𝓬𝓪𝓹𝓲𝓽𝓾𝓵𝓸 19

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- Ah! Com aquilo. - ela apontou para algo atrás dela despreocupada.

Fiquei surpreso ao ver um animal que parecia um gato ou uma onça. As orelhas grandes e pontudas, os olhos escuros e o pelo branco e com a aparência macia, ele era maior que qualquer cavalo e estava deitado em um canto. As pessoas não se incomodavam com ele e muito menos quando respirava e fazia um som alto esganiçado - talvez fosse o efeito da bebida para que todos o ignorassem.

- Eu o nomeei de... - ela estala os dedos tentando lembrar. - Pompom! - disse por fim.

- Pompom? - segurei para não rir. - Certo. Agora pega o Pompom e vamos, precisamos voltar.

- Não! - clamou. - Aqui é legal!

- Não, Lua, não é! O vinho feérico é diferente dos humanos. E por isso te deixa assim.

- A-Assim como? - ela inclinou a cabeça para o lado.

Respirei fundo. Insistir com ela não ia levar em nada.

- Você fica sexy com raiva, sabia?

Ela disse simples de uma maneira boba. Sem perceber, sorri de canto.

- Então se não quer ir embora, o que quer fazer? - cruzei os braços sugestivo.

Ela sorriu de uma maneira que nunca a vi sorrir.

- Vem cá! - ela me puxou pelo braço e me levou até uma mesa afastada. - Roby, faz para ele!

Disse ela animada. O macho sentado tinha a pele azul e escamosa, ao orelhas pontudas e pouco curvadas, ele não era desta corte e pela mochila ao seu lado no chão, estava apenas de passagem.

- Lua, você me pediu pra fazer isso a noite inteira.

- Vai, por favor! - ela juntou as mãos. - O Lucien não tinha visto.

- Lucien? - ele franziu o cenho ao me encarar. - Filho do Grão-Senhor. É um prazer. - fez uma breve reverência.

- Roby... - Lua chamou sua atenção.

Fiz um lembrete mental: Lua encarna uma pessoa diferente do seu habitual quando está bêbada, me lembrava uma criança querendo atenção.

Roby retirou o baralho de cartas da jaqueta e espalhou em fileira alinhadas na mesa, e fez um convite para que me sentasse. Pediu para que eu pagasse uma carta e eu o fiz, a carta era de um raposa e uma besta.

Decorei a carta e coloquei de volta no baralho.

Ele pediu para Lua embaralhar e ela desajeitada quase deixando as cartas caírem, mas por fim as entregou de novo para Roby.

Ele retirou a primeira carta que era exatamente a carta que eu havia tirado, e rapidamente aquela carta em sua mão virou bolhas que voaram para cima. Isso foi o suficiente para Lua levantar da cadeira e se exaltar.

- Viu, ruivinho? Nem eu consigo fazer. - ela aponta para o macho. - E ele não me conta como faz.

- Truque é truque. - Roby deu de ombros.

Depois de uma pequena discussão entre os dois se estendeu, partimos para mais vinho e dessa vez eu acompanhei Lua. Ela fazia uma cara engraçada quando engolia o vinho e eu soltava uma risada alta.

Até que tocou uma música que eu conhecia desde criança. E por efeito do álcool me levantei cambaleando e estendi a mão para Lua que passei a chamar de Lulu. E ela sorriu e pegou na minha mão.

Assim a conduzi até o centro da taverna e subi na mesa quadrada e ajudei ela.

A música era da Corte Outonal, todos conheciam desde que nasciam. Até aqueles que passavam poucos anos aqui aprendiam a letra.

E não demorou muito para que todos começassem a cantar e bater as botas de couro no chão trazendo o ritmo. Lua entrou na onda batendo palmas.

Quando me dei conta eu e ela estávamos rodando em cima da mesa com as mãos entrelaçadas. Ela ria e eu também.

E pela primeira vez me senti vivo.

Mas logo aquela sensação foi para dor porque eu me desequilibrei e acabamos caindo no chão frio e sujo.

A primeira reação de Lua foi rir, o que foi contagiante pois estava rindo também. E completamente bêbado.

Meu coração estava acelerado e minha respiração escassa. Também estava suando, mas por incrível que parecesse a única coisa que eu estava preocupado era a sensação nova no peito. Fazia muito tempo que não sorria assim ou ao menos gargalhava e agora deitado no chão sujo com vinho e terra e ao meu lado estava o motivo de eu estar sorrindo.

A humana misteriosa de cabelos brancos.

Mais tarde Lua disse que queria dormir pois estava deitada em cima do que eu posso chamar de gato gigante, Pompom. Me aproximei dela sentando ao seu lado.

- Agora podemos voltar para a Corte Diurna? - perguntei.

Ela afirmou com a cabeça e resmungou alguma coisa que não compreendi. Passei os braços em seu ombro e atravessamos.

Em um piscar de olhos estávamos no salão da propriedade de Helion. Pompom ronronando atrás de nós servindo de almofada, Lua se aconchegou e aproximou seu corpo ao meu, apoiou a cabeça no meu peito e suspirou.

Havia uma lareira próxima e joguei meu poder acendendo e queimando a madeira. Encarei Lua e ela estava com um rosto calmo e sereno com a luz da lua que refletia no mesmo, com isso apoiei minha cabeça na sua e inspirei o seu cheiro.

- Boa noite, minha lua. - disse em um sussurro.

✶⊶⊷⊶⊷❍⊶⊷⊶⊷✶

𝓒𝓸𝓻𝓽𝓮  𝓛𝓾𝓷𝓪𝓻  • acotarWhere stories live. Discover now