38 [re•pa•ra•ção]

Comenzar desde el principio
                                    

Harry não apenas me fez parecer a vilã, ele me expôs para qualquer um ver. Foi como descobrir que o cara com quem eu tive um encontro deu todos os detalhes da nossa noite para os amigos dele. Me senti traída, pois momentos da minha vida estão agora acessíveis para quem quiser ouvi-los em forma de música.

Embora eu tenha, a muito tempo atrás, concordado com o fato de que eu realmente fui uma vilã para ele, isso não significa que eu queria que ele fizesse algo assim. Agora um bando de desconhecidos sabem o que aconteceu entre nós e mesmo que não saibam com quem exatamente aconteceu, isso não os está impedindo de falar merda na internet.

Com isso tudo na cabeça, meu dia acabou sendo um desastre parecido com o de ontem, o qual eu unicamente fui agraciada com a ausência daquele inglês safado. Me afundei em meus compromissos como dama de honra até ter dor de cabeça e comi uma quantidade ridícula de besteiras, sentindo uma enorme vontade de chorar todas as vezes que algum trecho do álbum dele me vinha em mente.

A catástrofe dentro de mim só piorou quando Naomi resolveu me surpreender ao informar que convidara Harry e sua banda para tocar no Poison Ivy está noite e eu tive de engolir a calorosa salva de palmas de quase dez minutos que ele recebeu quando subiu no nosso palco, no fundo do salão.

Ele teve a audácia de aceitar o convite e ainda por cima aparecer vestido tão bem, com o cabelo impecável em sua bagunça charmosa. Cumprimentou os clientes com piadas e elogios carinhosos em nome dos velhos tempos e demonstrou uma humildade respeitável.

Um verdadeiro nojo.

Assisti tudo de trás do balcão do bar, de braços cruzados e olhar cortante, esperando que ele notasse minha raiva. E ele notou. Tentou me sorrir, mas ao ver que eu não estava pra brincadeira, franziu o cenho e desviou o olhar, mas vez ou outra voltava a me encarar para ver se algo em mim tinha mudado. Não tinha.

Quando o show de fato começou, fiz questão de mostrar que não estava interessada como o restante das pessoas e debochadamente ele fez questão de mostrar que não estava abalado. Continuou cantando como se eu não existisse, interagindo com o público e sua banda apenas.

Eu sei que é amargo da minha parte, mas ele tem que saber que eu não gostei do que ele fez, que estou magoada. Não vou abaixar a cabeça e deixar isso passar, porque não tenho mais a mesma frieza falsa que tinha à dois anos.

Eu fingi não me importar com as coisas por muito tempo e isso nunca me trouxe benefícios. Nossa história conturbada é a prova disso.

Se ao menos eu tivesse deixado essa ideia de ouvir o álbum dele de lado, se ao menos eu tivesse deixado essa estranheza dentro de mim se apaziguar sozinha. Revê-lo foi um choque, mas eu sei - eu sinto - que teria lidado com tudo de forma bem melhor se não tivesse acessado o trabalho dele. Harry seria apenas um pedaço do meu passado me revisitando curtamente e nada mais. Voltaríamos as nossas vidas com tranquilidade, sem alterações.

Mas agora que eu sei que uma parte de mim, uma parte de nós, foi colocada lá com as outras partes da vida dele, eu não posso simplesmente ignorar isso. Infelizmente.

Não cometerei os mesmos erros idiotas.

"...And if you don't love me now / You will never love me again..." Ele repete o refrão e a clientela canta junto, do térreo ao primeiro andar do bar. "...I can still hear you saying / You would never break the chain..."

A força que coloca nas palavras é refletida nas batidas de seu pé no palco, ao agarrar o microfone com ambas as mãos. A camisa preta semiaberta dele permite que seu pingente de cruz reflita as luzes dos holofotes sobre sua cabeça, lhe dando um ar quase etéreo sob toda essa atenção.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Donde viven las historias. Descúbrelo ahora