Capítulo VI

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Na tarde seguinte, na perfeita sala de chá da residência dos Pembrook, Charity lutava com sua vontade de questionar as amigas a respeito do duque de st. Albans. Não era possível que aquele homem caminhasse por aí sem sofrer qualquer consequência para com seu comportamento altamente censurável.

Contudo, naquele dia, seu papel era ser a melhor amiga possível, ao lado de Gwen Pembrook, que celebrava seu aniversário de vinte anos junto de Anastasia Radcliff e Louisa Templeton. Um conjunto de jovens adoráveis, há de se admitir.

Adoráveis e... virgens.

Era incabível de perder-se em pensamentos como aquele, mas Charity, agora que sabia mais sobre o sexo oposto, questionava-se se alguma de suas amigas pudesse ter tido um encontro secreto pela calada da noite em algum dos bailes que frequentavam. Ou talvez um visitante misterioso. Um entregador que deixava mais do que a correspondência...

Sua curiosidade advinha da necessidade de uma comparação. Precisava saber se sua experiência sempre seria decepcionante, ou se fora o duque que não cumprira seu papel como deveria.

Charity desejava pensar na segunda possibilidade, porém tornava-se mais provável que fosse a primeira. Nada naquela vida parecia justo para com as mulheres, e a elas resguardavam-se chás como aqueles.

Não que a garota estivesse insatisfeita. Apreciava a companhia de suas amigas, especialmente de Gwen, que desembrulhara seus exemplares com fervor mesmo com comentários de Louisa a questionando:

— Livros? Está feliz com livros!?

Aquilo rendeu boas risadas, e o tempo corria da maneira certa, mas havia algo que a impelia a querer quebrar os códigos que a mantinham perfeita. Por que não poderia simplesmente questionar as amigas sobre beijos de libertinos e toques à meia-noite? Por que não podia apenas ser... ela própria?

De fato, o encontro com um duque libertino é uma espiral de autodestruição escandalosa. Charity tinha de se preservar se desejasse conseguir um casamento e a vida confortável que lhe fora prometida, mesmo que não fosse ao lado do lorde que esperara.

— Soube que ele foi visto chorando... — disse Anastasia depois de morder um pedaço de bolo. — Sinto muito por esta situação, Charity.

Ouvir seu nome a trouxe de volta ao presente momento, onde os vestidos que usavam eram tão enfeitados quanto os quitutes doces que comiam junto ao chá.

— Perdão?

— Lorde Stevenson — explicou Louisa. — Ele foi visto chorando, parecia desolado.

— Curioso, não? Sendo que foi ele a romper a corte.

Charity apenas suspirou. Já estava começando a se familiarizar com tal feito.

— Ele deve ter tido seus motivos — falou, apenas pois era imperativo que algo dissesse.

— O canalha não se explicou!? — Gwen sempre teve uma personalidade mais acalorada.

— Ele não é um canalha, Gwen — apaziguou Charity.

— Ah, deve ser. Deve ter uma amante — inferiu Louisa, ácida. — Escapou de uma encrenca, Charity.

— A única razão pela qual lorde Stevenson nada disse foi porque não lhe dei a oportunidade — explicou-se a fim de acabar com hipóteses que ofenderiam o cavalheiro, que nada lhe fizera de tão cruel a não ser dizer a verdade e interromper seus avanços.

Um homem com muito mais honra do que Vincent Price.

— Não quis saber a razão? — Anastasia pareceu quase espantada com tal absurdo.

Um herdeiro inesperado (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora