Alfonso: Já disse que não tenho tempo pros seus devaneios. Meu tempo é muito caro e você não pode pagar por nem 5 minutos dele, então preste atenção. – Cortou, humilhando-a mais a cada palavra – Não crie esperanças. Não sou a criança que você humilhou anos atrás. Sou um homem de palavra, vou dar a empresa e mantê-la de pé para o seu pai brincar o quanto quiser, mas uma vez sendo minha esposa você vai perder tudo. – Esclareceu, e a pele de Anahí se arrepiou involuntariamente, um reflexo ao olhar que ele dirigia a ela. Era ódio em seu estado mais puro, mais concentrado.


Anahí: Você fala como se algum dia eu tivesse tido medo de você, garoto Herrera. – Ele sorriu.

Alfonso: Você tem. É por isso que está ai, sentadinha como uma marionete, com medo de aceitar e passar pelo que eu vou te sujeitar, e com medo de me dar às costas e ter que assistir eu destruir o seu pai. – Debochou, maldoso – Das duas, uma. – Disse, com um falso lamento no rosto. 

O telefone tocou e ele se virou, atendendo-o. Os movimentos dele eram fluidos, uma demonstração evidente de um homem que sabia o que queria e sabia exatamente o que precisava fazer para consegui-lo. Agora era Anahí que enxergava vermelho. Queria esmigalhá-lo debaixo de suas unhas, fazê-lo sumir por tê-la colocado nessa posição, com essa decisão em mãos. Pelo que ela entendeu, alguém que ele esperava havia chegado, e ele era solicitado. Ele desligou o telefone, o olhar se voltando pra ela, que estagnara com o ódio na boca.

Alfonso: Tenho uma reunião. – Disse, fechando um botão do terno caro – Seu tempo acabou. Sua resposta é...?

Anahí: É não, seu grande filho da puta. – Disse, se levantando. Ele sorriu – O que você acha? Que o seu dinheiro muda quem você é? Não muda. – Ela riu de leve, tomada pela raiva. Ele se recostou na cadeira, deliciado – Você ainda é o mesmo garoto patético em que eu pisei há 10 anos. Vai continuar sendo ele, não importa o que você faça. – Jogou, e ele sorriu, vendo-a dar as costas pela segunda vez.

Alfonso: Você tem cinco dias. – Disse, e ela parou de andar com um grunhido. Era o inferno. – Na segunda-feira pela manhã me reunirei com meus assistentes e darei as ordens finais em relação a sua empresa. Se vão ser dinamites ou investimentos, é responsabilidade sua. – Ela se virou, o olhar torturado encarando-o – Se não houver uma resposta até lá, considerarei como um não, e nós sabemos o que acontece. – Disse, se levantando – 5 dias. – Lembrou, dispensando-a. 

Anahí: A resposta é não. – Grunhiu, furiosa, e saiu dali, deixando-o só.

Alfonso sorriu da ingenuidade dela, totalmente tranqüilo. A resposta era "não" agora, mas será que ainda seria "não" até a segunda feira?

-

Anahí espumou de raiva durante todo o caminho pra casa. Quem aquele ninguém achava que era? Ela repassou a cara dele quando ela o rejeitou na cabeça durante o trajeto, sorrindo de canto ao se lembrar do baque do balde de sangue virando no teto. Fora bem feito, afinal. Porém, ao estacionar em frente de casa, ela suspirou, apoiando a testa no volante. Como diria ao pai que o filho da puta do garoto Herrera ia queimar a empresa por puro capricho? Ela pensou, pensou, e chegou a conclusão de que ficar ali escondida não adiantaria nada. Porém, para sua surpresa, o estado de espírito do pai estava anos luz melhor do que ela deixara ao sair.

Alexandre: Me ligaram da H.E.H. – Disse, quando ela entrou – Eles deixaram a decisão em suspenso. Segundo o atendente, estão avaliando o histórico dos últimos anos da empresa para tomar a decisão sobre o que fazer. – Anahí parou de andar, observando-o – Me devolveram a posse da diretoria, por hora. – Anunciou, com um sorriso radiante – Como foi a reunião?

Anahí: Nada demais. – Disse, mortificada. Já era impossível contar antes, já agora... – Eu só conheço o CEO de lá. Estudamos juntos no St. Jude. Ele se lembrou do meu nome na papelada e quis me reencontrar, só. – Ela deu de ombros.

Alexandre: Ele é seu amigo? – Perguntou, parecendo mais esperançoso ainda. Anahí quase gemeu – Querida, isso é um ótimo sinal! O normal nessas ocasiões era que eles ou assumissem a empresa, ou a leiloassem! É muita sorte! – Disse, abraçando-a. Anahí o abraçou de volta, incapaz de contar a verdade.

