Já era o quarto penteado que Astoria experimentava, em busca da combinação perfeita com o vestido que flutuava a poucos centímetros do chão, perto da penteadeira. Daphne a observava no limite da paciência, controlando-se para não bater o salto contra o chão repetidas vezes e terminar chateando a irmã. A jovem vinha se preparando há semanas para o dia em que, finalmente, Draco Malfoy oficializaria o noivado de ambos.
Às vezes Daphne esquecia que o cunhado fora o moleque birrento e mimado com quem estudou. No início, teve suas restrições quanto ao namoro da irmã com ele, porém mudou de ideia ao ver a forma como tratava Astoria; a maturidade que desenvolveu após a guerra, os pensamentos menos intolerantes. A única ressalva que permanecia não tinha ligação direta com Draco, e sim com a ideia de um relacionamento em si e no que isso resultaria.
Uma série de tossidas deixou os lábios trêmulas de Astoria e a irmã correu para ajudá-la.
— Tudo bem. — Daphne encheu um copo com água e o deixou sobre a penteadeira, ajoelhando-se ao lado da jovem. — Respire fundo, sim? Já vai passar.
Ela afagou as costas da irmã até a respiração abrandar.
— Tomou sua poção hoje? — Astoria não respondeu, mordiscando a boca. — Por Merlin... — Daphne se levantou e buscou o frasco na gaveta da mesa de cabeceira. — Terei que colocá-la em uma taça todos os dias para você, como mamãe fazia quando era criança?
— Há meses não esqueço de tomá-la. Não exagere. — A irmã respirou fundo para não se exaltar. — Hoje é um dia importante e tenho muita coisa na cabeça.
— Nada é mais importante que isso — disse Daphne, mostrando o frasco cheio. — E tenho certeza de que Draco não ficaria nada feliz em saber que esqueceu de bebê-la por causa do jantar. — Astoria desistiu de discutir, fazendo careta ao engolir a poção. — Agora termine logo esse penteado, pois ainda tenho que me arrumar.
Quando Daphne deixou o quarto da irmã, tudo estava encaminhado, deixando apenas vinte minutos para se arrumar, antes que os pais a apreçassem. Aprontara-se em apenas dezessete, sem muita firula, afinal, Astoria era a joia da noite e ninguém além dela merecia destacar-se. Conformou-se com um vestido de poucos encantos, sem deixar de manter a nobreza da qual os Greengrass se vangloriavam. "Compomos os Sagrados Vinte e Oito e devemos fazer jus aos nossos antepassados de sangue puro", diziam os membros da família. "Para o inferno com os Sagrados Vinte Oito", pensou, borrifando perfume nos punhos.
O Sr. e a Sra. Greengrass as aguardaram no vestíbulo do casarão, com os semblantes azedos de pessoas prestes a adentrarem a Travessa do Tranco. A compleição longilínea, os traços aristocráticos e as vestes de primeira mão só pioravam a aparência presunçosa, muito embora fossem considerados um tanto quanto progressistas, quando comparados aos Malfoy e os antigos Black; liberais para alimentar ideais igualitários na cabeça de Astoria, porém não o bastante para apoiar publicamente as falas da filha.
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Efêmero ϟ Potterverso
FanfictionCarregar o sobrenome Greengrass era uma tarefa tão desagradável quanto vantajosa, especialmente quando uma de suas membras não possuía forte apreço pelas normas formais. Apesar das regras rígidas impostas pelos pais, Daphne apreciava os luxos que in...