PRÓLOGO

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O dia da escolha.

Engoli o choro, assim como Maxon mandou. Talvez eu não estivesse no direito de pedir absolutamente nada. Encarei Celeste, que continuava sem entender o porque de eu estar com um rosto tão triste. Eu não sei se consigo fingir uma cara de felicidade, mas só o fato de não estar aos prantos deveria ajudar.

Gravil adentrou o grande salão, subiu ao palanque, e começou a discursar sobre a seleção. Os acontecimentos, as entrevistas, as despedidas, e as expulsões. Tudo era passado novamente pelo grande telão, onde assistíamos o decorrer daqueles meses, que hoje, se parecem anos.

Lá estava eu, na maioria das imagens. Andando com Maxon no nosso primeiro encontro pelo jardim, antes dele mandar os fotógrafos saírem. O que foi ótimo,
porque se não teriam me filmado dando um chute em suas partes. Logo depois, estávamos tirando fotos para a revista, e sorrindo um para o outro durante as refeições. Uma das fotos me mostrava com as mãos na orelha, como se estivesse distraída. Mas eu me lembro daquela noite, eu queria vê-lo após o jantar.

Talvez todos já tenham a certeza que eu serei a escolhida. Isso justificaria os muitos momentos em que eu apareço, sendo reproduzidos nas telas. O número de fotos em que eu estou presente é loucamente maior que os de Kriss, que é minha maior concorrente.

Ainda assim, suas fotos também estão ali, para tirar minha paz. Com menos frequência, mas seus momentos aparecem. Ela e Maxon no cinema, galopando, e até aprendendo a atirar. Kriss estava bela nas fotos, como uma verdadeira princesa deve ser. Terão ótimos momentos para agradar a população após minha saída.

Uma foto minha com Maxon apareceu no telão, na festa de Halloween. Estávamos abraçados, completamente entregues. Foi ali que soube que realmente seria sua. Foi naquele momento, onde as dúvidas realmente foram embora pela primeira vez. Elas voltavam, as vezes, mas a certeza retornava sempre maior!

Encarei Maxon, que há algumas horas eu tinha certeza de que seria meu noivo, e ele olhava atentamente para o telão, com algo muito parecido com dor estampada no rosto. Porém, sua educação na realeza o ensinou a ser forte, e assim que percebeu que poderiam captar seus sentimentos, se endureceu e fingiu não sentir nada.

— Maxon? — Falei baixinho, criando coragem para expor tudo o que sentia. Se havia a mínima chance de reverter aquela situação, então eu precisava tentar.

Seus olhos castanhos me encararam, duros como pedra. Seja lá o que tinham ali, não vinha de Maxon.

— Comporte-se, América, a menos que queira que eu exponha que todos esses momentos não passaram de uma grande mentira. — Sua voz rígida me fez ficar com medo.

Ele não teria coragem, teria?

— Você me mandaria? Deixaria que fizessem comigo o que fizeram com Marlee? — Perguntei, tentando segurar as lágrimas.

Maxon se contorceu na cadeira, incomodado com a pergunta. Seus olhos se fecharam por um momento, pensando em algo que sou incapaz de saber, mas quando finalmente se abriram, ele parecia mais calmo.

— Não. Não mandaria. Ao contrário de você, fui verdadeiro quando disse que estava disposto a te ter ao meu lado. Já te disse, sou o perdedor do dia.

Abaixei os olhos, piscando centenas de vezes tentando espantar as lágrimas. Nada adiantava, eu perderia Maxon para sempre.

Esperei os vídeos terminarem, e enfim levantei a cabeça. Gravil começaria às perguntas.

— Diga-me, meu príncipe. O que poderia dizer da estadia dessas moças em sua casa?

Maxon pegou o microfone, sem muita paciência, mas ótimo em disfarçar, abriu um sorriso que enganaria bem a população que estivesse assistindo.

— Nunca antes vi tantas mulheres ao meu redor, Gravil. Foi assustador. — Ele disse, fazendo todos gargalharem.