Anahí: É sim. – Disse, agarrada ao ombro do pai – Muita sorte.

Se Anahí estivesse reparando, teria notado que o inferno em si já havia começado. A cada dia, quando ela acordava com a convicção pronta e ia falar com o pai, ele tinha uma novidade sobre a empresa. A cada dia recebia uma informação nova, uma nova grama de esperança de que, talvez, pudesse haver saída para aquilo. E ela se via frustrada, sem ter como matar aquilo no pai, sabendo que em poucos dias ele receberia a verdade, e então seria pior. Na sexta-feira ela se sentou pra fazer uma pesquisa sobre os Herrera. Havia bastante que ler, mas nada conclusivo. Eles não eram de se expor. Haviam varias matérias sobre o avanço da empresa pelo país, varias sobre quando a empresa foi para o exterior, sites acompanhando e analisando os gráficos dele quando adentraram a Europa e a Ásia, notas sobre o casamento de Christopher e Madison Salvatore, algumas notas sobre premiações, muito sobre a empresa e pouco sobre os Herrera em si. Algumas revistas de economia foram publicadas voltadas para o desenvolvimento brilhante que se deu através dos anos, sobre doações feitas para instituições... Anahí gastou o dia naquilo. No final só conseguiu concluir algo interessante: Os Herrera se revezavam no que se chamava de 3 torres: A torre Cinza, que era o prédio da Herrera Enterprises Holdings, Inc.;

 

A torre Negra, que era o arranha-céu na Quinta Avenida onde todos os Herrera viviam (um comportamento estranho), pelo que se sabia cada um tendo um andar próprio e a Torre Branca, que na verdade era uma mansão em uma área residencial e calma, afastada do centro da cidade, onde pelo que se sabia vivia a mãe dos Herrera e seu irmão mais novo, Eric. Só isso. Nada que ela pudesse usar contra ele. Não dormiu da sexta-feira pro sábado – era o segundo dia acordada. Tinha menos de 48 horas para contar ao pai. Se levantou, decidida, para encontrar um Alexandre em meio a telefonemas na sala de estar. Aguardou, pra então saber que ele fora avisado de que talvez um investimento fosse feito com o fim de observar o desenvolvimento na empresa sob sua administração atual nos próximos meses. O filho da puta do Herrera conseguira iludir seu pai com aquilo que ele ganharia caso ela se sacrificasse. Anahí fugiu – Se encontrou na casa de Dulce, atordoada, a cabeça estourando.

Dulce: O Herrera, da Herrera Enterprises Holdings é o garoto Herrera? – Perguntou, estática. Anahí assentiu. – Eu malho em uma academia deles, é ótim... Gente, eu vi Rebekah uma vez! Se for ela, é claro! – Disse, se lembrando da loira alta em roupas sociais que fez uma visita administrativa a academia uma vez. A viu de relance, andando entre as maquinas no horário vazio, fiscalizando tudo enquanto um assistente a acompanhava, atualizando-a de algo. Não se demorou.

Anahí: É, eu também vi. – Suspirou, frustrada, se lembrando.

Dulce: Você não vai aceitar, não é? – Anahí ficou calada, sentada na cama da outra, encostada na cabeceira, com os joelhos dobrados, o rosto cansado – Sério, ele pode ter virado um psicopata. Tem motivos pra isso. Você aceitar seria no mínimo loucura. – Disse, obvia. – Seu pai vai entender depois que você explicar. Vocês podem usar o dinheiro da venda pra começar do zero.

Anahí afundou a cabeça no braços, pensando na alegria do pai hoje de manhã. É, eles poderiam começar do zero, mas Alexandre não era mais nenhum adolescente. Não tinha mais idade nem animo pra começar do zero, principalmente depois que sua primeira empresa tivesse sido demolida. Por outro lado, se ela aceitasse, ele jamais saberia. A alegria dessa manhã se manteria, e a empresa se reergueria – com o dinheiro sujo dos Herrera, mas ainda assim. Dulce continuou falando, enquanto encaixotava suas coisas. Anahí observou, com os olhos distantes. A primeira remessa das coisas dela já ia para Londres.

Anahí: Espero que você possa adiar um pouco a viagem. – Disse, a voz morta.

Dulce: Por que? – Perguntou, lacrando uma caixa com durex. Levou alguns instantes até a resposta chegar.

Anahí: Porque eu acho que vou me casar. – Concluiu, resignada, e a outra a encarou. 

Havia um “acho” na frase, mas Dulce viu a resolução pronta nos olhos de Anahí: A decisão estava tomada.

Skyfall (Efeito Borboleta - Livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora