É quase seis da manhã e eu ainda estou acordada. Conversar com a minha mãe foi a coisa mais decepcionante da minha vida.
Ela mentiu o tempo todo, por uma vez na vida meu pai falou a verdade e eu acreditei nele, ela mentiu sobre tudo, ela alimentou uma coisa inexistente na minha cabeça, ela me fez odiar meu pai para ela conseguir roubar ele. Isso me decepcionou tanto.
Ela confessou tudo, disse que não sabia quem era meu pai, falou que quando nasci eu adorava ficar com o meu pai, mas aos poucos ela foi me afastando dele. Ela ficava o tempo todo comigo só para mim gostar mais dela do que dele, ela me afastava dele e depois falava que ele não gostava de mim. Reguei um ódio inexistente por anos e só agora a máscara dela caiu.
Agora eu estou no chão do meu quarto, com os olhos inchados de tanto chorar, eu não consigo e nem poderia dormir, daqui a pouco tenho aula e eu não queria me atrasar.
O sol ainda nem nasceu e eu já estou com a roupa para ir para a escola, eu preciso dar um jeito no meu rosto mas não tenho ânimo para levantar do chão.
Eu estou entre o fundo do poço e tenho que decidir o que fazer, Ir embora com quem mentiu a minha vida inteira ou ficar na mesma casa de um traidor? Isso atormenta a minha cabeça.
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— Garota, você está péssima. — Jaden diz assim que ele e seus irmãos passam por mim.
— Você ta' bem? Por que está sentada no chão? — Jayla pergunta parando do meu lado.
— Acho que minha pressão está baixa. — Respondo simples.
— Você comeu hoje? — Javon pergunta e eu concordo com a cabeça.
Não como desde quando cheguei da escola ontem.
— Seu rosto está péssimo, vem. — Jayla estende a mão, me ajudando a levantar.
— Eu to' bem. — Tampo o rosto com as mãos e logo Jaden para na minha frente.
— Você ta' mais depressiva que o normal. — Ele coloca o braço no meu ombro. — Quer me contar o que aconteceu? — Balanço a cabeça negando.
— Coisa da sua cabeça, eu estou bem. — Forço um sorriso.
Os três começam a falar coisas aleatórias e logo minhas vistas começam a escurecer, Javon que está do meu lado direito para de falar e eu logo sinto minha perna fraquejar.
— Glue. — Ele me chama. — Você ta' bem?
Pensei em concordar com a cabeça mas me desequilibrei e cai com tudo no chão, desmaiada.
— Porra. — Jaden se assusta e olha para trás. — Meu senhor jesus a garota caiu.
— Ela não ta' nada bem. — Jayla se ajoelha no chão. — Glue, consegue me ouvir? — Ela chama sem ouvir respostas.
— O que a gente faz? — Jaden pergunta para o irmão que está paralisado olhando para o chão.
— Eu não sei. — Ele se junta a irmã no chão. — Jay, consegue me ajudar a levantar ela? — Javon pergunta a irmã que concorda.
Jayla e Javon levantam a garota, segundos depois o garoto pega a garota no colo e segue seu irmão gêmeo.
Jaden estava abrindo caminho, típico dele chamar tanta atenção. Glue odiaria saber que ela desmaiada era o espetáculo da escola naquele horário.
— Por que ela mentiu para a gente? — Jaden diz indignado. — Ela não confia na gente? — Ele bufa.
— Não é hora de ficar bravo com ela agora, Jaden. — Javon entra na enfermaria da escola e coloca a garota na maca.
— Eu não consigo ficar bravo, olha que bonitinha ela toda torta. — Ele ri da amiga.
— Ela não ta' torta! — Javon se explica.
— Será que ela vai acordar logo? — O gêmeo brinca com o dedo da amiga. — Glue, você ta' me fazendo perder a aula. — Ele cutuca a amiga.
— Certo meninos, podem ir. — A enfermeira entra na sala. — Já encontrei o soro e vocês tem aula agora. — Ela completa.
— Não tem problema, eu vou ficar. — Javon diz e seu irmão arqueia a sobrancelha.
— Tem certeza, dude? — Jaden pergunta e o irmão concorda. — Ok. — Jaden sai da sala.
— Você é namorado dela, é? — A enfermeira pergunta arrumando as coisas do soro.
— Ainda não. — Ele diz e logo corrige. — Quer dizer, não, não sou namorado dela. — Ele completa.
— Sei.. — Ela sorri. — Tudo bem, fique aqui com ela, eu só vou na direção pegar a ficha escolar dela. Preciso ver se ela tem alergia á algum remédio. — Ela completa e sai da sala.
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Abro os olhos devagar, tentando me acostumar com as luzes da sala.
— Ta' fazendo o que aqui? — Pergunto vendo Javon sentando no chão com as costas na parede, mexendo no celular.
— Você me assustou! — Ele exclama desligando o celular e se levantando. — Você desmaiou do nada, resolvi ficar aqui com você. — Ele completa chegando perto e parando do meu lado.
— Hum. — penso. — Foi mal... que horas são? — Perguntei me sentando na maca.
— Oito e quinze. — Ele responde e guarda o telefone no bolso.
— Nossa, você é um doido mesmo. — Rio. — Ta' perdendo a aula por minha culpa.
— Relaxa, Glue. — Ele diz. — Mas e aí, você está melhor? — Ele pergunta olhando para mim.
— Eu estou com fome, queria um doce. a— Digo e a porta se abre.
— Oh, você acordou. — A enfermeira diz sorrindo. — Se estiver se sentindo melhor pode ir, qualquer coisa é só voltar. — Ela continua sorrindo e pisca os olhos para o Javon.
Arqueio a sobrancelha e encaro a mais velha.
— Seu namorado é um fofo. — Ela diz. — Não desgrudou de você nem um segundo, valoriza ele. — Ela sorri pra mim.
— Tudo bem. — Digo atordoada e me levanto. — Vem, Javon. — Abro a porta e me despeço da moça.
— Eu juro que não fiz e nem falei nada. — Ele se justifica e eu rio.
— Tudo bem, "namorado". — Faço aspas com a mão. — Que tal você ir ali comprar um doce para mim? — Tiro o cartão de débito de trás da capinha do meu telefone e entrego para o garoto.
— O que você não pede rindo que eu não faço chorando. — Ele faz careta ao ver a fila que tinha se formado ali. — Eu já volto, não cai e nem desmaia. — Ele brinca.
