Capitulo 01

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- Sinto muito, Anahí, mas não posso fazer mais nada para ajudar. Você vai precisar fazer o exame final.

Quando a professora saiu, Anahí ficou estática, olhando o D- que tomara. Significava ir para o exame final de calculo. Pior, significava decepcionar seu pai. Ela ficou muito pouco tempo sozinha: Logo suas amigas – ou seguidoras, melhor dizendo – entraram ansiosas na sala.

Betty: Então? – Perguntou, ansiosa, enrolando uma mecha do cabelo louro no dedo ansiosamente – Ela te ajudou?

Anahí: Não. – Disse, se levantando e apanhando o material, absorta em seus pensamentos. O que o pai dela ia dizer?

Chloe: Vadia. – Murmurou, a voz tingida de maldade.

Eram tempos diferentes, aqueles. Tempos onde chamar alguém de vadia era uma ofensa levada a sério. Anahí saiu da sala, sem dar muita importância, mas a formação de seguidoras foi fielmente atrás dela, como cachorrinhos. Todas adolescentes, a própria Anahí tinha 14 anos recém completos, mas se achavam as donas do lugar. Abriam espaços nos corredores pra elas e ninguém sentava em sua mesa na cantina. Anahí ficou calada até chegar em seu armário, onde colocou os livros, uma ruginha precoce de preocupação entre as sobrancelhas. Foi então que Dulce chegou, apressada, toda cabelos vermelhos, os dois primeiros botões da camisa abertos em um decote.

Dulce: E ai? – Perguntou, ansiosa. Anahí negou com a cabeça – Oh, droga.

Chloe: Não é bem o fim do mundo. – Disse, e Anahí ergueu os olhos azuis, encarando-a – É só prestar o exame e pronto. – Tentou.

Dulce: Porque você acha que ela vai saber, no exame, algo que já não saiba agora? – Anahí ergueu as sobrancelhas, aliviada. Era por isso que costumava conversar mais com Dulce: Dulce costumava pensar, ao contrário das outras.

Lucy: Ela estuda, são três semanas daqui pra lá. – Tentou, mas não funcionou.

Anahí: Vocês não entendem, se eu reprovar no exame final eu repito o ano. – As outras se encolheram ao ouvir aquilo, como se fosse a noticia de uma tragédia da natureza – Isso não pode acontecer, de jeito nenhum.

Betty: Nem pensar. – Confirmou, parecendo tentar pensar, então seu olhar se tornou maldoso – Aquele garoto Herrera está olhando pra você de novo. – Denunciou. Só Dulce olhou.

O garoto Herrera estivera mesmo olhando, do seu armário. Agora tentava disfarçar, inutilmente, mexendo nos livros de modo desgovernado, o rosto vermelho, os óculos parecendo tortos. Anahí fechou o armário, apoiando a cabeça nele. Anahí: Sinceramente, você acha que eu tenho tempo pra isso agora? – Perguntou, exasperada. Os cabelos castanho escuros caíam impecáveis pelas costas, enquanto ela batia com a testa no armário levemente. Dulce: Pelo contrário. – Anahí parou de bater a cabeça – Olhe pra ele, é um nerd. E gosta de você. – A cara de exasperação foi coletiva agora. Anahí tinha o cenho franzido, olhando a pintura do armário. Anahí: Que diabo...? – Perguntou, com o cenho franzido, se virando pra olhar a amiga. Dulce: Só estou dizendo que ele pode ajudar. – Completou – Ele sempre toma as melhores notas em tudo, e ele gosta de você. É só estalar os dedos, e ele vai fazer qualquer coisa que você pedir. – Disse, obvia. Anahí olhou o garoto, que continuava mexendo nos livros, as orelhas vermelhas. Nem sabia seu nome. Mas, só talvez, Dulce tivesse razão. Que ele era inteligente era inegável. Estranho, porém inteligente. Bom, não custava nada tentar.

-

Alfonso estudava na biblioteca. As orelhas ainda estavam meio quentes pelo incidente de Anahí tê-lo pego olhando pra ela, mas já estava passando. Ele tinha um livro aberto, relendo a matéria dada na ultima aula para se distrair. Não iria pra cantina no almoço hoje, apesar de isso significar passar o dia inteiro com fome. Não queria que ela o visse outra vez. Anahí observou um instante, se convencendo de que aquilo era necessário.

