01/02/2022

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Querido Pim,

Hoje foi a primeira vez que falei com um psicólogo.

Na verdade era uma psicóloga. O que é engraçado porque foi a terceira vez que marquei com ela. Na primeira ela confundiu meu nome e acabou atendendo outra pessoa. E na segunda vez ela teve que desmarcar. 

Lembro que na primeira vez que marquei eu estava tão nervosa em falar com ela que fiquei suando e com dor de barriga. Mas depois de 2 horas esperando ela me mandou mensagem. Desta vez eu nem sabia se ela ia aparecer mesmo, então esqueci e só lembrei faltando alguns minutos. Ela trabalha na minha universidade então foi uma questão mais interna. 

Eu falei sobre minha ansiedade e ela deu algumas dicas práticas e me pediu para aplicar na minha vida para falarmos sobre na próxima semana. 

Achei a voz dela calma...

A voz era tudo que tinha. Fizemos uma ligação, foi um atendimento remoto. Mas agora até hesitei em falar sobre a ansiedade. Falei com ela às 14h e até agora (20:08) não me senti ansiosa sequer um minuto. 

Parece ser brincadeira. 

É como quando não achamos algo e chamamos nossa mãe e ela acha o que procurávamos exatamente no lugar que dissemos não ter achado nada. Parece que estávamos mentindo.

 Como pode no primeiro dia que falei com ela já não ter mais sentido nada?

Na verdade eu sei porque. 

Eu tive uma prova ontem, esse era o motivo da minha ansiedade da semana. Sempre que eu fico ansiosa por alguma coisa, assim que ela chega tudo fica calmo. Dura 1 ou 2 dias. No terceiro eu já estou ansiosa por uma coisa nova. 

Eu disse isso à ela. Será que ela anotou? Fez aquele diagnóstico que vejo em filmes? Não sei. Mas sobre ansiedade eu sei. 

Bom, eu tenho 18 anos e comecei a suspeitar que tinha ansiedade há 2 anos. Estava em época de vestibular e tudo parecia corrido. Achei normal devido ao ano da escola, todos pareciam igualmente nervosos. 

Passei o ano nervosa em perder 1 hora de estudo. 

Depois fiz a prova.

Depois da prova eu fiquei preocupada com os prazos das inscrições e dos resultados. 

Meu maior sonho sempre foi passar para a universidade. Quando descobri que não passei fiquei bem triste. Lembro que no final do dia do meu aniversário de 18 anos eu chorei. 

Minha estava ao meu lado no carro e percebeu. 

Não sei como ela percebeu, estava escuro e eu disfarcei. Mas assim que chegamos em casa ele foi ao meu quarto. Olhou para mim e perguntou o que estava acontecendo. Então eu chorei.

Chorei muito. 

Aquele choro de soluçar e ficar com dor de cabeça depois. Falei para ela que estava frustrada:

- Eu tenho 18 anos, não me formei e nem passei na faculdade. Tudo que eu planejei deu errado.

Ela me abraçou e tentou me acalmar. Me disse que estava tudo bem e que eu era nova. Que tudo daria certo no final:

- Eu te amo tanto, minha filha.

Ela falava isso.

Então eu me acalmei e dormi. Mas voltei a chorar diversas vezes naquele ano. Algumas vezes foram piores que as outras. 

Depois disso adivinha o que aconteceu? 

Final feliz: Passei para a faculdade e ainda consegui um emprego.

Nossa que sensação boa. Eu nunca fumei mas tenho certeza que a sensação foi melhor. Melhor até do que usar heroína (também nunca usei).Saiu um peso enorme de mim. 

Eu fiquei tão feliz. Eu chorei, minha mãe chorou. Até meu irmão mais velho chorou, e ele nunca tinha chorado por mim.

Foi a melhor sensação ver minha mãe feliz. 

Então tudo ficou tão calmo. 

Foi ótimo.

Mas então, depois de algumas semanas. Foi tudo embora...A felicidade durou tão pouquinho. Eu mudei o foco, agora a preocupação é: e quando as aulas começarem? Como vou para a aula? Como será minha mudança? Vou passar em Cálculo?

Então foi nesse momento que eu percebi que não me livraria dessa sensação tão cedo. 

Foi quando eu percebi que todas as vezes que eu estava suando frio por ir encontrar meus amigos depois de um tempo, por ter que fazer um pedido na lanchonete, por ter que pedir informação sobre o ônibus para algum desconhecido. 

Foi quando eu entendi que não era normal tremer, sentir uma dor no estômago antes de fazer algo novo, deixar de fazer tudo do dia a dia para ficar imaginando soluções para problemas que não existem. 

Eu entendi que nada disso era normal.

Eu não estava bem e se não procurasse alguém nunca ficaria.

Isso é a ansiedade na minha vida. Eu queria conseguir descrever como meu corpo fica um dia antes de algum evento, ou quando estou no caminho para algum lugar. Queria poder explicar melhor como minha mente fica planejando coisas que estão meses à frente. 

Eu não consigo viver o agora, é difícil. 

Na verdade houveram poucas vezes que eu consegui focar totalmente no presente e aproveitar o momento. 

Uma festa de aniversário por exemplo. É para aproveitar o momento com os amigos, correto? Eu sempre ficava pensando em como eu ia ficar triste na hora de ir embora pois gostava tanto de estar com eles. E isso me impedia de aproveitar. 

Isso feriu tanto meu coração, por anos. 

Não tenho orgulho, nem vergonha. 

Apenas sou assim. E estou tentando entender o porquê.

Com amor, L

01/02/2022Where stories live. Discover now