Tão perdido em pensamentos e reflexões, não percebo quando ele apoia ambas as suas mãos em minhas bochechas, usando seus polegares para secar resquícios por ali. Elas jamais foram tão gélidas quanto agora.
— Não chore, Hitoshi. — Ele não sorria. Ele não conseguia mais sorrir assim. — Eu sei que ouvir isso de mim é desesperador, que não quer mais uma culpa em suas costas. Mas te garanto que tudo o que acontecer daqui em diante, jamais terá sido culpa sua.
Culpa. Uma parceira que sempre esteve comigo desde o início dos tempos.
Foi culpa minha meus pais terem me abandonado? Foi culpa minha o Aizawa ter morrido? Culpa minha a minha família ter apodrecido? O Gran Torino ter tido problemas com a família? Culpa minha a Toga não ser mais aquela antiga e doce menina? Foi culpa minha o Denki estar me dizendo isso, agora?
Com o decorrer da vida, eu só consegui decepcionar as pessoas. Traumatizá-las. Seria ele mais um que tomou de meu veneno e acha que não?
O abraço mais uma vez, mas o contato acaba sendo mais curto. Quando me afasto, fico na dúvida entre falar ou ficar quieto. Tantas coisas se passam em minha mente agora...
— Que proposta foi essa que o Hawks te disse? — Foi a única coisa que me lembrei em um estalo, sendo mencionado em seu discurso doentio. Denki parece ficar tenso e hesita um pouco, retirando suas mãos de meu rosto e olhando para o chão.
— Foi a um tempo atrás, quando fomos na primeira reunião da Liga, se não me engano. — Ele junta as mãos, olhando para o lado meio nervoso. Não sei o que esperar dessa explicação. — Ele veio me dizer sobre a guerra. Disse que não valia a pena eu arriscar tudo por isso, e me sugeriu um caminho mais... "fácil"...
— Que caminho? — Já não choro mais, olhando tão sério para ele que acredito tê-lo deixado ainda mais nervoso.
— ... Suicídio.
Me afasto atordoado, tentando processar o que acabei de ouvir. A raiva sobe para a minha cabeça, e o meu primeiro ato foi socar a parede mais próxima, ao ponto de não ter controlado minha força e ter causado rachaduras e até mesmo a marca do local onde acertei. Consigo escutar o grito assustado do loiro pelo barulho e pela violência das minhas ações, mas não me importo muito com isso.
Suicídio? Hawks teve mesmo a audácia de fazer com que Denki cogitasse retirar a sua própria vida para se livrar disso tudo? Como ele ousou algo assim, ainda mais sem a minha aprovação? Como pode ele ter feito tamanha babaquice? Aquele rato com asas! Estorvo! Biscate!
— Hi-Hitoshi, se acalme por favor! — Ouço-o lamentar atrás de mim.
Sinto meu peito subir e descer pesadamente, o meu coração batendo mais rápido e uma onda de sentimentos ruins cegando os meus olhos. Quando notei um pouco de baba escorrendo, percebi que fiquei tão exaltado que minhas presas estavam crescendo lentamente. Detesto ficar assim.
— Me acalmar? — Furioso, era como eu estava. Me viro em sua direção, fazendo-o recuar de medo. Eu provavelmente estava medonho, os olhos levemente cerrados, as pupilas menores, as presas crescendo e meus músculos enrijecendo. Nunca fiquei assim na frente dele. — Me acalmar?! — Falo um pouco mais alto, me aproximando em passos pesados em sua direção. — Você tem noção do que me disse? Do que ele te disse? Ele falou para você se matar, Denki!
— Ele apenas sugeriu!
— QUE SEJA! — Bato o pé com força no chão, provavelmente deixando mais rachaduras por ali. — Aquele mostrengo inútil te disse coisas absurdas! Eu aqui, desesperado para não te deixar morrer, e ele incentivando justamente isso!
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Purplish Vampire
Fanfiction" Kaminari Denki é um universitário de vinte e um anos que cursa artes em uma faculdade pública. Um simples jovem adulto nerd que posa de artista e que é viciado em mitologias e crenças, que passa noites e mais noites em claro fazendo pinturas ou pe...
31. | Pendências não Resolvidas
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