IV. I'm nobody

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21 de julho de 1992

Querido diário, um grupo de cinco estudantes da Whenchild começou a andar devagar ao meu lado em um carro vermelho durante minha caminhada de volta para casa. Duas garotas e três garotos. Um deles gritou: "tome cuidado ao andar na rua, garoto-bomba, pode acabar explodindo e matando todos nós".

Ignorei o comentário e ergui o dedo do meio para eles enquanto apertando as alças da minha bolsa com força, me segurando para não jogá-la no rosto de um deles. Os restantes do grupo começaram a rir e em seguida jogaram restos de comida assim que aceleraram mais do que o permitido na rua.

Parei de andar para gritar com eles, contudo já estavam longe demais para me ouvirem. Soquei o poste que estava à minha frente, sentindo minha mão ficar dormente segundos depois, mas não dolorida.

Nota: ao chegar em casa precisei passar um analgésico e enfaixar minha mão, pois um roxo, puxado para um vermelho, havia se formado sem que eu notasse junto de pequenas feridas nas bases dos ossos nos dedos. Da próxima vez irei lembrar de não socar um poste.

22 de julho de 1992

Querido diário, lembra daquela festa entediante que minha mãe me pediu para ir com ela? Hoje eu vi algumas das mulheres que estavam no evento com sacolas de compras na rua, ou melhor, elas me viram, me reconheceram e vieram falar comigo, questionaram-me em relação a minha mãe e revelei que ela não estava morando comigo e por isso não sabia de nada. Elas ficaram confusas e se entreolharam, depois soltaram alguns elogios para mim por estar fazendo compras e ajudando em casa, provavelmente estavam tentando mudar de assunto.

A conversa não durou muito, as mulheres não paravam de fazer perguntas e isso estava se tornando irritante, então disse-lhes que estava atrasado para fazer o dever de casa, o que era mentira, eu apenas queria ir embora logo. As moças mais velhas ficaram um tanto sem graça e me deixaram ir.

Ao retornar, percebi que o telefone estava tocando. Eu atendi, mas quando notei algumas vozes femininas desliguei na hora. Provavelmente referem-se a algumas das "amigas" de meu pai e eu não estava com cabeça para comunicar à elas que ele não estava.

25 de julho de 1992

Querido diário, hoje o dia começou bem merda pois meu pai chegou às seis da manhã bêbado, pleiteando comigo sem motivo algum. Ele literalmente passou o olhar pelos cômodos da residência e fuçou defeito para iniciar uma discussão, insinuando que eu não cuidei bem dela enquanto estava fora para trabalhar. Mal consegui terminar meu café da manhã, me estressei de tanto discutir e saí o mais rápido possível para deixá-lo falando sozinho com as paredes.

Já na escola, um grupo de adolescentes caminhava lado a lado, dificultando o fluxo de estudantes passando. Sem paciência, desfiz o agrupamento após atravessá-los bem no meio, mais tarde mandei eles irem se foder quando um garoto se virou para dizer " se diz primeiro 'com licença', bombinha".

No refeitório jogaram restos de salsicha e macarrão em mim, então tive que sair do local antes que minha roupa e meu cabelo ficassem sujos e grudentos. Fui para a biblioteca ler algo, contudo um casal à minha frente não parava de se beijar e o barulho que eles emitiam estava dificultando minha leitura, porém não adiantava nada ao requisitar a eles para que ambos parassem. O casal ignorava a minha existência não importa quantas vezes chamasse a atenção deles, devem ter se esquecido que estavam em uma biblioteca e não um quarto.

Na aula de biologia, Delpher e seus amigos de estimação não paravam de atrapalhá-la, fazendo piadas com vagina e pênis. Assemelhavam-se a crianças descobrindo o livro de ciências no quinto ano. Infelizmente, eu atingi um soflagrante em que encontrava-me soltando vapor pelas narinas e, no último trocadilho de Delpher, eu dissertei enquanto o fitava: — vai se fuder, Delpher.

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⏰ Last updated: Mar 18, 2022 ⏰

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Ele/Dele - (jjk+kth) [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now