Capítulo 2

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Caio

Eu estava em um bar lotado, gente bonita dançava ao meu redor e algumas garotas olhavam na minha direção, piscando seus cílios alongados e mordendo os lábios pintados. Aproximei-me de uma ruiva com um curto vestido verde que marcava suas coxas grossas.

Não precisei dizer nada ao envolver sua cintura e puxá-la junto a mim, movendo os nossos corpos de acordo com a batida que saía dos alto-falantes. A pista de dança estava cheia e ela se aproveitou disso para se esfregar contra o meu quadril. O meu pau começou a endurecer, demonstrando total interesse. Não perguntei o nome, não me importava e, se descobrisse mais tarde, até a manhã seguinte me esqueceria.

Ela era apenas mais uma.

Um corpo no qual poderia me perder, horas de prazer fugaz que me satisfaziam apenas naquele instante. A garota ronronou como um gato no cio quando afundei o rosto em seu pescoço, beijando um ponto atrás da orelha. Ela se virou de costas, desta vez rebolando a bunda contra o meu pau, agarrei-a pela cintura, pressionando-a mais onde eu a queria, até que elevei a cabeça e algo chamou a minha atenção.

Longos cabelos loiros que iam muito abaixo do ombro reluziram sob a luz negra, uma figura alta e esguia pedia por uma bebida no bar. A mulher levantou a mão, unhas vermelhas solicitando outra dose de tequila. Ela bebeu em um gole só, jogando a cabeça para trás e o seu corpo inteiro estremeceu por causa do álcool que devia estar queimando sua garganta.

Eu não tinha percebido que abandonei a ruiva na pista de dança e andei em sua direção, hipnotizado como um mosquito que não consegue se afastar da luz, até que estivesse a poucos passos atrás dela. Olhei para trás e a do vestido verde estava com o dedo do meio em riste, fazendo um gesto obsceno para o meu lado. Gesticulei que iria apenas pegar uma bebida e voltaria depois.

A loira, notando a comoção atrás de si, virou o rosto, observando por cima do ombro e se deparou comigo. Os olhos percorreram os meus um metro e noventa da cabeça aos pés, sem disfarçar que gostava do que via. Seus lábios se partiram em um sorriso ao mesmo tempo em que o meu morreu. De costas, se parecia com ela — a que eu evitava pensar sobre —, mas de frente estava longe de se equiparar com a mulher que povoava os meus sonhos.

O que era estranho, pois a loira desconhecida com seu nariz arrebitado e olhos escuros era igualmente bela, mas eu não podia evitar o gosto amargo em minha boca. Era um bar conhecido por ser frequentado por advogados, Antonela era advogada, por que nunca ia ali?

— Você parece decepcionado. — Ela soou divertida mais do que ofendida.

— É tão óbvio?

Um cara desocupou o banco ao seu lado e aproveitei para sentar. Solicitei ao barman uma dose de uísque puro, sem gelo, e pedi para ela uma outra de tequila.

— Deixe-me adivinhar: não sou quem você esperava. — A desconhecida riu e elevou o copinho de bebida em um brinde improvisado antes de virá-lo e passar o dedo por minha bochecha, a unha arranhando de leve. — Chateado? Ora, um advogado com coração, nem sabia que era possível.

Engraçado, nos últimos meses, tudo que ouvi foi o oposto, que eu não possuía um. Por coincidência — ou não —, vinha pulando de cama em cama, sem me apegar a ninguém, mas entrei na brincadeira.

— Somos uma espécie em extinção.

— Pois é — continuou a me encarar com aquela expressão avaliativa —, achei que todos perdessem a alma.

— Não perdemos, mas trocamos pela OAB.

Ela gargalhou, jogando a cabeça para trás, o que me fez lembrar de Antonela na varanda, entregue, quicando no meu pau. Mal registrei a aproximação da mulher quando ela escorregou sua palma aberta por minha camisa de botão.

Maldito advogado (AMOSTRA)Where stories live. Discover now