35 [ins•pi•ra•ção]

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[resultado do que foi criado a partir de um estímulo de criação; ideia repentina e momentânea.]

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HARRY

Os lençóis brancos formam dunas amarrotadas ao redor do quadril dela, este que desponta para cima como um monte. O tecido desliza sobre a curvatura delicada de pele desnuda lisa e bronzeada. Os fios castanhos bagunçados cobrem o travesseiro como um manto pesado.

Não há sardinhas em suas costas, mas o tom de pele é semelhante. Seu cabelo é mais escuro, mas longo o bastante para me fazer recordar. Ela repousa serenamente após agitação desmedida, assim como me é familiar aos olhos.

Ontem à noite quebrei meus longos dias sem intimidade carnal, pois não pude resistir quando a vi naquele bar. Estava parada esperando por sua bebida rente ao balcão. Usava um vestido preto, saltos altos, vários acessórios brilhantes. Vendo-a sem eles agora me faz indagar onde os mesmos foram parar. Entre nosso flerte até o sexo, eles se perderam em algum lugar, deixando-a completamente nua ao meu lado.

Não estava procurando por isso, não venho procurando por diversão desse tipo desde que me mudei recentemente, mas, novamente, não pude resistir. Não quando nossos olhos se encontraram despretensiosamente e um clique surdo me fez paralisar. Não quando o rosto dela era a única coisa que preenchia a minha mente, junto daquele desejo desesperado de sentir novamente seu inesquecível calor.

Seria uma grande mentira dizer que a transa foi ruim, mas igualmente seria se eu disse que não me arrependi. Eu fraquejei. Não deveria ter atravessado o bar para falar com ela. Não deveria ter flertado tão descaradamente, com aqueles olhares insinuativos e cantadas beirando ao inapropriado. Deveria ter controlado minhas mãos errantes, mas foi quase impossível ao perceber que ela me queria também. Eu não perdi tempo, a convidei para sair daquele bar comigo e ela ficou muito contente com isso. Eu cedi. Quando fechei os olhos, foram os lábios dela que eu estava beijando e assim, perdi tudo.

Foi tão fácil, receio em dizer. Bastou que eu fechasse os olhos. Meu cérebro já sabia o que fazer, onde tocar, onde beijar, lamber, bater, estimular, provocar. A pele não tinha o mesmo gosto, mas me esforcei para fingir que sim. Os sons não eram os mesmos, mas não dei importância naquele momento. Bastou apenas colocar uma memória para tocar e a mágica foi feita.

Eu não deveria ter feito isso, contudo. Prometi a mim mesmo que havia saído daquela cidade para recomeçar, longe de tudo que estava me puxando para baixo. Longe dela. Eu estava indo muito bem - ou pelo menos fingindo que sim - esse último mês, mas estraguei tudo ao me jogar nos braços dessa completa desconhecida que me conquistou única e exclusivamente através de algo que ela nem mesmo pode controlar. E pior: ela não estava nem ciente disso.

Assim que abri os olhos, me senti sujo. A ressaca moral pesou muito mais no meu consciente do que qualquer álcool poderia. Não sabia como lidar com a minha besteira, então fiz o que podia naquele momento: continuei deitado, olhando para o teto, pensando nos meus atos.

O quarto está claro e a luz do sol irradia em todos os cantos. Já se passaram quarenta minutos desde que despertei e não vou aguentar mais nenhum segundo com esse incômodo tão presente dentro de mim. Me sento na cama e, hesitando, toco o ombro dela. Balanço levemente, mas nada acontece. Continuo tentando.

"Oi. Acorda." Sussurro. Ela se mexe brevemente.

"Ch-" Minha voz morre assim que percebo o que estava prestes a fazer. Rapidamente, sinto a cor do meu rosto indo embora.

"Por favor, acorda." Imploro baixinho, já sem forças para manter a compostura. Só quero que ela vá embora. Onde eu estava com a cabeça achando que dormir com ela seria uma boa ideia? Claramente não foi.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora