Love potion - 1 de 6

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      As mãos, pálidas como porcelana, inclinaram o recipiente levemente, a fim de despejar o líquido de cor esmeralda até o frasco de vidro repousado sobre a mesa.

      O gosto amargo em sua boca não foi esquecido, muito pelo contrário, parecia ainda mais acentuado agora que finalmente estava trabalhando em seu temor.

      Não era completamente contra a ideia de ajudar Kaeya, se fosse, jamais estaria trabalhando em plena meia-noite enquanto seu cérebro suplicava por descanso. Mas havia algo sobre o homem que despertava o espírito mais perturbado que repousava na mente infinita do alquimista, e então surgia o desejo de o perturbar.

      Por isso, quando soube da motivação implacável do capitão que, cansado após um enorme e gélido caminho, bateu na porta de seu chalé somente para pedir por uma poção exclusiva para uma de suas missões, o diabinho sentado no ombro de Albedo sussurrou para que recusasse o pedido, somente para ver sua reação.

      Afinal, era um homem da alquimia. E, na alquimia, toda e qualquer reação deveria ser analisada.

      Do mesmo jeito que se inclinaram, as mãos retornaram ao lugar, parando o fluxo do líquido que ainda se despejava no recipiente maior. A poção estava quase finalizada, pensava ele, mas ainda faltava um ingrediente: sal azul cristalizado. A substancia era bem conhecida por sugar líquidos, e isso incluía seja lá o que Kaeya fosse beber futuramente. Não confiava muito no bom senso do capitão quanto à bebida.

      Pegou uma pitada do ingrediente azul e, sem se preocupar muito com a dosagem, salpicou na poção, assim finalizando a encomenda especial.

      Rapidamente, às mãos trabalharam para lacrar a poção cor de rosa com uma rolha, para evitar que perdesse seu efeito ou que o ar afetasse sua composição. Guardou o frasco no pequeno armário de vidro que exibia, além de outra poção, alguns ingredientes essenciais e recipientes diversificados para a confecção de seu trabalho. 

      Só então o loiro se sentiu confortável o suficiente para, por fim, repousar. Tinha a péssima mania de dormir insuficientemente e, sobretudo, mal. Não sabia se, por não ser exatamente humano, seu cérebro entendia como descansar de maneira orgânica, mas aquilo não fazia diferença. Mesmo que entendesse, Albedo sabia que daria um jeito de estragar seu sono passando noites trabalhando, pesquisando e estudando como o bom alquimista que era. Mas tudo tem uma energia finita, e a dele estava se esgotando.

      Exceto que, antes de se deitar, lembrou de algo que jamais deveria esquecer: o rótulo.

      Felizmente, a mente turbulenta do homem rapidamente se lembrou de rotular os frascos, que, pelas cores semelhantes, seriam facilmente confundidos pelos olhares desatentos das pessoas comuns. Para a sorte dos clientes, Albedo era um pouco diferente das pessoas comuns.

      Puxou a caneta permanente, guardada no organizador preto em cima da escrivaninha de madeira escura, indo em direção ao armário de vidro e, sem muito paciência, agarrando ambas as poções. Em sua mão esquerda, a poção de Kaeya. Em sua direita, com uma cor rosa-chiclete, uma poção do amor.

      Pessoalmente, Albedo se recusava a aceitar pedidos por poções, pois achava antiético demais usar seu conhecimento para lucrar. Mas, após ouvir a trágica história de uma mulher que, mesmo que só por algumas horas, queria poder corresponder aos sentimentos de sua melhor amiga, Albedo sentiu algo parecido com pena dominar sua mente. Talvez soubesse que, mais doloroso do que não ser correspondido, era não poder corresponder alguém que você considera tanto. Amor não era um sentimento fácil para Albedo.

      Obviamente, ainda deveria alertá-la que a poção não a faria magicamente apaixonada, mas que acentuaria seus sentimentos já existentes por sua amiga. Não se importou. Estava desesperada demais para se importar.

      Terminado os rótulos, o corpo voltou a se movimentar até a cama confortável e quente. O frio da madrugada já havia chegado e, com ele, a exaustão do alquimista. E, embora ainda fosse meia noite, Albedo se conhecia bem o suficiente para saber que somente cairia no sono depois das duas da manhã, após muitos pensamentos acelerados e paranóias intermináveis.

      Quanto mais cedo fechasse seus olhos, melhor.


Poção do amor; KaebedoWhere stories live. Discover now