eu estava? Em um momento via – me cheia de dor e sangue, e em outro estava em um lugar de pura pacificidade. Aproximei – me devagar não queria assustar a garotinha, a criança estava com um vestido leve que flutuava ao redor dela como seus cheios cabelos. Seu cabelo era como um véu de seda negra pairando ao seu redor.

Sem esperar a criança voltou – se para mim, a tez azeitonada me impactou, não poderia ser... Mais assim que ela olhou - me reconheci meus próprios olhos nela, pressionei uma mão no coração e outra na boca tentando conter a emoção.

Minha filhinha... Minha doce menina estava em minha frente crescida e bela. Tão parecida com seu pai.

— Por que choras, mamãe? Não estás feliz em me conhecer? — Ela levantou – se e abraçou minha cintura em seguida. Não consegui formular nenhuma frase coerente apenas a abracei apertado acarinhando seus cabelos, a textura tão parecida com a de Mardok, alisei seu rostinho enquanto lágrimas molhavam minha fase. Tracei o contorno das suas feições como gostava de fazer com o seu pai. Eles eram tão parecidos que me era assustador. Fiz carinho na ponta de seu nariz admirando sua beleza. Minha princesinha, meu mais profundo amor.

— E-u... — Gaguejei de emoção me derretendo de amor por aquele serzinho tão perfeito.

— Eu estou mui-to feliz, muito feliz de te conhecer, minha princesinha. — Ela sorriu banguela de um dente o que me fez rir ainda mais.

— Quantos anos tens, meu amor? — Perguntei curiosa.

— Eu não sei, mamãe. Quer brincar de correr comigo? — Assenti sorrindo.

Da guerra ao AmorWhere stories live. Discover now