Parei de prestar atenção naquilo. Hoje eu seria enxotada, e só o que eu podia era pensar no tamanho do meu sofrimento. Estive meses indecisa, sem saber se queria Maxon ou não. Quando finalmente decidi sobre isso, é ele quem não me quer. Ele se quer me deu direito de explicação.

Olhei para os lados, encarando as paredes luxuosas. Eu me adaptaria a morar aqui. Seria uma boa princesa, e uma boa esposa. Tenho certeza disso.

Maxon continuou respondendo perguntas, e Gravil sorria a cada vez que ele soltava uma de suas piadas. Kriss o olhava com devoção. Como se o mundo estivesse finalmente sorrido para ela, ela seria a escolhida, casaria com o homem que ama, e enfim descobriria como seus filhos seriam, com os cabelos de Maxon e seus olhos. Eu sentia vontade de vomitar apenas em pensar.

As perguntas pareciam não acabar. Demorou uma eternidade até Gravil fazer a pergunta que realmente que todos queriam ouvir.

— Sem mais delongas, meu futuro Rei Maxon Schreave. Nos conte quem será a próxima rainha de Illéa!

Maxon se levantou, elegante, abotoando o paletó, e tomou seu lugar ao palanque.

— Queridos filhos de Illéa, obrigada por acompanharem até aqui a minha seleção. O evento mais grandioso do país aconteceu, aqui dentro de minha casa, e não tenho dúvidas de que fui o mais sortudo dos homens, por partilhar da companhia dessas garotas por uma longa estadia. Entre elas, seis se destacaram, e entre as seis, duas me mostraram veementemente o quanto seriam boas esposas, e consequentemente boas governantes para nosso país. — Suas palavras bonitas escondiam bem a sua tristeza. — Kriss Ambers tem o carisma e a paciência que precisamos para que nos mantenhamos equilibrados, e América Singer, bom, América demonstra força e coragem por si só a cada vez que abre a boca para dizer alguma palavra. Essas duas garotas cheias de vida conquistaram meu coração, mas uma delas se sobressaiu. — Disse ele, se virando para me encarar. Seus olhos não estavam diferentes dos meus. Doía em Maxon dizer aquilo, da mesma força que me doía ouvir. — Entre guerras, conflitos, ataques rebeldes, e um país precisando urgentemente de cuidados, a paz e a calmaria me parece a melhor escolha. Minha futura esposa, e sua próxima Rainha será.... Kriss Ambers!

Percebi o queixo de August e Geórgia caindo, assim como o de Celeste. Elise parecia confusa, e até mesmo a Rainha carregava um semblante diferente do que tinha em seu rosto há poucos minutos atrás, antes do anúncio. Todos ali pareciam não querer acreditar.

Kriss sorriu, com lágrimas nos olhos, e Maxon foi ao seu encontro, a pegar pela mão. Foi o exato momento em que o barulho estrondoso de uma bomba de confete fez com que as alegrias e as incertezas de todos ficassem de lado. Um grito arrepiante me fez deixar os meus motivos para trás, virando-me rapidamente para ver a pior das cenas. O Rei Clarksson, com as mãos na barriga, enquanto uma rajada de sangue escorria por seu elegante terno. Alguém o havia baleado, e havia aproveitado a comemoração para fazer isso.

Se antes o tempo havia demorado a passar, agora tudo parecia estar acelerado. Em segundos, ele já não estava mais no grande salão, assim como a Rainha. Foi levado, ainda que baleado para um dos abrigos.
Um dos guardas empurravam as pressas Kriss e o Príncipe Maxon, que procurava por alguém na multidão. Pensei por um momento que poderia ser eu.
As ex selecionadas corriam, sem esquecer onde ficava as saídas e os abrigos. Mas eu continuava parada, como no dia da floresta. Eram dores demais para um único dia. Talvez alguém poderia acabar de vez com elas.

Mas, de repente alguém puxou a minha mão, me arrastando com força, e me tirando do meu devaneio.

— Você pode ter perdido essa merda de concursinho, mas a sua vida você não vai perder! — A voz de Celeste soava cansada, enquanto ela mexia o pé por nós duas, me carregando para algum lugar ao fim do corredor.

DEPOIS DE A ESCOLHA: DE VOLTA AO CASTELO.Where stories live. Discover now