Anahí: Olá. – Disse, parando ao lado dele. Alfonso a olhou, então empedrou, ficando branco como giz. Ela devia ter ido tomar satisfação por ele estar olhando ela. Ele não respondeu nada, e ela resolveu continuar – Sou Anahí.

Alfonso: E-eu sei. – Disse, com um fio de voz. Anahí: E você é o Alberto. – Disse, tentando se fazer de simpática pra ver se o acalmava.

Alfonso: Alfonso. – Corrigiu, com a voz mais baixa ainda. Porque ela estava falando com ele? O olhar de Anahí endureceu. Quem fora a desgraçada que ela mandara ir buscar informações dele mesmo? Aquela garota era suicida, dando noticias erradas a ela?

Anahí: Isso. – Disse, sem perder a postura – Posso me sentar? – Ele assentiu freneticamente com a cabeça, os óculos escorregando na ponte do nariz. Anahí viu ele arrumar o óculos nervosamente, e respirou fundo de novo. – Interrompo?

Alfonso: Não, não, claro que não. – Disse, fechando o livro – P-posso ajudar? – Perguntou, o sangue todo concentrado nas bochechas.

Anahí: Na verdade, sim. – Disse, decidindo por ser franca – Eu soube que você é um dos melhores da turma, e... – Ele acenou, entusiasmando ela – E eu estou quase reprovando em calculo. – Entregou, como quem anuncia uma morte.

Alfonso: Sinto muito. – Disse, em um murmúrio. Anahí: Eu tenho duas semanas até a prova final, e eu pensei se... Se talvez você pudesse me ajudar. – Ele observou ela tirar o cabelo do rosto – Me ajudar a ajudar, sabe? Eu não posso repetir, de modo algum.

Alfonso parou, olhando pra frente, totalmente em choque. Anahí, Anahí de verdade, fora conversar com ele. Pedir a ajuda dele. O que significa passar algum tempo com ela. Tempo de verdade, onde ela falaria com ele, e ouviria o que ele dissesse, talvez eles até estivessem sozinhos, e quando ela estivesse estudando ele poderia olhar pra ela, escondido, é claro... Anahí não entendeu o porquê do silencio. Acompanhou o olhar dele, mas a única coisa que havia na biblioteca era uma garota do segundo ano, absorta em suas informações. Anahí mal conhecia.

Anahí: Ela está te incomodando? – Perguntou, prontamente, e ele a encarou – Porque eu posso fazer ela sair daqui. – Ofereceu, se virando pra olhar direito quem era a criatura.

Alfonso: Não, não. – Disse, se recuperando, tentando recuperar o rumo – Claro que posso. Quando você quiser, claro que sim. Anahí abriu seu sorriso mais deslumbrante em resposta – quase matou o pobre do coração. Foi toda meiga e toda doce enquanto combinava os dias e os horários com ele. Ela teve que se esforçar pra não revirar os olhos ao combinarem de começar no dia seguinte.

Foi simpática ao ponto de deixá-lo levar ela até o vestiário. Só foi até ai. O idiota saiu todo apressado, deixando a mochila cair e apanhando-a com um tropeço. O sorriso deslumbrante sumiu quando ela apareceu na escadaria da escada, se voltando pra infeliz que lhe passara a informação. Ela só reconhecia o menino como “garoto Herrera”, daí pedira o nome, e a idiota dera errado.

Anahí: Você. – Disse, se aproximando. Todas se levantaram – A partir de hoje, você se senta no fim da escada. Está desconvidada do brunch de domingo, e de todos os outros, assim como de todas as festas. – A menina ergueu as sobrancelhas, exasperada. Estava quase no topo da escada! Anahí não se abalou, os olhos duros, se aproximando. Uma das garotas tinha um suco na mão. Anahí apanhou, sem olhar o dono, e virou na cabeça da menina a quem se dirigia, molhando-a inteira – E agradeça por eu não expulsar você daqui. Agora suma da minha vista.

A menina foi as lagrimas. Apanhou a bolsa no chão e saiu correndo. Todas se sentaram de novo, Anahí no topo. Dulce franziu o cenho, sentada no primeiro degrau abaixo de Anahí, a sua direita.

Dulce: O garoto recusou? – Perguntou, confusa, tentando interpretar a situação. Anahí: Não. – Suspirou, passando as mãos nos cabelos – Ele aceitou.

E havia começado.

Skyfall (Efeito Borboleta - Livro 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora