45 [su•a•ve]

Começar do início
                                    

Ou seja, resolvi ver o que acontecia.

Decidi que agiria normalmente - ou o mais normal possível. Conforme os dias lá na pousada fossem passando, sentiria o clima entre nós dois e tiraria minhas próprias conclusões. Eu não forçaria aproximação, não tocaria no assunto, não sairia do script.

Isso funcionou bem por um dia.

Se aquele episódio acidental onde o Harry me pegou ficando pelada não tivesse acontecido, se eu não tivesse percebido o quão mexido ele ficou ao ver o meu corpo, se o desejo de convidá-lo para entrar e me ajudar a tirar tudo não tivesse nascido dentro do meu âmago, tenho certeza que eu teria aguentado a barra pela semana toda.

Mas não foi assim que o universo resolveu atuar sobre nós. Aconteceu, dentro de nós dois, eu percebi naquele momento, algo aconteceu e não tinha mais volta.

Ainda assim, mesmo após isso, eu não imaginei que nós sentaríamos para conversar sobre os nossos sentimentos, muito menos que depois dessa conversa nos reconectaríamos na cama - e sobre os móveis, na parede e, por fim, no chão.

Foi como usar drogas pela primeira vez: uma viagem transcendental pelas curvas sagradas de uma superfície delgada de um sonho febril. Ele é como um copo de água gelada para alguém que está com calor ou a última garfada de uma torta deliciosa e eu mal pude acreditar que sobrevivi por dois anos sem uma nova prova.

Fiz o que sempre temi e ainda temo fazer: me entreguei. Fechei os olhos e senti. 

Foi libertador ceder o controle, confiar, não pensar muito. Foram férias não só da minha rotina em San Francisco, mas das minhas amarras também. E Harry estava lá para me pegar da descida drástica do pedestal onde eu colocava o meu orgulho.

Não conseguíamos tirar as mãos um do outro, os sorrisos pareciam pregados nos nossos rostos, nossos corpos orbitando um ao outro numa dança sensual a cada oportunidade. Os amigos dele não sabiam, concordamos com isso, mas eu verdadeiramente não me importei com a possibilidade de ser descoberta por eles, o que me fez perceber o quão imersa eu estava na atmosfera dele; na energia que ambos emanávamos juntos.

Em partes, compreender o quanto o Harry ainda mexe comigo me deixa assustada, me faz querer recuar como eu fiz no passado. Entretanto, por outro lado, o fato de eu não estar sozinha nesse sentimento me deixa muito mais aliviada. Ele se importa e sente desejo na mesma proporção, assim como mostra a mesma disposição para estar ao meu lado e refletir sobre isso foi o que me manteve em pé pelos nossos últimos dias na pousada, porque, infelizmente, nosso extasiante momento estava fadado a acabar em breve.

E acabou.

Quando a semana se completou e chegou a hora de partir, nossos caminhos se dividiram com a minha passagem de ônibus para casa e a passagem de avião dele para Londres. Eu tentei disfarçar minha tristeza, mas foi impossível. Abraçá-lo pela última vez sem saber o que seria dali para frente, fez meu coração se encolher de dor, pois nossa reconciliação não estava no roteiro, mas a nossa separação sim.

Harry até tentou me animar, dizendo que arrumaria um jeito para que aquele não fosse o nosso adeus. Ele estava tão triste quanto eu com o nosso inevitável fim. Ainda assim, mesmo acreditando e confiando nas intenções dele, eu sabia que não haveria um jeito, portanto me doei ao máximo nos últimos dias para aproveitar cada segundo nos braços dele.

No nosso penúltimo dia em Malibu, ele passou uma hora numa ligação com seu empresário e a chama da esperança dentro de mim se acendeu, embora eu tenha tentado esfriá-la com pessimismo. Quando a ligação acabou e ele voltou para o quarto, não demonstrou nenhuma emoção em particular e disse apenas: "Eu vou fazer dar certo, não se preocupe." Obviamente, eu me preocupei, mas era mais sábio beijá-lo e mudar de assunto naquele momento.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora