Capitulo 2

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Entrada no Pronto Socorro.

Os sonhos estranhos continuavam. Sempre parecidos e trazendo um medo avassalador e formas estranhas que a perseguiam por corredores brilhantes demais ou então escuros e velhos demais.
A dor também era bem presente nos sonhos, as vezes vinha por conta própria as vezes era causada pelos terríveis bisturis de laser.
Alguém falava com ela, tentando acalma-la, talvez até explicando algo mas parecia estar tudo borrado.
Mas algo importante parecia lhe escapar.
Tudo, havia, acontecido mas não mais acontecia?

Bastou essa pergunta para que ela despertasse,em um barranco cheio de mato em algum lugar desconhecido. As estrelas acima brilhavam e os grilos cantavam mas mesmo em um cenário calmo ela estava com todos os seus sentidos alertas e seu sangue pulsando loucamente devido a adrenalina.

Se mover era torturante e no início se arrastar sem se importar com a sujeira que encardida suas roupas e pele era tudo que conseguia.
Mas havia lugares que precisava andar e cada passo causava um dor lancinante. Náuseas e tonturas vinham a cada passo dado.

Entrou em um lugar tão iluminado e barulhento cheio de vida e então apos pouco tempo tudo escureceu .

-Doutora é uma emergência! - avisou uma enfermeira e a Doutora Tânia correu para atrás da jovem assustada indo para ponta de uma maca.

A jovem não estava apenas suja e mal trapilha, também estava cheia de hematomas e horrendos cortes, bem profundos, por todo lugar descoberto.Ardia em febre e suava sem parar.Falava coisas sem nexo, tremia e choramingar cada vez que alguém a segurava com um pouco mais de força.

- Hanna, leve para o Rx e pessa exames de sangue completos...e também o exame de anti estupro. Já acionei a delegacia da mulher e tambem o conselho tutelar, pode ser ilusão de desnutrição mas acho que ela não tem mais de que 15 ou 16 anos.- a dra. Olhava pesaroso para a jovem. Não era como se casos de prováveis abusos não fossem comuns no seu trabalho mas aquela jovem...algo terrível havia acontecido e qual fosse a natureza do acontecido a havia desnorteado e apavorado.

E não era para menos ao cortarem os farrapos das mangas da blusa e das pernas das calças as feridas brutais em seus braços e pernas fizeram toda a equipe ter náuseas e segurarem o choro.
Seu o rosto e mãos estavam em carne e osso e era doloroso de ver.

Porém depois de delicadamente a limparem tudo ficou pior.

Ao retirarem o restante da roupas sujas da jovem, as enfermeiras se assustaram com o quão profundo e longos eram os recortes na carne dos braços da jovem como se tivessem recortado retângulos de seus braços que se estendiam até quase seus pulsos e começavam pouco antes de seus ombros indo até quase os ossos.
Aquela monstruosidade havia sido feita em ambos os braços e pernas da jovem e também havia marcas de queimaduras em partes ao longo de todo seu corpo.

Porém o pior fora feito nos pés. Os pés diferente dos outros membros marcados, não tinham cicatrizes "limpas" e sim marcas de queimaduras quadradas na parte de cima e um retângulo mal formado de pele por toda a sola como se ela tivesse sido cortada ou até mesmo rasgada e o tecido tivesse que crescer loucamente causando aquelas anormalidades nas solas dos pés. Parecia que os pés criaram bicos de pele dura e horrenda.

A Dr. Tânia respirou fundo ao olhar de perto a jovem limpa e vestida com a camisola hospitalar.
Realmente era jovem, uma criança com toda vida pela frente e que teria que lidar com tudo que lhe fizeram.

Muitos amigos e colegas ao seu redor lamentavam comovidos,os novatos deram todo tipo de desculpas para saírem dali.
Ela não os culpava.
Mesmo depois de anos não havia se habituado àqueles tipos de casos.
Mas aprendeu a enfrenta-los com o tempo. Eles também aprenderiam.

Todas as comodidades possíveis foram tomadas.
O que infelizmente foi apenas uma maca mais confortável e nova possível na enfermaria em um lado bem afastado da ampla sala de maçãs. O local foi dividido permanente com uma cortina e bancos para afastar qualquer um que não fosse da equipe médica.
A última coisa que jovem precisava era de bisbilhoteiros sem contar que com certeza ela não acordadaria em bom estado mental,acreditavam todos.

Mas ninguém imaginou o que o seu acordar poderia causar.

Então ela começou a acordar.

No princípio ela teve apenas picos estrondosos de febre e delírios. Chamava por sua mãe,por alguém chamado Zeke e por sua Dinda.

A toda hora ela transpirava litros e mais litros de suor de suor, sua respiração estava fraca e entrecortada, parecia que ia sucumbir.
Depois de horas a febre se foi do mesmo modo que apareceu subitamente desapareceu. Ela abriu os olhos assustada.
Não respondia o que lhe perguntavam, não reagia bem a toques ou exames, mas uma sedação a controlava.

Até que certa hora da madrugada acordou gritando, não importava como falavam com ela a jovem não percebia que estava acordada, e que o que a perseguia em seus sonhos não podia mais alcança-la ou machuca-la.

Todo seu corpo começou a tremer,sua respiração ficou mais e mais ofegante e as marcas em seus membros começaram a sangrar e também a soltar uma espécie de líquido azulado.

Com um puxão ela arrancou o acesso da medicação e jogou o carrinho do oxigênio longe, fazendo o cilindro metálico rolar para longe, aos pés da equipe de enfermagem que corria desesperada para conter a jovem (e acalmar os outros pacientes) , porém nem mesmo quatro enfermeiros fortes conseguiram conte-la. Um por um ela os jogou para longe, torcendo seus braços, agarrando seus pescoços e sem mais ninguém em cima de si ela jogou seu corpo para o chão e começou a se afastar das máquinas cheias de tubos e da cama em frangalhos.

Os outros pacientes começaram a gritar! Os que conseguiam andar ou ao menos cambaleante saíram da sala de observação o mais rápido que puderam e os ue não podiam resavam e horavam ao verem a jovem se arrastando pelo chão chorando.

Assim que conseguiu melhorar sua respiração a jovem começou a se apoiar nas paredes,tentando se levantar, mas na primeira tentativa a dor foi tão aguda que ela caiu de novo.

Olhando para o chão viu sangue o manchando vindo de seus pés e ao tentar toca-los viu o que haviam feito com suas pernas e braços.

Congelou e depois gritou de terror fazendo os vidros das janelas espatifarem, os aparelhos eletrônicos explodir e toda luz do andar apagar.

Olhou em volta confusa. Sentiu uma picada no braço e tudo escureceu.
Mas pela primeira vez em muito tempo ficou feliz por sentir a picada da agulha em seu braço e cair na escuridão debaixo de suas pálpebras.

Marcas reluzentes grau 1.Where stories live. Discover now