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As rosas murchas se contrastavam com as margaridas de pétalas viçosas. Toda manhã eram agoadas com a mesma cumbuca e com a mesma quantidade de água, mas por que umas estavam morrendo e as outras não? Desde o dia que foram descobertas, receberam o mesmo tratamento, ou ao menos era o que deveria ter acontecido.

Pegou mais um pouco de água e jogou nas flores, devagar, aproveitando a mínima fragrância. Admirava o pequeno amontoado das plantas com pena e peso no coração. Passou a ponta dos dedos nas pétalas murchas, era como tocar em um espinho venenoso.

Antes de ir embora olhou mais uma vez para trás. Toda vez que deixava as flores ali sentia como se tivesse deixado seu melhor amigo para trás. Fungou e passou as mãos nos olhos enxugando qualquer resquício de lágrimas.

Deixou seus sentimentos para trás e seguiu seu caminho de volta.

O peso da falta ficava cada dia mais pesado e doloroso de carregar. Já não contava mas os dias e nem olhava a data no celular que pouca bateria tinha. Tinha durado tanto tempo com a ajuda de carregadores portáteis que tinha pego do antigo trabalho, sem contar que nunca o deixava ligado sem necessidade.

Esqueceu das horas, das datas, dos momentos, dos sentimentos, da motivação, da vontade de acordar, da necessidade de contato, esqueceu das suas necessidades quando o garoto de cabelos castanhos que costumava ser seu melhor amigo, tinha esquecido das suas também.

Já estaria em "casa" se não fosse curioso demais. Havia ouvido barulho de água dentre as árvores e não se importava se poderia morrer indo em direção aos ruídos, só se importava em fazer algo, só queria mudar algo em sua vida e nem que esse mudar fosse acabar com ela.

Caminhava sentindo folhas e galhos o machucarem a medida que ia apressando mais ainda os seus passos. Sentia seu coração palpitar rapidamente em pura ansiedade e nervosismo, era como se ele pudesse sair de dentro do seu peito.

Quanto mais andava mais o barulho aumentava até se revelar ser um extenso lago de água cristalina. Olhava com os olhos brilhantes para os peixes que tinha visto de relance a nadar por ali. Porra, finalmente comida, estava literalmente morrendo de fome. Estava magrelo e faminto, então, por extinto, empunhou uma pequena faca e pulou no lago. Não se importou se tinhs molhado suas únicas roupas enxutas, só queria um peixinho para matar sua fome.

Nadou feito um louco atrás dos pobres animais que corriam de si mais rápido que ele podia acompanhar. Todo esse vai e vem sem resultado algum o deixava frustrado. Saiu da água irritado, jogou a faca na terra e logo se jogou ali ao lado. Respirava rápido por causa do exercício rápido demais para seu corpo fraco aguentar.

Fechou os olhos com força sentindo a quentura do clima esquentar todo seu talhe esguio. O escuro era reconfortante para si depois de mais uma tentativa falha de se alimentar devidamente, se escondia ali como um caranguejo se esconde na sua concha.

Tudo parecia calmo até sentir pingos de água pingarem em seu rosto junto de cheiro ruim de peixe. Uma careta de nojo e confusão tomava conta da sua face. Rapidamente passou as mãos no rosto, desesperado com o mal odor que tomava conta de seu olfato. Abriu os olhos dando de cara com o bicho marinho perto da sua face. Gritou assustado. Só poderia estar enlouquecendo!

Devagar subiu seu olhar para o rabo da sardinha e viu um dedo segurá-lo. Arregalou os olhos, com medo pegou qualquer coisa que tinha no bolso e apontou para a sardinha. Eu não estou com o meu cérebro normal, definitivamente não!

A risada alta quebrou o silêncio do lugar fazendo Donghyuck fraquejar. Odiava aquele sentimento de impotência e tinha sentido isso justamente naquele momento depois de ouvir a gargalhada no meio de tantos outros sons.

Sentiu seu coração parar ao encarar o par de olhos redondos extremamente escuros. Não conseguia pensar em nada, mas sentia seu corpo congelar naquela linha do tempo o deixando nervoso. Respirava afoito enquanto sentia seu coração bater tão forte e rápido que doía.

Os dedos frios tocaram sua derme quente como um choque elétrico. Seu cabelo da nuca se arrepiou quando o toque passou para um carinho singelo na sua bochecha avermelhada.

Não queria chorar mais uma vez, mas era difícil segurar as lágrimas. Engoliu o choro mas não aguentou quando a voz grave começou uma frase.

Os braços magros rodearam seu corpo o trazendo para mais perto o fazendo enterrar sua cabeça no peito alheio deixando suas lágrimas molharem a camisa do outro.

Não queria sair dali nunca mais, era mais reconfortante que acordar cedo de manhã e poder voltar a dormir.

[...]

Na margem da laguna dividiam o calor da pequena fogueira e a carne do peixe que era relativamente pequeno. Compartilhavam o momento em silêncio apenas aproveitando os barulhos da natureza ao redor.

Terminaram o peixe depois de enrolar muito para comer sua carne. Mark olhava para o esqueleto do peixe com pena. Agradeceu a sardinha por ter sido alimento para ele e Donghyuck e depois deixou suas espinhas queimarem no fogo. Hyuck sorriu com o ato, foi engraçado ver o canadense se despedir de um bicho que ele mesmo matou e comeu.

Tinha muito o que falar mas não queria sequer abrir sua boca. Suspirou tirando o cabelo molhado do seu rosto e encarou de volta o garoto ao seu lado, este que o fitava sem fraquejar. Se sentiu nervoso diante os olhos escuros como obsidiana. Desviou o olhar sentindo suas bochechas esquentarem quando pensamentos estranhos começaram a habitar sua mente.

— Você está be...

Antes que pudesse terminar sua frase, foi interrompido pelos lábios rachados juntos aos seus num selar que parecia nunca ter um fim. Seu coração palpitava tão rápido quanto o bater de asas de um beija-flor. Era estranho se sentir de uma forma tão diferente, era estranho sentir que poderia ficar ali para todo o sempre sem reclamar? Ah... Como aquilo era assustador mas ao mesmo tempo confortável.

As mãos do menor pararam nas suas bochechas o fazendo sorrir contra os lábios alheios. Quando ia sair do simples encostar, Donghyuck segurou seu rosto com força e aprofundou o beijo que o mesmo tinha iniciado.

Aproveitavam cada milésimo daquele momento como se fossem os últimos de suas vidas. Se aproveitavam como nunca. Tinham perdido tempo demais sendo bobos.

Largou os lábios alheios num selinho sofrego.

O maior sorria bobo deixando Donghyuck encabulado. Empurrou Mark de leve o fazendo desequilibrar e o puxar junto para dentro do lago.

— Eu vou te afogar Lee Donghyuck! Isso é culpa sua! — gritou olhando para seu corpo todo molhado enquanto o menor ria sapeca. Antes que pudesse reclamar mais, Haechan o puxou para mais um beijo e depois outro, e outro e mais outro até se cansar.

[...]

nois nunca para, só damo um tempo.

Pain⋆˚.markhyuckWhere stories live. Discover now