— Desculpe, docinho. — Uma ruiva, usando trajes sumários, piscou para Daphne, equilibrando uma bandeja cheia de taças com champagne.

— Lembre-se de que está aqui por outro motivo — Elov sussurrou em seu ouvido ao notar a amiga seguir a "garçonete" com o olhar.

— Ele já chegou? — O bruxo assentiu e a levou ao terceiro andar, onde os melhores quartos ficavam.

— Você o ensinou bem. Bastante pontual.

Elov parou em frente a uma porta no fim do corredor e encarou a amiga. "Lá vem", pensou ela, e veio:

— Vai querer me azarar por perguntar, mas... tem certeza do que está fazendo?

Daphne o conhecera quando tinha 15 anos e ele, 18. Na época, Elov já estava envolvido com um nascido-trouxa rico, com idade para ser seu avô, que só o chamava de "Estrela da Manhã". Depois a bruxa ficou sabendo que tinha algo a ver com a pintura trouxa de um anjo caído, que muito o lembrava de Elov. Desde então ficou difícil encará-lo sem sentir o julgamento naqueles olhos azuis frios.

— Não que eu tenha grande experiência quando o assunto é não fazer merda, mas esse aqui — continuou ele, indicando a porta com o polegar — é furada.

— É, eu sei. Não se preocupe.

Ela o beijou na bochecha e esperou até estar sozinha no corredor para entrar.

O quarto era espaçoso e organizado, diferente da sensação encarceradora do térreo. Lucius estava em frente ao espelho de chão, ajeitando a gravata. Ele parou ao ver o reflexo de Daphne e se virou; os cabelos loiros presos com uma tira preta de cetim. Pela formalidade frequente, parecia que o encontro aconteceria com o ministro em pessoa. E se as coisas não saíssem de acordo com o que a bruxa esperava, isso seria arranjado.

— Há locais tão sigilosos quanto este para um encontro, e com menos odores inusitados.

— Primeiro: isto não é um encontro. Segundo: duvido que você se preocupou com os odores inusitados do bordel enquanto comia as mulheres daqui... e alguns homens, segundo me contaram. Não que eu me importe. — Ela deu de ombros, divertindo-se com a frieza de Lucius.

— Por que não vai direto ao assunto?

Ele se sentou no divã encostado na parede e Daphne se acomodou na cama, atenta ao olhar de Malfoy caindo nas suas pernas quando as cruzou.

— Você ouviu falar do incidente, certo? Um objeto maldito, em um mercado de pulgas, matou 12 pessoas, incluindo uma criança, e feriu outras quatro. — Ele sequer piscou. — Qual o grau do seu envolvimento nisso?

— Não sei do que está falando.

— Não? Que engraçado... — Daphne bateu com o dedo indicador dos lábios. — Porque eu me lembro de você visitando a Borgin & Burkes uns dias atrás. — Lucius ergueu uma das sobrancelhas. — Foi um daqueles acasos fortuitos, sabe? Bem diferente do que aconteceu em Grande Manchester. O que Lucius Malfoy, ex-comensal, fazia em uma loja que vende, compra e troca objetos amaldiçoados dois dias antes da tragédia do mercado de pulgas?

Lucius se levantou, atônito, e parou na frente de Daphne, que não se moveu um centímetro. Duvidava que ele fosse mais rápido na hora de sacar a varinha.

— Por que está fazendo isso? Não entende ou ignora a gravidade da sua acusação? De uma hora para a outra resolveu iniciar uma caça às bruxas? Pensei que você não fosse mais uma acéfala do ministério. Por acaso refletiu sobre o que isso faria às nossas famílias? — "A cartada da família", pensou ela, mordiscando a parte interna do lábio. — Imagine minha cara estampada em um jornal às portas do casamento de Draco e Astoria, por causa de uma acusação infundada vinda da irmã de minha nora, o peso que isso teria.

Efêmero ϟ PotterversoWhere stories live. Discover now