— Tudo bem, filho?

— Tudo bem — ele respondeu, sério, mas gentil.

Lorena, ao lado do jovem rapaz, apontou para uma cadeira e disse:

— Pode se sentar, Raul. Fica à vontade.

— Raul, Raul! — Kevin exclamou e, logo em seguida, cortou um pedaço do bolo que estava sobre a mesa, estendendo-o para o irmão animadamente e dizendo: — Experimenta. É de abacaxi. Eu amei!

Um pouco sem jeito, Raul apanhou o pedaço, tentando conter a agitação de Kevin. Enquanto Gilda e Lorena trocaram olhares, cúmplices.

Então, aproximando-se da mesa, a loira disse ao jovem rapaz:

— Eu vou estar na sala. Quando você terminar... Vai lá. Tá bom? Eu quero conversar com você.

Raul assentiu e, apenas por desencargo de consciência, Lorena acrescentou:

— Mas pode comer com calma.

Na sequência, ela saiu.

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Kevin, comunicativo como era, engatou em uma conversa com Gilda, como se a conhecesse há anos. Afinal, na falta de Ícaro para brincar, ele julgou ser uma boa ideia acompanhar a simpática senhora em seus afazeres, enquanto lhe fazia perguntas dos mais variados assuntos. Raul até quis chamar-lhe a atenção, dizendo para o irmão que deixasse Gilda fazer seu trabalho em paz, mas ela garantiu que não a incomodava.

Então, com sua típica hesitação, o jovem rapaz foi até a sala, mas não disse nada ao entrar, vendo Lorena sentada no sofá concentrada em algo no celular. Ele até quis dizer alguma coisa, mas a timidez não deixou. Por sorte, de canto de olho, a loira o notou.

— Meu Deus, você apareceu aí igual a uma assombração — Lorena tentou brincar, mas Raul não riu.

— Desculpa.

— Não precisa se desculpar. Sente-se aí!

Timidamente, Raul seguiu até o sofá do lado oposto ao que estava a loira e se sentou.

— Eu tenho uma clínica odontológica em um bairro aqui perto e... Bem, já faz um tempo, o rapaz que fazia a segurança lá para mim precisou se afastar por causa de alguns problemas de saúde e, desde então, eu tenho uma vaga lá...

Lorena olhou para Raul e o viu desviar o olhar no instante em que ela o fitou.

— Se você quiser... Eu posso... É um emprego simples. Você apenas teria que ficar na recepção, dando uma olhada, e, quando necessário, dar alguma informação... Nada demais.

Um silêncio se formou e logo foi possível escutar Raul fungando. Acabou que, por mais que tivesse tentado esconder, as emoções se confundiram e as lágrimas escaparam.

— Tá tudo bem? — Lorena perguntou, preocupada.

— Sim... É só que...

O jovem rapaz enxugou as tímidas lágrimas na manga da camisa que usava e fungou mais uma vez, antes de prosseguir:

— Eu não consigo acreditar em tudo que está acontecendo.

A loira sorriu, pensativa, e perguntou:

— E então? Aceita?

— Tudo o que eu quero, no momento, é dar uma boa vida para o Kevin, sabe? Acho que nem é mais por mim, mas por ele. Então... Claro.

— Acho que você dará um bom segurança.

Aquela foi uma outra tentativa de fazer Raul sorrir, mas era difícil. O jovem rapaz não costumava extravasar as emoções como o irmão mais novo.

— E... - Lorena continuou — É claro que, quem tem emprego, também quer ter um lugar para ficar e... Bem, eu tenho um apartamento que tá fechado há um tempo. Ele fica no bairro Prado... Conhece?

— Você está me colocando muito em dívida com você — disse Raul sem responder a pergunta da loira, que riu de suas palavras.

— Claro que não...

— Como é que eu vou te pagar por tudo isso?

— Não precisa me pagar.

— Você diz isso, mas eu sinto a obrigação moral de te pagar algum dia.

— Não precisa se preocupar com isso. Só vou te pedir uma coisa...

— Qualquer coisa — disse Raul, disposto.

Lorena riu daquelas duas palavras e lançou sua condição:

— Para receber tudo isso, você tem que aceitar eu te levar ao médico para ver essa questão dos seus rins.

— Se todas as condições fossem assim.

— Então estamos combinados?

Raul assentiu, resoluto. Jamais poderia recusar uma proposta como aquela. Afinal, já eram 4 anos tentando encontrar uma saída para a sua vida sofrida.

O Malabarista - ConcluídaWhere stories live. Discover now