Corte De Sonhos e Mudanças | ʳʰʸˢᵃⁿᵈ

Capítulo 1

Seu irmão riu baixo, passando os dedos entre os cabelos ruivos avermelhados, logo passando outra página do livro, indo para as próximas palavras, ele se encostou na poltrona confortável, colocando uma perna sobre a outra, e então voltou a ler.

Kara o ouvia atentamente, mesmo que o som irritante dos aparelhos a atrapalhassem, mesmo que não pudesse se mover ou dizer algo a ele.

Ela lembrou-se do infeliz dia em que foi pega inesperadamente por um carro em alta velocidade. E se não tivesse acontecido?

Ah céus... Ela teria levado seu irmão até os portões da escola, o teria dado beijinhos nas bochechas e na testa, então ele ficaria vermelho e resmungaria que ela estava o tratando como um bebê, Kara debocharia e o provocaria apertando suas bochechas e o olhando carinhosamente, ele sorriria e diria que a ama, ela diria que o amava também, ele entraria na escola e estudaria bastante, ela seguiria para o trabalho em sua cafeteria e atenderia muito de seus clientes fiéis.

Mas as vezes nem tudo é como deve ser, ou como ela desejava que acontecesse. Kara levou Kai em seu carro até a escola, não tendo nenhuma vaga em frente a escola, escolheu parar um pouco distante, ela caminhou com ele, planejando o abraçar muito e o dar beijinhos para que ele pudesse enfrentar a terceira série do colegial, ela sorria quando segurou a mão de seu irmão caçula, envergonhado que ficava vermelho sobre os olhares, mas nunca se afastava. Então, ouviu um barulho estridente, gritos aterrorizados e alarmantes, latidos frenéticos dos cachorros de rua, sua respiração parou por segundos, e seu coração baterá um pouco mais fraco quando olhou pra esquina e virá o automóvel preto e brilhante sobre o sol do dia. Por minutos ela não reagiu, Kai estava na mesma sensação que ela, tão assustado e petrificado quanto, mas o carro estava chegando perto, e bom...

Irmãos protegem irmãos, e dessa vez Kara foi o que sempre sonhou, como muitas outras vezes, ela o protegeu.

Estando ciente de todas suas ações, Kara se virou para Kai, segurando fortemente o colarinho da camiseta de seu uniforme escolar, ela não gritou e não disse nada, mas olhou em seus olhos e pode transmiritir tudo o que pensava, seu irmão gritou quando foi empurrado fortemente para trás, longe o suficiente do alcance do carro, e então ele rolou pelo chão, segundos se passaram até que ele pudesse levantar a cabeça e respirar novamente.

Quando levantará a cabeça procurando por sua irmã, não viu nada mais que o corpo dela sendo jogado brutalmente no ar com a batida do carro em alta velocidade, Kara então finalmente chegou ao chão, suas costas se arquearam, sua cabeça bateu no asfalto, objetos cortantes jogados por pessoas inconsequentes perfuraram suas costas, sua pele queimou ao se arrastar no chão quente, a respiração parou ao sentir a cabeça contra a superfície dura, seu coração travou quando sua espinha se incendiou e o barulho de algo se partindo.

Kai gritou, um som alto e estrangulado saiu de sua garganta, que se arranhou forte o suficiente para doer e sentir como se espinhos tivessem o perfurado, ele se levantou, os lábios tremendo e o rosto contorcido pelo choro que não controlaria e nem sentiu vontade de o fazer, não se importou com seus pertences ao chão, como seu valioso celular ou matériais escolares, tudo ficou para trás quando ele correrá até ela.

— Irmã! — Ele gritou. — Irmãzinha...

Kai chorou descontroladamente quando a pegou em seus braços, colocando sua cabeça sobre suas coxas, tocando os cabelos ruivos avermelhados semelhantes aos seus, soluços irromperam e rasgaram sua garganta, seu rosto doia e seus olhos ardiam.

— Chamem uma ambulância! — Gritou com todo fôlego. — Chamem uma ambulância!

Ele não sairá de perto dela nem uma vez, quando os médicos a levaram as pressas para a sala de cirurgia, ele ainda segurava sua mão, correndo junto a eles.