| PARA AS CORES DO TEATRO DE SANTA ROSA |

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| CARTA 4|

É engraçado como passamos um ano e meio juntos vagando por lugares que nunca imaginei encontrar algum dia.

Mas ainda pensava em como teríamos sido bons juntos se tivéssemos mais alguns anos ou até mesmo alguns meses, talvez se tivesse te conhecido em uma fase melhor nós teríamos mais momentos?

Ainda pensava em você, sentindo e revivendo todos aqueles toques e tentando criar novos, pensando em lugares que passei sozinha e onde queria que você estivesse, criando filmes em minha mente que se dissipavam da realidade, como trechos de um livro romântico ou uma série no estilo doramas que te fazem suspirar mesmo sem estar vivendo aquilo na realidade.

Eu não posso evitar me apaixonar por você, porque você era tudo que eu mais gostava, tudo que poderia considerar um tipo ideal e por mais que não tenha sido perfeito não tinha importância porque eu sempre lembraria de você, não importa onde fosse. Ainda pensaria em você e todas as coisas que fizemos juntos.

Até mesmo quando não queria, tudo me fazia lembrar de você. Era como uma poesia que o mais profundo da minha alma era decorado e se conectado a você. Sem querer, você tinha deixado pedaços seus em mim que jamais seriam esquecidos e que me faziam voltar a todos os lugares que fomos e os que apenas tinham suas marcas.

Meu corpo tinha suas marcas de gentileza misturadas a livros antigos amarelados e papéis rabiscados com ideias malucas, você vagava entre papéis velhos e no mundo real eternizando ideias, enquanto eu apenas escrevia as minhas em um caderno que um dia fora de minha mãe, nunca saíram de lá, mas você era o único que conhecia elas e que acreditava que algum dia saíriam daquele caderno mofado.

Você fez um itinerário, uma lista de lugares que queria conhecer e de coisas que queria fazer comigo. Justo eu, que não podia sair de casa e por conta disso você quase encarava como um desafio me fazer conhecer tantos lugares sublimes. Você fez aquela lista quando tinha 7 anos e teria se mudado recentemente para a casa atrás da minha, a folha também era amarelada e estava rasgada nas pontas e nos lados, havia um "ps" atrás da folha que dizia: "ela é a menina mais bonita que já conheci"

E tenho que confessar que aquilo me fez ir as nuvens, me fez sentir frios na barriga e o coração esquentar como se alguém estivesse me abraçando naquele momento, mas também senti vergonha e você riu da minha cara satisfeito com aquela reação.

Nós fomos completar ela apenas na adolescência. Já tínhamos visitado o Parque Florestal, o Planetário, o Museu de Artes, tivemos um passeio de barco e assistimos filmes no drive-in (ilegalmente já que você não tinha idade para dirigir), mas o fato de ficarmos distantes do resto das pessoas me fez sentir o gosto dos seus lábios mais uma vez. Lembrava mentos, as vezes meio doce e as vezes mais azedinho, até mesmo o seu beijo lembrava livros e banheiras cheias de espuma, era macio e ao mesmo tempo firme.

Você se tornou alguém que todos provavelmente teriam muito orgulho, inclusive você mesmo, você desafiou a todos, se aventurou nas coisas que amava mesmo quando todos diziam que não iria conseguir nada e você mostrou que conseguia. As suas peças realmente eram boas dignas de um William Shakespeare, mas jamais seria mencionado como um novo Shakespeare porque você deu o seu nome em algo novo, você sozinho se destacava em cada ato de peças trágicas e musicais tanto nas criações quanto atuando.

Ainda tento eternizar aquele dia que vimos sua primeira peça no Teatro de Santa Rosa, você estava radiante e seus olhos brilhavam de alegria e por mais simples que fosse me sentia especial porque entre tantas outras pessoas que gostavam de você foi a mim que você queria ao seu lado no camarote n° 5*, escolhido especialmente pelo seu amor por O Fantasma da Ópera e você, tão brilhante quanto Erik, era um anjo do teatro assim como ele era o anjo da música.

Para Todas As Cores Que PerdiWhere stories live. Discover now