Como não havia percebido antes? E mais importante, por quê essas memórias estavam apagadas?

— Agora que percebeu? — me pressionou contra seu corpo e eu fiz o mesmo. Não existia mais espaço algum entre nós.

— Você não mudou nada. — concluo. — Continua o mesmo arrogante, intolerante, prepotente, imprevisível, incoerente, detestável, e autoritário. — citei toda a lista de defeitos que havia dado a Thomas quando mais nova. Era disso que me lembrava dele. O garoto sem noção que conheci, e que desejava mais do que tudo, manter distância.

— Então, consegui mesmo chamar sua atenção. — falou como se estivesse orgulhoso de si mesmo.

— É, você conseguiu. Eu juro por Deus que nunca odiei alguém como odiei você.

Thomas riu, parecia ter adorado ouvir isso. Ele afastou meus braços que estavam em volta a suas costas, me arrastando para uma posição mais elevada. Uma posição que desse para que eu olhasse no fundo dos seus olhos. Me apoiei com os cotovelos, na grama fofa, e ao mesmo tempo irritante, por me dar uma sensação de coceira. Ele umedeceu o lábio inferior, mordendo um pouco. Segurou meu queixo, obrigando nossos rostos a ficarem um perto do outro. Fiquei nervosa.

— Ótimo, essa sempre foi a intenção. — falou como se fosse um segredo. A boca, tão próxima a minha. Nossas testas quase grudadas. Como eu queria beijá-lo, mas não podia.

— Só tínhamos onze anos e isso não era legal.

— Não ligo. Não me responsabilizo pelas merdas que fiz quando tinha onze anos. Eu gostava de te irritar e a culpa era toda sua. — à medida que meus olhos percorrem pelo rosto dele e param exatamente em sua boca, eu noto que estou evidenciando demais. Soa como se estivesse implorando para que ele me beijasse de vez.

— Está culpando a vítima? É, você sempre foi um babaca mesmo. — brinquei, mas aquilo era verdade.

— Você me deu a porra de um chute, arremessou livros em mim, me deu um tapa no rosto, e ainda por cima me ameaçou. Acha que é a vítima?

Fiquei boquiaberta diante do que ele acabou de falar. Ele não está mentindo, mas falando assim, faz com que eu me sinta uma descontrolada. Não deveria rir disso, mas acabei deixando escapar uma risadinha quando as imagens rolaram na minha cabeça.

— Me desculpe.

— O que você faria se tivesse a porra de uma faca na mão? Sua descontrolada.

Eu apontaria pra você.

— Nada. — olhei para baixo para não ter que rir. Thomas sabe que se eu tivesse uma faca, não hesitaria. — Mas só pra você saber, eu não arremessei livros em você. Nunca faria isso com os meus livros.

Tenho memórias vagas. Não consigo me lembrar tão bem, mas sei que nunca arremessaria livros em alguém.

Thomas sorri daquele jeito bonito, me observando. Quando esse momento acabasse, eu voltaria para a escola e iria ignorá-lo a todo custo. Por isso, meus olhos estão vidrados para ele. Como se fosse uma despedida, porque eu estava disposta a acabar com isso de vez. Por que tem que doer tanto? Por que tive que me apaixonar justo por ele?

— Eu tenho algo pra dar a você.

Mudei a posição, por já estar desconfortável com a grama machucando meus cotovelos. Ele demonstrou o que faz raramente. Demonstrou emoção nos olhos, e eu busquei desesperadamente especulações.

— Algo para me dar? — perguntei confusa ao mesmo tempo que estava curiosa.

A mão dele começa a tocar o meu pescoço. Apertei os olhos, arquejando pela boca. Não estava nos planos reagir assim com um toque tão bobo, mas eu de fato, senti a falta dele.

A última noiteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora