Meu namorado está em uma banda

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Com a multidão aplaudindo ferozmente, respiro fundo e seguro a guitarra com força. Faltam duas bandas para se apresentar. A minha e a de Marco.

Consigo vê-lo do outro lado do palco, na lateral esquerda. Ele está com os rapazes de sua banda, conversando sobre algo que parece sério demais. Seu maxilar está tenso, sua respiração parece acelerada pela forma como seus ombros sobem e descem com rapidez, e ele gesticula sem parar com as mãos pálidas.

Ymir coloca uma das mãos no meu ombro esquerdo, e eu percebo que o apresentador do programa que estamos participando acabou de sair do palco. Ele fez a nossa introdução.

— Precisamos subir, Jean.  — ela sorri.

— Não se preocupe, vamos arrasar. — Reiner diz ao lado da morena, me lançando um sorriso presunçoso.

Eu concordo com a cabeça, respiro fundo e ando até o meio do palco. As luzes caem sobre mim e eu não vejo nada por pelo menos cinco segundos. Quando finalmente consigo me acostumar ao caos, identifico jovens entusiastas da música próximos das grades, alegres e saltitantes, sedentos pela próxima apresentação da banda queridinha do Brooklyn nos últimos meses.

Foi isso o que essa competição fez com a Brooklyn Baby. Nós não passávamos de três amigos em uma garagem antes da nossa inscrição para concorrer a um contrato com uma gravadora e alguns milhares de reais.

Até a minha família, que nunca acreditou no meu talento para a música, está aqui, na área vip. Eles vieram me ver. Isso me deixa nervoso porque hoje é a final, e se eu não ganhar pode ser que eles nunca realmente levem o meu sonho a sério.

Eu sou o guitarrista e vocalista da banda. Reiner carrega o título de baterista e no baixo Ymir dedilha com precisão. São meus melhores amigos, e os melhores no que fazem. Mas mesmo acreditando cem por cento em seu potencial, minhas mãos ainda tremem de nervosismo, a ansiedade falando mais alto.

Olho para Marco. Ele parou de conversar com sua banda apenas para se virar em minha direção e me dar aquele sorriso caloroso de quem diz "boa sorte", e eu sinto o seu incentivo me atingir como uma dose de vodka em um corpo sóbrio.

Era o que eu precisava. Respiro fundo uma última vez, focando no rosto do amor da minha vida e, internamente, percebendo o quão lindo ele é.

Foco, Jean.

— Nós somos a Brooklyn Baby! — digo no microfone, agora entusiasmado, e consigo perceber o quanto Marco está feliz por mim.

Todo mundo grita. Acho que somos mesmo os preferidos da competição, porque não há barulho igual ao que se ouve quando subimos ao palco. Acredito que o nosso repertório impecável de músicas dos anos 2000 consegue como ninguém envolver o público naquela nuvem de identificação bizarra de quando se está ouvindo o rádio e algo que você conhece começa a tocar.

Escolhemos Lou Reed para a final do concurso de música, e confesso que não achei que nos receberiam tão bem com algo tão velho. Mas ainda bem que eu estava enganado.

Quando Reiner bate as baquetas uma na outra quatro vezes indicando que iria começar e as primeiras notas ressoam, todos reconhecem e cantam junto com a gente quando trago a letra ao público.

Com a boa recepção, fico mais tranquilo. Meu coração estava quase saindo pela boca. Eu mal posso conter o nervosismo que é participar deste concurso, principalmente sabendo que Marco está tão perto. Ele é um concorrente muito difícil de lidar: esperto e cauteloso demais, o guitarrista de seu grupo.

Tenho sorte de que não é o vocalista. Eu não conseguiria competir com a voz dele mesmo que tentasse por anos.

O vi cantar quando estive na sua casa, uma vez, durante as férias de verão. Ele queria me mostrar a sua coleção de jazz extremamente rara da qual conseguia tocar todas as músicas. Eu nunca vou esquecer da sua voz enquanto ele cantarolava distraído pelo quarto.

Brooklyn Baby | JeanmarcoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora